O OUTRO LADO DA MOEDA
Focus vê Selic a 12% e IPCA quase na meta
Publicado em 03/07/2023 às 14:12
A Pesquisa Focus, colhida até 6ª feira, 30 de junho, junto a mais de 150 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa e divulgada hoje pelo Banco Central, mostrou nova queda das projeções. Com o cenário mais benigno para a inflação, que caiu de 5,06% para 4,98% em dezembro - estava em 5,69% há um mês e as respostas dos últimos cinco dias úteis apontam para 4,92%, quase no teto da meta de 2023, que é de 4,75%. O mais notável é que o mercado vê queda da Selic de 13,75% para 13,50% em agosto e para 12% em dezembro (12,25% na semana anterior e 12,50% há um mês).
Um dos fatores que ajudaram a reduzir o cenário da inflação, que continuou dentro do teto das metas de 2024 (3,00+ 1,50% de tolerância =4,50% e a previsão caiu de 3,98% para 3,92% (3,90% nos últimos 5 dias úteis); para 2025 (4,50%, com previsão caindo de 3,80% para 3,60%; para 2026 (com a nova meta e teto mantidos pelo Conselho Monetário nacional em 3,00% e 4,50%, o mercado, que antes temia elevação da meta e previa 4%, há um mês, passou a projetar a maior queda, de 3,72% para 3,50%, dentro da meta.
Petrobras ajuda
Um dos fatores que ajudou a reduzir a inflação prevista para este ano foi a continuidade da política de preços da Petrobras. Na 6ª feira, 30 de junho, a estatal anunciou um reajuste de -5,26% no preço da gasolina, válido a partir do dia 1º de julho. O preço do combustível às distribuidoras sem tributos diminuiu em média R$ 0,14/litro. Deste modo, esta redução mitigará os efeitos do retorno de impostos federais (que complementa a majoração feita no começo de 2023) sobre o combustível e representa aumento de R$ 0,34 por litro.
A estatal também reajustou em -3,9%, em média, os preços do gás liquefeito de petróleo (GLP). As alterações terão seus primeiros impactos no IPCA-15 de julho e efeitos até agosto, justamente os dois meses que tiveram maior deflação em 2022, com a redução temporária e eleitoreira (até 31 de dezembro de 2022) dos impostos federais e estaduais (ICMS) dos combustíveis, à frente a gasolina, item de maior peso no IPCA, energia elétrica e comunicações.
Na Pesquisa Focus o mercado está projetando queda de 0,10% no IPCA de junho (-0,09% na semana anterior); alta de 0,26% no IPCA de julho (0,21% nos últimos cinco dias úteis e 0,30% na semana anterior); e aumento de 0,25% em agosto (0,28% nos últimos 5 dias e 0,23% há quatro semanas).
A LCA Consultores fez simulações sobre o impacto dos novos preços da gasolina e do GLP (já com a recomposição dos impostos) e projeta queda ainda maior no IPCA de junho (-0,13) e alta de 0,29% no IPCA de julho.
As previsões da LCA são de que a gasolina vai impactar em 1,20% o IPCA 15 de julho, mas o botijão de GLP terá queda de 2,90%. No índice cheio de julho, a gasolina subiria 2,30% e GLP cairia 2,00%.
Já para agosto, a gasolina subiria 1,33% no IPCA-15 e o GLP teria queda de 0,50%. Mas no IPCA cheio de agosto a gasolina teria impacto altista de apenas 0,35%, contra alta de 1,00% no gás de cozinha em botijão.
Como o IPCA acumulado em 12 meses está em 3,94% e a alta de junho de 2022 foi de 0,67%, se as previsões da Focus estiveram corretas, a taxa acumulada em 12 meses cairia para 3,14% (o IBGE divulga o IPCA no dia 11 de julho). Isso levaria o juro real da Selic (13,75%) a subir para 10,28%! No fim do ano passado ela estava em 10%. Na projeção da LCA o IPCA em 12 meses cairia a 3,11% e o juro real bateria em 10,31%!
Mercado de olho em Brasília
A continuidade da redução das expectativas em relação à inflação será relevante para a flexibilização dos juros. Assim, as atenções dos analistas e investidores estão voltadas para Brasília, nas negociações na Câmara Federal em torno de projetos relevantes para a política fiscal, como as mudanças do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), a votação das mudanças do arcabouço fiscal, feitas no Senado, que precisam ser votadas agora pela Câmara e o início da tramitação da Proposta de Emenda Constitucional da reforma tributária.
A tramitação precisa ser rápida porque o Congresso entrará em recesso de 18 a 31 de julho.
Banco Central na berlinda
Na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado será realizada amanhã, 3ª feira, a sabatina dos novos indicados à diretoria do Banco Central. Os nomeados são Gabriel Galípolo, para a diretoria de Política Monetária, e Ailton Aquino para a diretoria de fiscalização. Os dois prometem ampliar os debates sobre a conveniência da redução dos juros. Isso motivou o mercado a já projetar a redução maior da Selic até dezembro na Pesquisa Focus.
Por sinal, a ausência de um diretor específico para a Política Monetária está cobrando seu preço. Desde a saída de Bruno Serra, em 14 de março (seu mandato expirou em 28 de fevereiro), o cargo vem sendo exercido por Diogo Guillen, diretor de Política Econômica e uma das vozes mais radicais contra a redução dos juros, pois projetava repiques bem maiores da inflação este ano.
Pois o resultado fiscal consolidado do setor público brasileiro em maio mostrou que, além dos gastos extras de R$ 15,7 bilhões do pagamento de precatórios, que tinha sido adiado pelo governo Bolsonaro em dezembro de 2021, para abrir espaço de gastos no ano eleitoral de 2022 (com as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia houve uma escalada da inflação, sobretudo em combustíveis, o que ampliou fortemente a arrecadação (gerando espaço para cortes nos impostos, em fins de junho de 2022, sem gerar tanto comprometimento fiscal), o Banco Central também contribuiu para o déficit de R$ 50,2 bilhões em maio.
Suas perdas em operações cambiais somaram R$ 3 bilhões em maio deste ano (em maio do ano passado houve ganhos de R$ 26,7 bilhões). No mês anterior deu-se o inverso: ganhos de R$ 14,2 bilhões em abril de 2023 e perda de R$ 15,4 bilhões em abril de 2022.