O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB de 1,9% aponta alta até 2,5% em 2023

Publicado em 01/06/2023 às 15:10

Alterado em 01/06/2023 às 15:10

Com alta recorde de 21,6% na agropecuária (só perde para os 23,4% de 1996), liderada pelos +24,7% da soja, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9% no 1º trimestre sobre o 4º período de 2022. O setor de serviços (que representa 68,2% do PIB) avançou 0,6%, enquanto a Indústria teve ligeira queda (-0,1%), puxada pela retração de 0,6% na Indústria de Transformação e de 0,8% na Construção, após o pico no ano eleitoral de 2022. Em 12 meses, o PIB cresceu 3,3%, o que coloca o Brasil entre as cinco maiores altas de PIB no ano.

Os números superaram as previsões mais otimistas do mercado (1,6%, da LCA Consultores, e 1,4% do Itaú) e projetam crescimento do PIB de 2023 acima dos 2%, já previstos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. E pode se aproximar dos 2,5%, se o Banco Central baixar os juros em agosto. Basta o PIB crescer 5,88% nos próximos três trimestres para a taxa do ano superar 2,5%. O carrego estatístico das pesquisas de comércio e serviços do IBGE já garante crescimento de 0,3% neste 2º trimestre. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, que controla o IBGE, já prevê alta de 2,3% no PIB de 2023.

Na forte expansão da agropecuária, em que destoou a queda de 7,5% na produção de arroz, devido à estiagem no Rio Grande do Sul, o IBGE destacou o forte ganho de produtividade da soja (24,7%) e de 8,8% no milho. Isso derruba a choradeira dos empresários do agro de que os custos dos insumos subiram mais do que os preços de referência das commodities: só diminuiu o lucro projetado, pois o valor dos insumos é bem inferior ao total das safras.

Pela ótica da despesa, na métrica trimestral, a Despesa de Consumo das Famílias (0,2%) e a Despesa de Consumo do Governo (0,3%) mostraram avanços, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo (-3,4%) recuou. No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços caíram 0,4%, contra queda de 7,1% nas Importações de Bens e Serviços, frente ao 4º trimestre.

Macaque in the trees
. (Foto: IBGE)


Serviço rouba posição da indústria

No momento em que o governo discute a retomada da indústria, sobretudo a de Transformação, que precisa passar pela transição energética da descarbonização, vale situar que neste 3º milênio a indústria como um todo encolheu sua participação na formação do Produto Interno Bruto em relação ao segmento de serviços. E não há mais como inverter os papéis. Até na China.

Se a Indústria de Transformação, com queda de 0,6%, puxou o resultado trimestral do segmento para baixo, junto com a retração de 0,8% na Construção, após o “boom” de obras eleitorais em 2022, outras atividades tiveram desempenhos positivos, como as Indústrias Extrativas, que cresceram 2,3%, com maior extração de petróleo e gás e minérios de ferro, e Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, que avançaram 1,7%.

O encolhimento da participação da Indústria, segundo a série do IBGE, iniciada em 2000 (quando era de 26,7% e a Indústria de Transformação respondia por 15,3% do PIB, deu lugar ao crescimento do setor de serviços, que respondia, no começo do século 21, por 67,7%. O comércio, um dos setores mais dinâmicos da divisão dos serviços nas Contas Nacionais do IBGE, representava somente 8,1%. No ano passado, contudo, a fatia da Indústria em Geral encolheu para 23,9%, cabendo 12,9% à Indústria de Transformação.

Mas o segmento de Serviços passou a representar 68,2% no PIB em 2022, sendo que o Comércio, com peso de 14,2%, superou os 12,9% da Indústria de Transformação na formação do PIB. A última vez que a Indústria de Transformação superou o Comércio foi em 2012, quando a Indústria manufatureira representava 13,9% do PIB e o Comércio, 12,9%.

Macaque in the trees
. (Foto: OLM)

Prefeitos preferem shoppings

Entende-se assim por que prefeitos preferem atrair shoppings para seus municípios em vez de indústrias. Diante da crescente automação industrial, o Comércio está gerando mais empregos e renda que a maioria das indústrias.

No setor de serviços que há muito tempo se tornou o carro-chefe da Economia – repetindo o que se passa nas mais modernas economias do mundo - houve crescimento em Transporte, armazenagem e correio (1,2%), por influência da movimentação da safra de grãos, Intermediação financeira e seguros (1,2%) e Administração, saúde e educação pública (0,5%). Também subiram o Comércio (0,3%) e as Atividades imobiliárias (0,3%). Estiveram em queda Informação e comunicação (-1,4%), após forte alta no 4º trimestre, e em Outros serviços (-0,5%).

Juros travam o consumo

Na comparação com o 1º trimestre de 2022, a Despesa de Consumo das Famílias registrou alta de 3,5%, resultado influenciado pelo aumento na massa salarial real, no aumento do crédito e a inflação em patamares menores. A Despesa de Consumo do Governo também apresentou elevação (1,2%).

Além disso, a variação de estoques cresceu 24% em termos nominais, nesse 1º trimestre contra o mesmo período de 2022, também contribuindo para o crescimento. Em parte, isso veio da indústria automobilística que produziu mais em novembro e dezembro, porque a legislação ambiental proibiu a fabricação de motores para carros e caminhões em 2023.

A Formação Bruta de Capital Fixo avançou 0,8% no primeiro trimestre de 2023. O crescimento das importações de bens de capital e o desempenho positivo da construção suplantaram a queda na produção interna de bens de capital. Mas o IBGE apontou um dado positivo nos investimentos da indústria, do comércio e dos serviços em geral: houve crescimento na comparação com igual período de 2022 na importação de bens de capital. De outra parte, o desempenho da construção e desenvolvimento de softwares suplantaram a queda na produção interna de bens de capital. Isso prenuncia aumento de produtividade.

Outro dado positivo foi que a inflação acumulada do IPCA em 12 meses no 1º trimestre (5,3%) foi menos da metade dos 10,7% registrados no 1º trimestre de 2022. Com a melhora no mercado de trabalho (crescimento da massa salarial real de 9,6% no intervalo de 12 meses, houve empuxo para as famílias reequilibrarem os orçamentos. Mas o crescimento nominal de 16,7% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro nacional às pessoas físicas, indica que continua elevado e a juros altíssimos o endividamento das famílias.


2º semestre com novo ambiente

Após o susto do governo Lula na MP da reorganização ministerial, quando o corpo mole do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para votar a medida no último dia de prazo, temperada por alta dose de blefe para liberar verbas do Tesouro a emendas parlamentares (enquanto o governo contingenciava R$ 1,7 bilhão do Orçamento Geral da União para cumprir o teto, igual quantia era liberada a deputados e senadores, o que garantiu a aprovação por 337 votos contra 125), o governo pode, sem dúvida, respirar melhor no 2º semestre.

Sobretudo se a apreciação das medidas enviadas pelo governo ao Congresso sair da órbita preferencial de Arthur Lira. Embora se declare aliado do governo, o deputado alagoano, reeleito com maioria absoluta na Câmara, tem abusado de fazer chantagens contra o desarticulado governo, sem maioria na Casa, na tentativa de reeditar, na prática, o poder que tinha com o Orçamento Secreto de R$ 19 bilhões, derrubado pelo Supremo Tribunal Federal.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que quer restabelecer o rito constitucional de apreciação das medidas governamentais - Lira estica e manipula prazos a seu bel prazer, acuando o governo e deixando o Senado sem tempo para apreciar os temas, como na reformulação ministerial, que o Senado vota “na última volta do ponteiro”, como diriam os locutores esportivos - já anunciou que votará o Arcabouço Fiscal em 12 de junho.

Resta ver como será a tramitação da Reforma Tributária. Embora resistindo às pressões de Arthur Lira, o presidente Lula deve ter percebido que, antes de tentar patrocinar a Paz entre Rússia e Ucrânia (que traria benefícios ao Brasil e a todo mundo), com a redução dos preços do petróleo, combustíveis, fertilizantes, alimentos e, por conseguinte, levando os Banco Centrais a afrouxarem a política monetária e os juros, cabe cuidar do seu quintal. De reassumir o protagonismo na política interna (hoje dividida com Lira), sem priorizar as articulações internacionais, onde cometeu escorregadelas verbais.

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