O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Petrobras mantém IPCA abaixo de 5% em julho

Publicado em 17/05/2023 às 13:27

Alterado em 17/05/2023 às 23:49

A nova política de reajustes dos combustíveis da Petrobras, com a redução, nas refinarias, dos preços da gasolina (-12,61%), diesel (-12,75%), e GLP (-21,3%), vai ajudar a segurar a inflação acumulada em 12 meses de maio e junho (já com as novas alíquotas do ICMS) na casa dos 4% e evitar que em julho (quando a taxa estimada de 0,28% vai substituir o índice negativo de 0,68% de 2022), a taxa acumulada do IPCA supere os 5%, ficando em 4,915%.

Os cálculos foram feitos em cima das previsões da LCA Consultores que levam em conta o impacto, no IPCA de maio e junho, dos novos preços e já considera, no caso da gasolina, os efeitos altistas da mudança de alíquota de ICMS prevista para junho. Nas projeções da LCA, o IPCA de maio ficaria em 0,42% (0,47% em 2022); a taxa seria de 0,46% em junho (0,67% em 2022); e 0,28% em julho, mês em que o IPCA foi negativo em 0,68% no ano passado, com a forte redução temporária de impostos no fim de junho.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central vem operando com muita cautela na administração da taxa Selic, mantida em 13,75% desde 3 de agosto de 2022, porque teme repique inflacionário no 3º trimestre, quando o corte temporário e eleitoreiro (até 31 de dezembro) dos impostos em combustíveis, energia elétrica e comunicações, provocou deflação de 1,32% no período, com queda de 0,36% em agosto e -0,29% em setembro.

A LCA lembra que “por ora, o quadro externo é de queda das cotações do petróleo, o que permitiu à Petrobras anunciar um reajuste de -12,61% no preço da gasolina e -12,75% no preço do diesel nas refinarias, válidos a partir de amanhã (17/mai). Os preços dos combustíveis às distribuidoras sem tributos diminuíram, respectivamente, em média R$ 0,40/litro e R$ 0,44/litro. Houve também redução no GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) - conhecido como gás de cozinha - de R$ 8,97 por botijão de 13 quilos, que reflete uma queda de 21,3%.

Para todos, o reajuste é válido a partir de hoje e terá seu primeiro impacto no IPCA de maio. Importante destacar que a evolução presente na tabela abaixo, no caso da gasolina, já mescla este desconto com os efeitos altistas da mudança de alíquota de ICMS prevista para junho”:

 

Macaque in the trees
. (Foto: OLM)
  Outras incertezas

A necessidade de recomposição dos impostos nos preços administrados causava dupla incerteza: 1 - do seu impacto inflacionário - o temor era tal que o governo Lula adiou a reoneração, de 1º de janeiro para março. A cautela do governo recompor a tributação com alíquotas inferiores e de forma escalonada, manteve a redução da taxa em 12 meses do IPCA até 4,18% em abril; 2 – o impacto fiscal - a reoneração dos impostos recompôs, ainda que parcialmente, a arrecadação da União e dos Estados (e municípios), que têm participação no ICMS recolhidos pelos estados. E o quadro de incerteza fiscal pode ser mais definido com a tramitação (e aprovação) do novo arcabouço fiscal.

Se as incertezas inflacionárias e fiscais vão se esclarecendo, os indicadores da economia no 1º trimestre, com resultados mais fortes que o previsto no comércio e na indústria e, sobretudo, no mercado de trabalho, mostram que a economia está mais forte e resiliente do que o previsto. É verdade que os impactos da supersafra agrícola, com a colheita de grãos, sobretudo da soja e milho, concentrada nos primeiros três meses do ano, impacta para cima todas as atividades envolvidas no agronegócio.

O governo Lula quer aproveitar o embalo do arranque da economia no trimestre (depois de queda de 0,2% no PIB do 4º trimestre), para fazer a roda da economia acelerar). Já o Banco Central pensa diferente e mantém o freio de mão puxado. A questão é que o projeto do arcabouço fiscal lembra a filosofia do grande time do Santos nos tempos de Pelé: “a melhor defesa é o ataque”. Ou seja, o círculo virtuoso da economia é mais positivo com o crescimento, que ajuda a gerar emprego e (e redistribuir) renda.

Ressalvas do Itaú

O Departamento de Estudos Macroeconômicos do Itaú BBA, chefiado por Mário Mesquita, que já participou do Copom, como diretor de Política Monetária, reproduz bem a lógica ortodoxa e defensiva do colegiado, ao analisar os resultados do comércio e dos serviços em março.

“Em março, a receita real do setor de serviços expandiu 0,9%, com ajuste sazonal, sobre fevereiro (+6,3% sobre março de 2022), acima da mediana das expectativas de mercado (0,5% m/m e 5,1% a/a) e da nossa estimativa (0,7% m/m e 5,3% a/a). No 1º trimestre, a receita real do setor de serviços foi impulsionada principalmente pelo agronegócio e pela resiliência do mercado de trabalho. Esperamos uma desaceleração gradual do setor nos próximos meses em meio ao impacto defasado da política monetária contracionista”.

“Os números positivos das vendas do varejo no 1T23 mostraram certa resiliência da atividade econômica no período. O mercado de trabalho mais forte do que o esperado e o estímulo fiscal apoiaram os gastos das famílias. Apesar disso, esperamos alguma desaceleração nas vendas no varejo nos próximos meses em meio aos efeitos defasados da política monetária”, diz o Itaú.

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