O OUTRO LADO DA MOEDA
Focus mostra ancoragem do IPCA
Publicado em 08/05/2023 às 17:39
Alterado em 08/05/2023 às 18:58
O Comitê de Política Monetária do Banco Central costuma frisar que o horizonte da política monetária fica mais sólido e definido quando a “ancoragem das expectativas” referentes à inflação futura fica dentro dos marcos das metas de inflação. Pois os indicadores da Pesquisa Focus, que o Banco Central realiza semanalmente, com respostas até a última 6ª feira e divulgada hoje, 8 de maio, mostra que o mercado já ancora a inflação de 2024 e 2025 dentro da meta.
Para 2024, a projeção é de que o IPCA ficará na faixa de 4,16% a 4,20% (resposta dos últimos 5 dias úteis de 109 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisas). A meta de 2024 é de 3,00%, com tolerância de 1,50 ponto percentual. Para 2025, a meta é igual e o mercado aponta IPCA de 4%, nível repetido para 2026. O único ano em que as expectativas seguem acima de meta é o de 2023: 3,25 de meta + 1,50% de tolerância = 4,75% e o mercado prevê IPCA de 6,02% (6,01% nos últimos 5 dias).
A diferença vem da expectativa dos preços administrados, em processo de recomposição dos cortes de impostos efetuados por Paulo Guedes em junho de 2022, nos combustíveis, energia elétrica e comunicações, que derrubaram o IPCA da faixa de 11% para 5,79%. O mercado apostava na Focus uma alta de 10,70% a 10,80% (últimos 5 dias) para os preços administrados deste ano – embora o dólar ajude a frear o ímpeto dos reajustes dos combustíveis, em baixa no mundo, há ainda pressões em itens corrigidos pela inflação de 2022, como os planos de saúde, remédios, além de pedágios e tarifas em geral.
IGPs e combustíveis em queda
Os dados do IGP-D1 de abril divulgados hoje pela FGV mostram a continuidade da desinflação, sobretudo dos alimentos no atacado. O IGP-DI é um índice composto por preços no atacado (agrícolas e industriais) que respondem por 60% do índice, preços ao consumidor (30%) e e custos da construção civil. Depois de cair 0,34% em março, o IGP-DI aprofundou o tombo em abril para -1.01%. Com Isso, a taxa acumulada no ano ficou negativa em 1,26% e em -2,57% nos últimos 12 meses.
A baixa é puxada pelos preços no atacado, que ampliaram o tombo de 0,71% em março para 1,56%. Os produtos agropecuários tiveram deflação de 3,01% após 1,02% em março, puxada por quedas de quase 10% em soja e milho. Mas a carne, que vinha em queda, voltou a subir, com as perspectivas de mais exportação para a china. Outro grupo renitente na alta é o de hortaliças e legumes. Bens industriais caíram 0,99%, após queda de 0,58% em março.
Os preços ao consumidor seguiram aumentando em desaceleração, de 0,754% em março para 0,50% em abril. Um dos itens em queda foi a gasolina (-0,38%, após alta de 8,66% em março, quando houve reoneração de impostos). Do mesmo modo após alta de 3,3% em março, devido às reonerações tributárias, a tarifa de energia elétrica residencial subiu apenas 0,30% em abril. O que falta ao Copom se convencer de que a inflação está ancorada e baixar a Selic? Seria a indicação de Gabriel Galipolo, atual secretário executivo da Fazenda, para a diretoria de Política Monetária do Banco Central?
Ajuda da Petrobras
A Petrobras ajudou a baixar os custos dos combustíveis, reduções substanciais nas refinarias, que atenuaram o impacto da reoneração. Em 100 dias, o preço do diesel da Petrobras nas refinarias caiu 23%; a gasolina baixou em 4%; e o gás natural em 19%. A redução segue o compromisso da diretoria da companhia de, em alternativa à rigidez do PPI, praticar preços em equilíbrio com o mercado, que garantam a competitividade da empresa sem perder a participação de mercado em cada área de influência das refinarias.
Rumo ao hidrogênio verde
Na última 6ª feira, 5 de maio de 2023, o Brasil deu mais um passo decisivo para avançar na produção do hidrogênio renovável (H2R) ou “hidrogênio verde”, o combustível do futuro, que pretende liderar a transição energética e a descarbonização dos setores produtivos e se tornar uma importante fonte de divisas na exportação. Para isso, as principais entidades nacionais de energia eólica (ABEEólica), solar (Absolar), e biogás (Abiogás) assinaram com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) acordo de cooperação, chamado Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável.
O Pacto tem seis objetivos centrais: (i) contribuir para a definição de um arcabouço regulatório; (ii) desenvolver o mercado de aplicação de hidrogênio renovável; (iii) promover o desenvolvimento socioeconômico, por meio da economia do hidrogênio renovável; (iv) promover o hidrogênio de origem renovável no país; (v) disseminar as oportunidades de hidrogênio renovável aos seus associados e à sociedade brasileira; e (vi) aumentar a competitividade da produção e uso do hidrogênio renovável.
A Europa já domina a tecnologia para produção do H2R e deve ser o principal mercado de exportação do hidrogênio verde, que não pode fazer uso de combustíveis fósseis em nenhuma fase de produção. O uso do H2R deve diminuir o efeito estufa de setores de difícil descarbonização, como a produção de fertilizantes nitrogenados, mineração, siderurgia, produção de metanol, de aço, transporte aéreo, marítimo e terrestre de veículos pesados.
100 dias: Petrobras acelera descarbonização
A diretoria comandada por Jean Paul Prates, que completou 100 dias no dia 6 de maio, já firmou parceria com a Equinor, estatal norueguesa do petróleo e gás para a transferência de tecnologia visando acelerar o processo de descarbonização da produção de petróleo nas bacias marítimas. Para isso, a empresa pretende maximizar a retirada de CO2 do processo de produção da Bacia de Campos, a pioneira na exploração de petróleo na plataforma marítima do país, com a revitalização da produção local mediante a substituição de dezenas de plataformas que operavam na área por navios tipo FPSO (FPSO (sistemas flutuantes de produção, armazenagem e transferência de petróleo).
Os FPSOs operam com emissão quase zero de CO2 e vão interligar mais de 100 poços na área, em cinco anos, num investimento de US$ 18 bilhões. A meta é alcançar, em 2027, a produção dos atuais 560 mil barris dias de óleo equivalente para 900 mil barris) na Bacia de Campos, com a entrada em produção de três novos sistemas e investimento em projetos complementares em plataformas existentes.
Anita Garibaldi reativa Marlim
O 1º grande movimento de revitalização da Bacia de Campos teve início no último fim de semana com as operações do FPSO Anita Garibaldi no Campo de Marlim. Marlim, que se conecta com o Campo de Voador, formando um único projeto, foi o maior campo de produção de petróleo do país até a descoberta dos poços gigantescos do pré-sal na Bacia de Santos. (a Petrobras também descobriu óleo em grande quantidade no pré-sal da Bacia de Campos, o que vai maximizar a área pioneira da plataforma marítima).
Graças à quantidade e à homogeneidade do campo, Marlim produziu o 1º óleo brasileiro considerado “commoditty”, com contratos negociados em bolsa de futuros. Uma opção vital no final do século passado, quando o país estava endividado e não era autossuficiente em petróleo (só em 2006). Ainda não há autonomia em combustíveis (sobretudo diesel e GLP) mas vamos chegar lá.
O Anita Garibaldi, com capacidade de produção diária de até 70 mil barris de óleo e de processar 4 milhões de m³ de gás, vai substituir cinco plataformas, em fase de descomissionamento (P-18, P-19, P-20, P-33 e P-35). O fator de descarbonização será ampliado em breve com a entrada em operação do FPSO Anna Nery, também em Marlim, aposentando quatro plataformas (P-18, P-26, P-35 e P-37), com produção conjunta de até 150 mil barris por dia (bpd). Com o novo sistema, a vida útil de Marlim será estendida por mais 25 anos.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que estava no Ana Neri comemorando a entrada em operação do FPSO, como marco de revitalização da Bacia de Campos e das 50 realizações nos primeiros 100 dias de gestão na companhia, destacou que ““Esse é o maior projeto do mundo em recuperação de ativos maduros da indústria offshore. Por meio dele, vamos ampliar a produção, manter empregos e abrir uma importante frente de aprendizado e conhecimento para outros projetos similares em todo o Brasil”.
Para completar a revitalização, um 3º FPSO será instalado este ano mais ao norte, na extensão da Bacia de Campos para o Espírito Santo: o Maria Quitéria, com capacidade de 100 mil bpd, vai operar no complexo do Parque das Baleias. Em breve, após aval da ANP, o Campo de Búzios, o de maior produção no pré-sal da Bacia de Santos (cerca de 757 mil barris de óleo e 23 milhões de m³ de gás natural, mais que toda a Bacia de Campos) ganhará o 5º módulo, para produzir 150 mil barris por dia de óleo e processar 6 milhões de m3 de gás por dia: o FPSO Almirante Barroso, que será interligado a dez poços. Mais 13 plataformas, FPSO em maioria, entram em produção até 2027.