
O OUTRO LADO DA MOEDA
Quaest: Lula e Bolsonaro perdem credibilidade
Publicado em 15/03/2023 às 14:27
O Banco Central realiza, há mais de duas décadas, a pesquisa semanal Focus. Nela, ausculta até todas as 6ª feiras, a opinião de mais de uma centena de instituições financeiras, consultorias e Institutos de Pesquisa sobre indicadores macroeconômicos para o ano em curso e os três seguintes. Na 2ª feira o BC divulga os resultados sobre inflação (IPCA, IGP e preços administrados, incluindo as previsões dos próximos três meses e 12 meses adiante), PIB, taxa Selic e Câmbio, além das contas externas (Conta Corrente, balança comercial e investimentos) e ainda previsões sobre o desemprego.
O Instituto Quaest, que fez pesquisas eleitorais em convênio com a Genial Investimentos, aplicou uma pesquisa junto a gestores e economistas de 82 fundos de investimento sobre alguns temas da economia. Pelo teor das perguntas, além de ter sido elaborada antes da crise bancária nos Estados Unidos, e que se espalha pela Europa (com o Crédit Suisse derretendo), me pareceu ser pesquisa feita para valorizar a posição de independência do Banco Central e a política monetária de Roberto Campos Neto.
Mas 91% dos entrevistados consideram que há fortes chances de queda dos juros básicos (a taxa Selic está em 13,75% ao ano) se “for apresentando um Arcabouço Fiscal crível” [o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que ele pretende zerar em 2024 o déficit primário (receita menos despesas, sem considerar os juros do giro da dívida pública), que seria de R$ 100 bilhões este ano – a PEC da Transição autorizou rombo de R$ 231 bilhões].
Outros 84% creditam à aprovação da reforma tributária um estímulo à baixa dos juros e 17% consideram que os sinais de recessão podem levar o Banco Central a sair da inércia (situação que pode ter mudado depois dos problemas no mercado financeiro global).
Só que apenas 33% dos entrevistados consideram “Alta” a capacidade do governo Lula aprovar reformas no Congresso. Para 47% as chances são regulares e só 20% concordam com a advertência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que as chances de articulação são baixas.
Bolsonaro vence Lula em credibilidade
Os analistas e economistas do mercado, que apostaram maciçamente em Jair Bolsonaro, consideram que a política econômica “está errada” (segundo 98% das respostas). Só um (2%) aprovou a direção imposta pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, menos valorizado no cardápio da pesquisa que Roberto Campos Neto. Ao fim de uma lista de 13 nomes de políticos, ministros ou gestores públicos, para os quais se perguntava se confiava Muito, Mais ou Menos ou Pouco/Nada, RCN emergiu como “campeão” de confiabilidade, com 68% de “Muito”, 30% de “Mais ou Menos” e apenas 2% de “Pouco/Nada”.
O 2º melhor avaliado foi o governador eleito de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que recebeu 41% de “Muito” e 48% de “mais ou Menos”, superando o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema, que levou 40% de “Muitos” e 44% de “Mais ou Menos”
O dado mais surpreendente da pesquisa - que aponta 73% de risco de recessão, e 78% de respostas indicando que a situação da economia tende a piorar, com as altas taxas de juros, (a mesma Quaest aponta que, em pesquisa junto à opinião pública, a expectativa de melhora por 62% das respostas – apenas 6% na pesquisa junto ao mercado) - é que o presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro estão com baixa aprovação no mercado (1%), mas na média, Bolsonaro segue à frente, apesar de escândalos, como o das joias.
A pior avaliação (98%) no universo pesquisado é da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), a mais ferrenha crítica de Roberto Campos Neto e da independência do Banco Central perante o Executivo. A ela faz companhia, com igual escore, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem só 1% de confiança e 33% regular.
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Na Petrobras, mudança em dividendos e PPI
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, cuja efetivação será referendada na assembleia geral ordinária (AGO) da companhia em 27 de abril, não caiu nas graças do mercado por sua disposição de estancar a farra de distribuição de dividendos da estatal (para reinvestimentos em transição energética) e por pretender rever o sistema de Paridade de Preços Internacional (PPI), dando mais peso ao petróleo nacional, extraído a baixo custo no pré-sal.
Na pesquisa, Prates tem 15% de avaliação “Mais ou Menos” e 85% “Pouco/Nada”. E o motivo é que 91% apostam que vai haver mudança na farta distribuição de dividendos, enquanto 81% acreditam que vai haver mudança no PPI, ambas as alterações num prazo máximo de seis meses.
Multa do Carf foi alerta
Quando aos dividendos, a multa de R$ 17,2 bilhões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) pelo não recolhimento de Cide, PIS/Cofins sobre os pagamentos de afretamentos de equipamentos de exploração no exterior entre 2010 e 2013, mostra que era prudente, em vez de festejar, como fazem as cigarras, ser precavida como fazem as formigas e guardar reservas para investimentos e contingências fiscais e/ou trabalhistas.
Mas a direção da Petrobras no governo Bolsonaro chegou ao cúmulo de entregar mais de 100% do lucro de 2022 aos acionistas.
Tudo porque isso arrecadaria mais dividendos diretamente ao Tesouro Nacional (dono de 50,3% das ações ordinárias) e indiretamente via sistema BNDES, dono de 18,5% das ações preferenciais, que destinava 60% do lucro ao TN.
Com juros altos, inadimplência avança
O número de inadimplentes no país voltou a crescer em fevereiro de 2023 e chegou 65,45 milhões de brasileiros. Segundo levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) quatro em cada dez brasileiros adultos (40,28%) estavam negativados em fevereiro. Em um ano aumentou em 7,49% o número de consumidores com contas atrasadas. De janeiro para fevereiro, subiu 0,47%.