O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Balanços de bancos com ou sem Americanas?

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Publicado em 30/01/2023 às 14:00

Alterado em 30/01/2023 às 16:08

Gilberto Menezes Côrtes JB

O Santander Brasil inaugura dia 2 de fevereiro a temporada dos balanços de 2022. Nem os bons fluidos de Iemanjá podem mudar o destino da filial brasileira que sempre garantiu os maiores lucros na corporação mundial de Ana Botin. Mesmo antes do efeito da Recuperação Judicial das Americanas (o Santander é credor de R$ 3,653 bilhões), as perspectivas do banco não eram boas. E pioraram para todos os credores (financeiros e fornecedores) com o calote judicial. Nos balanços é possível que o reforço das provisões para devedores duvidosos fique para o 1º trimestre de 2023, quando a empresa revelou, em 11 de janeiro, “inconsistências contábeis”. O pior ainda está por vir.

A Genial Investimentos acredita que o banco só irá reforçar para valer as provisões para as perdas com as Americanas no balanço referente ao 1º trimestre de 2023. Com o lucro do 4º trimestre de 2022, mantendo a tendência de queda, a Genial estima em R$ 13,5 bilhões, baixa de 11% frente aos R$ 15,1 bilhões de 2021. Mas com RJ a situação que já era desconfortável, pelo aumento geral da inadimplência e a margem de juros mais estreita em Tesouraria, o quadro tende a piorar muito.

Na RJ, os bancos devem provisionar inicialmente no mínimo 30% da carteira com a varejista. Se algo for aprisionado no 4º trimestre, adicionando-se um imposto de renda de 45% a Genial estima provisões de R$ 603 milhões, o que levaria a um lucro de R$ 1,91 bilhão no 4º trimestre. Mas se provisionar 50%, a perda de lucros vai crescendo. No limite, com provisionamento de 100%, o banco pode reduzir o lucro a pouco mais de R$ 10 bilhões, uma redução de 16%.

Atenção ao calendário

O Santander pode mostrar, na 5ª feira, o mapa da mina aos demais bancos e grandes credores das Americanas. O Itaú, que é credor de R$ 2,7 bilhões, revela seus resultados de 2022 dia 7 de fevereiro. No dia 8 de fevereiro é a vez do Banco Votorantim (BV), parceria que divide com o Banco do Brasil, apresentar seus números de 2022 e confirmar a posição credora nas Americanas. No Quadro Geral de Credores, apresentado pelas Americanas na RJ aprovada dia 19 de janeiro, o BV surge como credor de R$ 3,3 bilhões. Mas em nota divulgada ao mercado, o BV garante que posição efetiva é de apenas R$ 306 milhões, porque resgatou antes da RJ mais de R$ 3 bilhões em Cédulas de Crédito Bancário, que as Americanas apresentou no QGC.

O Bradesco, que lidera a lista, com R$ 4,5 bilhões, divulga os resultados no dia 9 de fevereiro. Dia 13 virão à luz os resultados do Banco do Brasil, credor de R$ 1,9 bilhão, e do BRG-Pactual, que tem créditos de R$ 3,4 bilhões. É preciso ver agora qual será a empresa fornecedora que irá abrir a temporada de “disclousure” de suas operações com as Americanas.


XP e o efeito Americanas

Pelo sim pelo não, a XP Asset, um dos braços do grupo XP Investimentos, que passou a ter banco, com a compra do Modal+ no ano passado, gastou R$ 110 para ter posição importante no capital da One7, empresa especializada em análise de crédito, sobretudo recebimento de recebíveis para acelerar áreas de tecnologia, infraestrutura e outras frentes. João Paulo Fiuza e Everaldo Moreira continuam como sócios majoritários, respectivamente no comando da diretoria e do Conselho de Administração. O foco será no crédito para micro, pequenas e médias empresas.



Focus: sobem IPCA e Selic

A última Pesquisa Focus do Banco Central junto a 143 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa acentuou o pessimismo geral quanto a inflação, puxada pela retomada dos preços administrados, que baixaram artificialmente no governo Bolsonaro, com a redução de impostos com fins eleitoreiros, sobretudo a gasolina. O que compromete a meta de inflação deste ano, de 3,25% mais tolerância de 1,50 ponto percentual = 4,75%.

Nas primeiras sondagens de janeiro, o mercado previa IPCA de 5,1% e alta de 6,77% nos preços administrados este ano. As previsões aumentaram, respectivamente, para 5,74$ e 8,39% na mediana da coleta encerrada 6ª feira, dia 27 de janeiro. Mas, nas respostas dos últimos cinco dias úteis, o avanço foi para 5,80% e 8,78%, respectivamente, refletindo a pressão dos governadores na reunião com o presidente Lula, na 6ª feira, para a volta de alíquotas mais elevadas do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica.

O mercado já espera aumento do IPCA de 0,55% em janeiro (0,65$ nas respostas dos cinco dias úteis) para 0,79% e 0,81 em fevereiro, quando pode haver reajustes, como os da gasolina na semana passada e as pressões em Educação, com os aumentos sazonais de matrículas e mensalidades.



Selic sem queda à vista

Embora eu comungue com a visão do economista Pérsio Arida (ex-diretor do Banco Central e ex-presidente do BNDES), de que o próximo movimento da taxa Selic, atualmente em 13,75% deve ser de baixa (sobretudo quando o Fed encerrar o ciclo de alta que vem suavizando), o mercado acredita que nada mudará nos dois dias de reunião do Comitê de Política Monetária, que na 4ª feira, 1º de fevereiro divulga comunicado. Há mais expectativa quanto ao rumo do que quanto ao patamar da Selic. O mercado prevê fechar o ano em 12,50%, mas com quedas só no 2º semestre.

Pelo andar da carruagem a meta de inflação vai estourar este ano e o quadro não seria confortável em 2024 (3,00+1,50=4,50%), pois o mercado está prevendo IPCA de 3,90% (3,94% nos últimos cinco dias úteis) e elevação de 4,20% (4,23% em cinco dias úteis) nos preços administrados. Isso com a Selic caindo para apenas 9,50% (nas previsões dos últimos cinco dias úteis as apostas aumentaram para 9,75%. Em 2025 a Selic fecharia em 8,50%, nível mantido para 2026.

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