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Queda do dólar atenua alta da energia na inflação

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O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) inicia amanhã dois dias de reuniões para decidir o rumo da política monetária e das taxas de juros, na 4ª feira. Na visão do mercado, a taxa Selic segue em 2% ao ano em 2020, mas sobe para 3% no ano que vem (o Bradesco prevê alta bem maior, para 4% e o Itaú espera 3%), diante das pressões inflacionárias de curto prazo, vindas dos alimentos a domicílio e da conta de energia. Todos esperam que o Copom avance na previsão do cenário fiscal e da política monetária para 2021.

Com o impacto da bandeira vermelha 2 nas contas de luz em dezembro, as previsões são de que o IPCA (a inflação oficial) deste mês vai ficar acima de 1,2%. O Banco Safra espera 1,31%. Como a taxa de novembro, a ser divulgada nesta 3ª feira pelo IBGE, é esperada em torno de 0,80, a inflação de 2020 pode fechar entre 4,3% e 4,5%, acima da meta de 4%. Outro fator de pressão virá do reajuste dos planos de saúde.

Mas, do outro lado da moeda, o mercado vê com otimismo o arrefecimento do dólar. A moeda subiu 43% até outubro, mas após a desaceleração de quase 10% em novembro, ao ser cotado a R$ 5,09 hoje, com nova baixa de 0,76% reduziu a alta em 12 meses a 22,9% e a de 2020 a 26,7%. O movimento deve esfriar o processo de alta dos alimentos (até porque não há muitos estoques a exportar antes da colheita da safra de grãos, em março) e de matérias primas industriais (sobretudo o minério de ferro). Assim, a inflação para 2021 foi revisada de 3,47% para 3,34% na pesquisa Focus do Banco Central.

A própria escalada da tarifa de energia deve reduzir as atividades das indústrias eletro-intensivas. Com as tarifas na bandeira verde e o dólar nas alturas, a produção industrial cresceu muito nos meses de julho, agosto, setembro e outubro. Isso vai começar a mudar este mês, quando as fábricas costumam dar férias coletivas, aproveitando o recesso de Natal e Ano Novo.

Segundo o relatório Focus, divulgado pela manhã Banco Central, na taxa de câmbio, a mediana das expectativas para o final deste ano caiu de R$/US$ 5,36 para R$/US$ 5,22 e, para o ano que vem foi reduzida de R$/US$ 5,20 para R$/US$ 5,10.

Alimentos desaceleram no atacado

Inflação no atacado começou a desacelerar, após forte alta nos últimos meses. O IGP-DI de novembro avançou 2,64%, abaixo da projeção do Bradesco (2,86%) e da variação de outubro (3,68%). A surpresa baixista foi motivada pelos preços ao produtor, cuja alta começou a perder força. A inflação dos produtos agrícolas segue pressionada por soja, milho e bovinos, mas houve desaceleração. No mesmo sentido, a inflação dos produtos industriais diminuiu neste mês, sob o efeito da deflação do minério de ferro.

Além dos dados da inflação a serem conhecidos amanhã, o Copom deve ter indicadores extraoficiais da economia. Na 5ª feira o IBGE divulga dos resultados das vendas do varejo restrito e ampliado em outubro. O Bradesco espera alta de 0,7% no mês (o Safra espera alta de 0,4%), com ajustes sazonais e de 7,9% sobre outubro de 2019, para o varejo restrito e alta de 0,5% ao mês e de 5,5% na métrica anual para o varejo ampliado (que inclui automóveis, motos, autopeças e materiais de construção). O Safra espera alta mensal de 1,3% e anual de 4,4%. Na 6ª saem os dados de serviços em outubro. Na previsão do Departamento Econômico do Bradesco, com avanço de 2,3% sobre setembro e queda de 6,8% frente a outubro de 2019. O Safra espera avanço mensal de 0,4% com queda de 8,4% na base anual.

Dissipação de choques

O Bradesco e o Safra estão vislumbrando “sinais de dissipação dos choques” que pressionaram a inflação neste 2º semestre. Embora admita que “a inflação deva seguir pressionada no curto prazo”, o Bradesco começa “a enxergar sinais preliminares de dissipação de choques, o que reforça nossa visão benigna para inflação no médio prazo. Por isso, o banco acredita que o comitê poderá retirar menções a uma possível redução adicional do juro (adaptando a comunicação ao cenário atual), mas mantendo a prescrição futura de juros estáveis adiante, sob a condição de manutenção do regime fiscal e de expectativas de inflação bem ancoradas.

Para o Safra, “embora acreditemos que a inflação deva continuar pressionada para cima no curto prazo, começamos a enxergar sinais preliminares de dissipação desses choques”. O principal foi que “o real se valorizou consideravelmente nos últimos dias – o que pode atenuar pressões sobre preços de bens transacionáveis, caso os níveis atuais do câmbio se consolidem. Segundo, coletas de alta frequência começam a mostrar desaceleração relevante de preço alimentos no atacado”.

Portanto, com os choques perdendo força, ociosidade na economia ainda muito elevada e expectativas de inflação bem ancoradas, acreditamos que a inflação seguirá abaixo da meta no horizonte relevante para política monetária e com composição benigna (núcleos em níveis baixos), diz o informe diário do Safra.