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Sonegação no Mundial e Guanabara (a história se repete?)

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Com o fim das Casas da Banha (nos anos 90) e das Sendas (anos 2000, quando foram compradas pelo Pão de Açúcar), os supermercados Mundial e Guanabara viraram as maiores redes de do Grande Rio. O Mundial tem 20 lojas (19 na capital e uma em Niterói). O Guanabara tem 26 lojas, sendo seis na Baixada (Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, e Itaguaí). Perdem em número de lojas para o Zona Sul (44 lojas), mas ganham em faturamento.

A blitz realizada nesta 4ª feira, 18 de novembro, pela Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF), na “Operação Armadeira 2”, para investigar um suposto esquema para blindar as duas empresas de fiscalizações pela Receita Federal, lembra o cerco que o então secretário de Fazenda de Leonel Brizola, Cesar Maia, armou para identificar, em 1984, sonegação de ICM das Casas da Banha, de Climério Veloso. Uma comparação entre o recolhimento de impostos X faturamento das redes é sempre uma boa pista. Um indício...

Eu trabalhava em "O Globo", na época, e fazia sozinho a coluna “Panorama Econômico”, com a colaboração de um ou outro colega da editoria de Economia, onde era subeditor (fechava páginas e o jornal na escala de fins de semana). Para fazer a coluna, circulava muito e, um dia, em conversa com Cesar Maia, ele explicou por que pôs a fiscalização da Secretaria de Fazenda em cima da empresa de Climério Veloso: “eles não podem pagar bem menos impostos do que as Sendas”, do saudoso Arthur Sendas.

O pulo do gato das Casas da Banha foi a compra de uma rede de supermercados na Amazônia, com sede em Manaus. Como na Zona Franca de Manaus muita coisa podia ser comprada com isenção de impostos, Climério passou a promover “passeio” de notas fiscais entre as lojas do Grande Rio e as de Manaus [a história se repete hoje no passeio de notas fiscais de xarope de refrigerantes e de insumos da indústria eletroeletrônica. Vale lembrar que a ZFM recebe anualmente renúncias fiscais/incentivos de R$ 25 bilhões!]. Por coincidência, um tio-avô de minha mulher, na época, era dono dos Supermercados Casas do Óleo, e ele vinha todo ano ao Rio para a convenção anual dos supermercados (Abras), no Riocentro, e conversei sobre o tema.

O tio-avô, que só operava na Amazônia, mas se tornara o maior importador/distribuidor de leite em pó da Dinamarca (e a cada vinda ao Rio trazia os deliciosos biscoitos amanteigados de lá...) me confirmou o esquema. Um dia, numa das reuniões na velha sede da Firjan, então presidida por Arthur João Donato (Estaleiros Caneco), que comandou a construção da nova sede na Avenida Graça Aranha, esquina de Santa Luzia, no Centro do Rio, puxei o assunto com Climério Veloso, que era muito falante e simpático. Ele confirmou a multa e pagou os impostos devidos. Mas não sei se foi por isso que as Casas da Banha e a rede Disco, de Francisco Amaral, foram à garra na mesma época (vivíamos a hiperinflação louca, onde um pequeno erro de estoque podia comer o capital de giro).

O loteamento das redes se deu basicamente entre o Zona Sul, Mundial, Guanabara e Princesa. Depois, vieram o SuperMarket e o chileno Prezunic, este com lojas novas e amplos estacionamentos.

Eduardo Eugênio descumpre promessa de Donato

Por falar em Arthur João Donato, lembro que ele, reeleito várias vezes para a presidência da Firjan, com a volta das eleições para governador (1982) e para presidente da República, após a Constituição de 1988, conseguiu aprovar a mudança dos estatutos da Firjan. Só caberia uma eleição para um 2º mandato.

Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira do Grupo Ipiranga, foi eleito em 1995 para mandato de dois anos. Em 1997, foi reeleito, e o 1º vice-presidente, o empresário Márcio Fortes, da João Fortes Engenharia, seria o sucessor natural. Mas Eduardo Eugênio mudou os estatutos com os votos de sindicatos pouco representativos, e acabou de ser reeleito em agosto para o 9º mandato.

Entidades empresariais de baixa representação

A representatividade das principais entidades empresariais do país é discutível, e a Firjan é um exemplo, agravado pelo esvaziamento econômico do Estado, onde novos negócios se desenvolvem em torno do petróleo e o porto do Açu (São João da Barra) é o polo mais dinâmico.

Márcio Fortes não se reelegeu deputado federal pelo PSDB, e a João Fortes, vendida para Antônio José de Almeida Carneiro, está em recuperação judicial. O Grupo Ipiranga praticamente se extinguiu na petroquímica e na distribuição de combustíveis (o grupo Ultra passou a controlar a rede de postos Ipiranga). Eduardo Eugênio tem indústria de produção de sucos no interior do estado.

Mas em São Paulo, na poderosa Fiesp, não é muito diferente. Paulo Skaf, que voltou ao comando da entidade após perder para João Dória a disputa pelo governo de São Paulo, hoje é mais empresário de serviços e negócios imobiliários do que industrial (era do ramo têxtil).

Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, é empresário atuante em segmento de ponta na área industrial, através da Orteng, de Contagem (MG).