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Multilplic e Garantia, união de alta voltagem sem curto circuito

Ronaldo Cezar Coelho e Beto Sicupira se unem pela Light

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Durante grande parte dos anos 70, no auge do “open market” no Brasil, eles competiram ferozmente. De um lado, pela Corretora Multiplic, na qual tinha como sócio Antônio José de Almeida Carneiro (o Bode), Ronaldo Cesar Coelho comandava as operações ligadas ao mercado de ações, abertura de capital e fundos de investimentos. Bode, a mesa de open.

De outro, pela Corretora Garantia, onde entrou em 1973, Carlos Alberto da Veiga Sicupira dirigia a área de mercado de capitais e novos negócios. O sócio principal era Jorge Paulo Lemann. Marcel Hermann Telles comandava a mesa de operações do open. O trio sempre esteve neste milênio no topo da lista dos brasileiros mais ricos do mundo, com o comando da InBev, da Ambev, Anheuser-Busch, Burger King, Lojas Americanas e Heinz-Kraft, entre outras.

Em comunicado enviado, sexta-feira, 23 de outubro, à CVM e ao mercado de capitais, Carlos Alberto da Veiga Sicupira informou ter adquirido 15.200.000 ações ordinárias da Light, equivalente a 5,001% do capital votante. Como, por meio de veículos financeiros, tinha outras 14.898.855 ações ordinárias e derivativos de liquidação financeira referenciados em ações da companhia, o total de 30.098.855 ações, representava 9,90% do capital da Light. Isso pode lhe conferir um assento no Conselho de Administração, onde Ronaldo Cezar Coelho, tem representante, após assumir 20,01% do capital através do Fia Samambaia, no começo do ano. Agora, ambos podem se juntar para cortar custos e mirar na posição majoritária da Cemig (22,58%) que vai ser posta à venda pelo governador Romeu Zema.

Feliz com o novo parceiro de negócios, Ronaldo Cesar Coelho diz que a parceria na Light pode ser o embrião de muitos negócios na privatização e modernização da infraestrutura no Brasil. Ele insiste que a Light está subavaliada: “A companhia, com todo o respeito, não pode valer praticamente ¼ da Equatorial”. A empresa de distribuição de energia elétrica e geração de fontes alternativas atua no Pará, Maranhão, Piauí e Alagoas e vale quase quatro vezes mais que a Light, que tem um público consumidor bem maior no Grande Rio e Vale do Paraíba. Ronaldo Cesar Coelho diz que além de corte de custos internos, será atacada a evasão de faturamento de energia “sobretudo nos gastos de colarinho branco, no gato de rico”, não necessariamente nos gatos de luz nas comunidades mais carentes, mais focalizada pela mídia.

Fortunas nos primórdios do open market

As duas corretoras que tinham sede no Rio de Janeiro, na mesma Avenida Rio Branco, então o centro do Centro Financeiro do Brasil, fizeram fortunas como das mais ativas instituições do mercado de títulos públicos do Brasil e foram credenciadas como “dealers” (distribuidores preferenciais dos títulos do Tesouro – LTNs e ORTNs) pelo Banco Central. Ser “dealer” era considerado privilégio, mas implicava em obrigações de carregar posições mínimas nos leilões semanais ou extraordinários de títulos públicos. Em troca, tinham acesso permanente a linhas de crédito do BC no overnight.

Podia ser bom – quando fizeram fortunas arbitrando taxas de juros entre títulos de renda fixa e pós fixados quando a inflação disparava. O trio do Garantia enveredou pelo setor real da economia ainda no começo dos anos 80, quando compraram o controle das Lojas Americanas, que tinha o capital muito pulverizado. Beto Sicupira foi dirigir a empresa para cortar custos e aumentar sua eficiência. Beto diz que “custos são como unhas, têm sempre de ser cortados”. A receita se aplicou a todas as empresas assumidas pelo trio. E agora o desafio da Light se assemelha ao vivido por Sicupira nas Americanas.

Ou ruim - como o tempo mostrou. Por exemplo, quando assumiram posições em ORTNs com cláusula cambial na antevéspera do Plano Real, no governo Itamar Franco. A aposta era de que o dólar teria ágio frente ao real (de até 20% como na Argentina). Quando o real foi lançado, em junho de 1994, o dólar chegou a valer R$ 0,94 e caiu para R$ 0,83, com deságio para o dólar. Garantia e Multiplic se insurgiram contra o BC e acabaram sendo descredenciados como "dealers", uma das punições tácitas a quem peitasse o BC). É curioso lembrar que o pai de Gustavo Franco, que sugeriu a âncora cambial quando era diretor da área externa do BC (depois virou presidente e saiu em 13 de janeiro de 1999, na véspera da desvalorização do real), foi dos fundadores do Garantia.

O Multiplic entrou em dificuldades em 1997 e foi vendido ao Lloyds Bank. Bode era grande acionista do grupo Ipiranga (atualmente é controlador da João Fortes Engenharia, em recuperação Judicial). Ronaldo Cesar Coelho era dos maiores acionistas da Souza Cruz e vendeu a posição quando era secretário de Saúde do Estado do RJ (José Serra era ministro da Saúde). Ele também é acionista antigo da Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina (atual Energisa) e acompanha o mercado de energia há alguns anos.

Com dificuldades na crise russa de 1998, o Garantia foi vendido ao Credit Suisse. O trio então se concentrou em negócios da economia real e educação e criou um veículo de investimentos a 3G Capital. Através da 3G Radar, possuem 10,52% das ações preferenciais da Eletrobrás, com direito a representante no Conselho. Apesar da sinergia, Coelho diz que ele e Sicupira não têm interesse imediato na privatização da estatal. “Nosso foco é a Light”.

O bote na Brahma em dois movimentos

Paciência é uma das virtudes do trio de bilionários brasileiros que perdeu o primeiro posto para Joseph Safra em 2019. Em 1981, tentaram repetir a tomada de controle nas Americanas na Brahma, também com capital pulverizado. Mas o presidente Karl Gregg, apelou para o Bradesco, banco que tinha a conta da empresa, para fechar posição com seus fundos de investimentos. Amador Aguiar, presidente do Bradesco, disse que não tinha posição relevante, mas tentaria convencer a Sul América (então presidida por Leonídio Ribeiro) a fechar um acordo de acionistas. Leonídio topou, mas avisou a Amador e a Gregg que não poderia ser por muito tempo. Quis reduzir a posição em fins de 1982 e gerou atritos da Brahma com o Bradesco. O outro sócio do Bradesco (Antônio Carlos de Almeida Braga, o “Braguinha” da Atlântica-Boavista) aproveitou a rusga para intrigar Leonídio com Amador Aguiar e a parceria foi desfeita. Na área de seguros e previdência, a Atlântica-Boavista virou a única sócia do Bradesco. Braguinha assumiu a presidência do Bradesco de 1984 a 1986, mas houve incompatibilidade de estilos e Amador, numa troca de ações, retomou o comando do banco e da Bradesco Seguros em 1986. Braguinha, hoje com 94 anos, foi morar em Portugal. Em 1989 o Garantia deu o bote definitivo na Brahma. Dez anos depois, com a fusão à Antártica criou a Ambev (Companhia de Bebidas das Américas) que virou a maior cervejaria do mundo ao se fundir com a belga Interbrew, formando a InBev. Depois, absorveu a americana Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser.

A criatividade de Sicupira

Beto Sicupira, sempre criativo, bolou na ainda corretora as primeiras formações de consórcios bancários para garantir créditos à Telebrás. Em 1975, quando o ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen proibiu as estatais de tomarem empréstimos diretos no exterior (Lei 4.131), para frear o excesso de liquidez, Beto Sicupira bolou um consórcio para repasse de alguns milhões de dólares por um pool de bancos nacionais e estrangeiros via Operação 63 (ficara de fora da restrição). Logo depois, Simonsen fechou essa porta e Sicupira criou o primeiro consórcio de bancos para crédito em cruzeiros (modalidade de crédito em comitê era comum no exterior, mas rara aqui).

Por essas e outras, a Corretora Garantia foi a primeira a ganhar carta patente de Banco de Investimento em fins de 1975. O Multiplic virou banco de investimento menos de um ano depois, em 1976, quando foi autorizado pelo Banco Central a comprar a parte do grupo Novo Rio (dos herdeiros de Carlos Lacerda) no banco de investimento que tinha participação minoritária do Lloyds Bank desde maio de 1974.

Ronaldo Cezar Coelho acabou presidindo a Anbid e se enfronhou na política. Foi deputado federal pelo PSDB-RJ por mais de uma vez. Foi secretário de Indústria, Comércio e Desenvolvimento do governo Marcelo Alencar (PSDB), quando trouxe fábricas de automóveis para o Sul Fluminense (a Volkswagen Caminhões, atual Man, foi a pioneira em Porto Real, município vizinho a Rezende). Depois, vieram a Peugeot-Citröen e mais empresas de apoio, que colocaram o Estado do Rio no mapa da indústria automobilística brasileira.

Curiosamente, ontem fechou definitivamente em Xerém, distrito de Duque de Caxias) a fábrica de carrocerias de ônibus da gaúcha Marcopolo, que assumiu as antigas linhas de montagem da Ciferal, que ocupara no governo Brizola as antigas instalações da Fábrica Nacional de Motores. Criada nos anos 40 para fazer motores de avião, participou da implantação da indústria automobilística no governo JK, como produtora dos famosos caminhões Fenemê. Comprada depois pela Alfa Romeo, virou Fiat em 1997, encerrou as atividades em 1999.

Hoje, além do vazio na fábrica, por causa da pandemia da Covid-19, também há silêncio nas rodas de samba do sítio de Zeca Pagodinho, em Xerém.

A inflação assusta, mas, para Itaú, Copom não mexe nos juros

A inflação de 0,94% em outubro, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), uma prévia para o IPCA cheio de outubro (1 a 30 do mês), surpreendeu o mercado financeiro, que esperava alta 10 pontos percentuais menor (o Itaú previa 0,90%). As altas combinadas da carne bovina (4,83%), do óleo de soja (22,34%) do arroz (18,48%), além do tomate (14,25%) e do leite longa vida (4,26%) causaram aumento de 2,24% em alimentação e bebidas e a maior taxa mensal do IPCA-15 para outubro em 25 anos. O custo acumulado da Alimentação e Bebidas no ano (9,75%) e em 12 meses (12,66%) rompeu a casa dos dois dígitos, o que não ocorria desde 2016 (12,16%.

Apesar das turbulências na inflação, o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú não espera alta da taxa Selic (atualmente em 2% ao ano) na próxima reunião do Comitê de Política Econômica do Itaú nesta terça e quarta feira (27 e 28 de outubro) nem na de dezembro. Primeiro porque juro nunca combateu problemas de especulação com alimentos (apesar da super-safra, o governo errou feio na administração dos estoques que foram exportados, atraídos pela desvalorização de 40% do real). Segundo, porque a economia segue muito deprimida e o desemprego tende a bater novos recordes.

Mas o Itaú acredita que as projeções de inflação do comitê no cenário base (que inclui taxa de câmbio seguindo paridade do poder de compra e taxa de juros de acordo com a pesquisa Focus) devem aumentar para 2,8% em 2020 (ante 2,1%, no cenário híbrido 1), para 3,0% em 2021 (de 2,9%), e permanecer em 3,3% para 2022.

Agenda de balanços na semana

A próxima semana será rica em balanços referentes ao 3º trimestre, que podem confirmar a intensidade da recuperação da economia, pelas grandes empresas. No dia 27, terça-feira, será a vez do Santander mostrar se o Brasil continua sendo o sustentáculo de seus lucros globais.

Dia 28 o Bradesco divulga os resultados de manhã, antes da abertura dos mercados. Já a Petrobras o fará à noite, após fechamento da B3 e Nova Iorque. Dia 29 é a divulgação dos resultados financeiros da Vale e da Ambev. O Itaú vai divulgar os dados trimestrais à noite do dia 3 de novembro. O Banco do Brasil, na manhã do dia 5 de novembro.


AEB realiza 39º Enaex virtual no Centro de Convenções Sul América

Ao completar seus 50 anos de criação, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) nestes tempos de pandemia que atingiram a vida da humanidade e, claro, o comércio exterior, vai comemorar a data de forma diferente. Usará as instalações do Centro de Convenções Sul América, no Rio de Janeiro, para realizar o 39º Encontro Nacional de Comércio Exterior, com a primeira edição 100% online do evento, nos dias 12 e 13 de novembro.

Redução de custos, infraestrutura e os desafios do comércio exterior – como os acordos do Brasil com os Estados Unidos e a União Europeia, que podem enfraquecer a crescente relação com a China, destino de mais da metade das exportações brasileiras de produtos básicos – estarão em discussão.

Outro tema importante é o paradoxo de ser o Brasil o maior exportador de alimentos do mundo, mas não evitar forte inflação na alimentação doméstica. Seria bom discutir o desafio de exportar sem descuidar do mercado interno.

Covid-19 impacta aposentadorias futuras

Levantamento do Índice Global de Sistemas Previdenciários da Mercer e do CFA Institute, que compara 39 sistemas de aposentadoria, cobrindo mais de 60% da população mundial, revela que o impacto na Covid-19 pode afetar as aposentadorias futuras, devido à redução das contribuições, retornos de investimentos mais baixos (pela queda global dos juros) e o aumento da dívida pública. Holanda e Dinamarca mantiveram o 1º e o 2º lugar, respectivamente, e a cobiçada "nota A". Israel entrou no índice, tirando a Austrália do 3º lugar.

O estudo conclui que “o impacto da Covid-19 é muito maior do que apenas as implicações para a saúde; há efeitos econômicos de longo prazo que afetam as empresas, as taxas de juros, o retorno de investimentos e a confiança da comunidade no futuro. Como resultado, a provisão de rendas de aposentadoria adequadas e sustentáveis a longo prazo também mudou.

O nível da dívida pública aumentou em muitos países após a Covid-19. É provável que esse aumento da dívida restrinja a capacidade dos futuros governos de apoiar suas populações mais velhas, seja por meio de pensões ou da prestação de outros serviços, como saúde ou assistência aos idosos.

A perda de posição da Austrália decorre da permissão para que indivíduos cuja renda havia caído em mais de 20% acessassem até AUD$ 20.000 (aproximadamente US$ 13.000) de seus ativos de pensão, enquanto o Chile permitiu que contribuintes ativos sacassem 10% de seus fundos de pensão até o teto de US$ 5.600. Holanda e Dinamarca não permitiram saques.

Mensurando a probabilidade de que uma estrutura atual seja capaz de fornecer benefícios no futuro, o subíndice de sustentabilidade continua a destacar os pontos fracos de muitos sistemas. A pontuação média de sustentabilidade caiu 1,2 em 2020 devido ao crescimento econômico negativo da maioria dos países.

A Holanda teve a maior pontuação geral (82,6) e manteve sua posição no topo da classificação, apesar das reformas significativas nas pensões que ocorreram no país. A Tailândia apresentou o índice mais baixo (40,8). Os Estados Unidos estão em 18º lugar, com 60,3 pontos.

Já o Brasil caiu três posições em relação a 2019, tendo ficado na 26ª colocação, com uma ligeira piora da nota geral, que passou de 55,9 para 54,5. O quesito sustentabilidade continua a ser a maior deficiência do nosso sistema, ajudando a manter o Brasil no grupo das piores avaliações com nota de (22,3). Só perde para dois países: Itália (18,8) e Áustria (22,1). A nossa vizinha Argentina tem índice de 27,6, pouco acima dos 27,5 da Espanha.

E os efeitos da reforma previdenciária, que seriam sentidos em 10 anos (com benefícios a partir de 2022) foram atropelados pela Covid-19.