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Música Neles

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Orquestra Sinfônica Nacional-UFF, sexta-feira na Sala Cecília Meireles, sob regência de Tobias Volkmann
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Uma pena, muito mais que uma pena, que o governo Bolsonaro e seus ministros não entendam o que significa um concerto do porte que a Orquestra Sinfônica Nacional da UFF apresentará nesta sexta-feira na Sala Cecília Meireles, às 20h.

Como ousam cortar verbas das universidades, da Cultura e da Educação em geral? Quando ao contrário, deveriam estar investindo muito mais. O Brasil não está quebrado como muitos querem nos fazer acreditar, está mal administrado, como podemos constatar nas verbas distribuídas, por exemplo, para políticos.

Na semana passada o ministro da Educação, Abraham Weintraub, deu início a uma política de corte de verbas para a Educação, não somente tentando sufocar universidades federais, mas também atacando colégios do ensino fundamental e médio, como o Pedro II, conhecido por sobressair em qualidade entre os colégios públicos. Nas palavras “tuiteiras” de Bolsonaro: “A função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”. Aparentemente o presidente não estaria falando um grande absurdo, mas é aí que mora o perigo do discurso deste governo, pois é óbvio que nosso dinheiro tem que ser respeitado. Obviedades são ditas dando ao discurso do governo uma aparência de estar dizendo algo justo e irrefutável. Assim o presidente acumulou e acumula fãs, são aqueles incapazes de interpretar um texto para além de suas afirmações diretas. Não interessa aos governos que as pessoas pensem e sejam capazes de entender um texto para além de sua doutrinação de clichês. Não à toa este governo é contra a Universidade de Filosofia. Quem discordaria que crianças e jovens têm que aprender a fazer contas, ler e mais tarde ter uma profissão, Presidente Bolsonaro? No entanto, o governo e seus apoiadores erram feio, estão comendo uma mosca do tamanho de um elefante num detalhe crucial: não estamos mais na Idade da Pedra. Tem que se continuar a ensinar a fazer contas, a ler e também, ao mesmo tempo, escrever livros da complexidade de tantos pensadores que honraram os últimos séculos, tem que valorizar e investir em escrever equações capazes de, por exemplo, enviar um homem à Lua, equações capazes de mostrar um buraco negro no centro da galáxia, equações para produzir um telefone celular. Ou queremos voltar a nos comunicar com pombos-correios? Estamos no século XXI. Já sabemos muito mais do que fazer contas básicas e ler o ABC. Já sabemos muito mais do que tocar dó-ré-mi-fá-sol.

Já temos orquestras sinfônicas! Temos a Orquestra Sinfônica Nacional-UFF, fundada por Juscelino Kubitschek em 1961, há 58 anos e que desejamos que continue por mais muitas décadas! Nesta sexta, sob a regência do maestro Tobias Volkmann, a OSN-UFF vai executar uma programação de aplaudir de pé! Peças extremamente sofisticadas que em muito ultrapassam a compreensão do que este governo consegue entender como música, orquestras, educação e cultura.

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Orquestra Sinfônica Nacional-UFF, sexta-feira na Sala Cecília Meireles, sob regência de Tobias Volkmann (Foto: Divulgação)

Eu gostaria de falar mais de música e menos de política nesta coluna, mas está difícil diante dos maus tratos com a cultura e tenho a esperança que alguma luz possa entrar em quem está apoiando e participando da destruição do que há de bom no país. Para a felicidade geral, o Brasil é cheio de excelentes músicos, compositores, produtores, educadores, entre tantos profissionais que são necessários para a cultura brilhar. Música Neles!

A primeira peça do concerto será “Le tombeau de Couperin”, suíte em seis movimentos que Ravel compôs inicialmente para piano, e em 1919 orquestrou quatro dos seus movimentos. A palavra “tombeau”, que literalmente se traduz como “tumba”, tem na tradição musical francesa outra conotação, a de uma peça em homenagem a alguém que morreu ou partiu, no caso uma homenagem ao compositor francês barroco, François Couperin. No entanto, Ravel não se limitou a um tributo ao Barroco e o resultado final é que, sobretudo quando orquestrada, a peça soa como Ravel, um dos maiores gênios da orquestração. Quando se ouve Ravel deve-se prestar, mais do que nunca, atenção na riqueza de como instrumentos entram, saem e se misturam. É o poder da diversificação, da riqueza da mistura. Diferentemente de músicas pobres em orquestração, quando compositores escrevem, por exemplo, vários instrumentos tocando juntos a mesma melodia por muito tempo, sem se intercalarem, muitas vezes originando uma peça chata. Orquestração chata é impossível nas mãos de Ravel ou de Stravinsky, que terá a “Suíte Pulcinella” executada na mesma noite e que ainda inclui o Concerto de violino nº 2, de Camargo Guarnieri: uma peça em três movimentos como os concertos clássicos e repleta de inspiração da música folclórica brasileira. O concerto será executado por Oscar Bohorquez, violinista considerado como “um talento excepcional, com grande profundidade musical”, segundo Christoph Eschenbach, diretor musical da Orquestra Sinfônica Nacional de Washington D.C.

Sucesso à Orquestra Sinfônica Nacional-UFF, que por tantos anos tem feito música de altíssima qualidade. 

NOTAS e ACORDES

No sábado, às 20h, também na Sala Cecília Meireles, o Quinteto Villa-Lobos, considerado um dos melhores grupos de música de câmara do Brasil, apresenta um concerto com músicas dos compositores Debussy, Milhaud, Santoro e Villa-Lobos.

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Quinteto Villa-Lobos: Philip Doyle, Rubem Schuenck, Luis Carlos Justi, Paulo Sergio Santos e Aloysio Fagerlande (Foto: Reprodução)

Reprodução - Quinteto Villa-Lobos: Philip Doyle, Rubem Schuenck, Luis Carlos Justi, Paulo Sergio Santos e Aloysio Fagerlande
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