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Koellreutter

Reprodução -
Koellreutter
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Denunciado pelos próprios pais, simpatizantes do nazismo que não aceitavam o noivado de seu filho com uma judia, chegou ao Brasil em 1937, com 22 anos, fugindo da Gestapo (polícia alemã da época nazista), o flautista, compositor e regente alemão Hans-Joachim Koellreutter.

Macaque in the trees
Koellreutter (Foto: Reprodução)

Sorte nossa! A colaboração de Koellreutter para o meio musical brasileiro foi imensa e valiosa. É no Brasil que compõe suas primeiras peças dodecafônicas, tendo criado o grupo Música Viva, responsável pela divulgação da música atonal, até então pouco conhecida no país. Além da intensa agenda como compositor, pensador e criador de vários movimentos, em que se dedicou com brilhantismo à tarefa de lecionar (como podem testemunhar vários de seus alunos, inclusive eu), Koellreutter fundou várias escolas de música no Brasil, entre elas, a Escola Livre de Música Pró-Arte (1949), em São Paulo, e em Salvador os Seminários Livres de Música (1954). Ainda como professor, um dos exercícios que dava a seus alunos iniciantes era a tarefa de compor uma música com uma única nota. Tarefa nada simples compor com material tão limitado, mas na qual seu aluno Tom Jobim se saiu lindamente com o “Samba de Uma Nota Só”. Nos anos 60, Koellreutter recebe o Prêmio Ford, em reconhecimento pelos 25 anos de trabalhos prestados ao Brasil, e nesta época volta a estreitar seus laços com a Alemanha, passando a viver entre a Índia, Japão, Alemanha e viajando por outros países. Uma de suas peças dessa época, composta na Alemanha, é o “Kulka-gesänge” (Cantos de Kulka), inspirada nos textos do poeta austríaco Georg Kulka. Na Índia, onde viveu por quatro anos, deixou-se influenciar pelas cultura e música locais. Desse período são as peças “Advaita” e “India Report”.

Devo ter conhecido Koellreutter no final dos anos 80, quando ele dividia seu tempo entre compor e lecionar em sua casa, na Urca, para um bando de alunos, ávidos por adquirirem os conhecimentos de um compositor tão especial e original. Acabei ficando amiga do professor e meu lado fã levou-me a querer fazer um documentário sobre sua vida. Apesar da aparência, à primeira vista rígida como os estereótipos de alemães e sua inflexibilidade em alguns aspectos, Koellreuter era extremamente generoso, risonho e com muito senso de humor. Assim ele imediatamente topou trabalhar no meu documentário. Propus então que iríamos filmar em vários lugares do mundo onde ele tinha realizado trabalhos relevantes e aproveitaríamos os fantásticos e bonitos cenários de sua vida. Koellreutter, então com uns 80 anos, pegou um trem em Berlim e foi me encontrar em Paris, onde passamos alguns dias delineando o roteiro do documentário. De volta ao Brasil, filmei alguns momentos do compositor/professor, mas não tive dinheiro para acabar o filme. Restaram algumas imagens que podem ser vistas no programa “Primeiro Plano”, feito em 1995, em que fui chamada para entrevistá-lo (e o fiz, apesar da falta de jeito como entrevistadora). Nesse programa aparece também Tim Rescala, que fez um espetáculo para comemorar os 80 anos do mestre. Vale a pena assistir para saber mais sobre o compositor alemão que se encantou pelo Brasil.

Reprodução - Koellreutter