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Mais Século XX

E. Smith/Reprodução -
Stravinsky
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Gostei muito da programação musical de 2018 no Rio de Janeiro. No entanto, apesar de eclética, faltou um grande concerto com alguma obra de Stravinsky.

Fato quase absurdo! Um dos maiores compositores do século XX, senão o maior, ficou ausente das salas de concertos e das orquestras no Rio. No resto do mundo não há grande orquestra que não dedique ao menos um concerto à sua música.

Muitos aficionados de música clássica, apaixonados por exemplo, por Chopin, Beethoven e Mahler ainda não apreciam a música do século XX e as dissonâncias de Stravinsky (e de Ravel, Prokofiev, Debussy e outros ainda mais radicais, como Schoenberg, Webern, Varèse) ainda provocam algum dissabor. Com estes, insisto, ouçam mais Stravinsky! Um mundo espetacular de sons surgirá. Tenho até inveja de quem nunca ouviu Stravisnky. Imaginem ouvir pela primeira vez “O Pássaro de Fogo”... É quase como um surdo ouvir um som pela primeira vez. Aos que ainda porventura não se extasiam com a música do compositor, não se sintam “estranhos”, ele teve inúmeros concertos em que foi fortemente vaiado. Uma das mais célebres vaias ao compositor aconteceu em 1913, no recém-inaugurado Thêatre des Champs-Élysées, na estreia de seu ballet “A Sagração da Primavera”. Alguns dizem que a monumental vaia, que teve até a intervenção da polícia para garantir a ordem, não foi somente contra a música, mas também contra a coreografia de Nijinsky, que abriu a apresentação com passos violentos acompanhados da música ritmicamente assimétrica e de seu próprio enredo baseado num ritual sagrado pagão. Seja qual for a razão da vaia, a Sagração é repleta de novidades musicais para a época, como na abertura da peça, com o fagote executando uma melodia acima da extensão normal do instrumento. A complexidade rítmica e as dissonâncias que criaram cores completamente originais na música fazem da “Sagração da Primavera” uma das peças mais criativas e geniais do século XX. No entanto, ainda hoje não é compreendida por bilhões de pessoas e aí está incluída também parte dos amantes da música clássica.

Ainda não sabemos exatamente como será a programação musical de 2019 no Rio de Janeiro. Contudo, pelo mundo afora, há vários festivais e concertos marcados com obras de Stravinsky: o Budapest Festival Orchestra: Stravinsky, com regência de Iván Fischer e tantas outras orquestras que se dedicarão ao compositor, como a Boston Symphony com regência de Dudamel, em abril. Tomara que tenhamos Stravinsky no Rio!

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Stravinsky (Foto: E. Smith/Reprodução)

Notas e Acordes

Fernanda Canaud faz recital gratuito hoje, às 12h30, no CCBB. O repertório inclui obras de Mozart, Schubert, Phillip Glass, Chopin e Schoenberg. Parece que minha reclamação de que não se tocam por aqui compositores do século XX foi ouvida. A pianista vai executar “Klavierstücke” op. 19 (Seis pequenas peças) de Schoenberg. Finalmente um pouco de música atonal no Rio! Mas, fora a peça de Schoenberg, as demais no recital são tonais.

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