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Declarações ufanistas

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É comum ouvirmos declarações ufanistas de políticos, administradores de entidades, agentes públicos, produtores. Em geral é assim: somos grandes, ricos, inevitável que nosso “agronegócio” vai ser sempre o maior, vai acontecer de qualquer jeito, está escrito.Existem trabalhos maravilhosos que têm um certo ufanismo pró produtores embutido mas se distinguem do ufanismo vazio. Vamos falar primeiro do que achamos construtivo.

Recentemente centenas de publicações louvaram a área preservada pelos produtores, mostrando que até a Nasa informa que somos preservacionistas, que só exercemos a nossa produção agrícola em 7,6% de nossa área. Anteriormente, um dos mais importantes pesquisadores da Embrapa já divulgava essa verdade com exposições sobre ocupação territorial, um trabalho de alta tecnologia, aulas que colocam nos eixos o permanente discurso de muitas ONGs que resumem os produtores à condição de predadores. A excelência desse trabalho ilustra bem que em alguns movimentos, países desenvolvidos querem atribuir ao Brasil missões que não conseguiram cumprir em seu próprio espaço. Ou seja, a produção dos brasileiros deve ser restrita ao que parece adequado para compensar o meio ambiente já comprometido pelo mundo afora. “Façam assim, nós não conseguimos...” E o mantra é incorporado com facilidade pela comunidade urbana do nosso próprio país através de ativistas ambientais mal informados. Passa por aí uma imagem demoníaca do produtor rural, na agricultura e pecuária. Como a atividade rural tem enorme e complexa configuração, com o cruzamento de culturas, climas, regiões, tamanho das propriedades, tecnologia, etc, todos deveríamos estudar mais, conhecer melhor o trabalho da Embrapa Territorial para formarmos opiniões mais sustentáveis.

Mas preciso falar dos ufanistas e seus ufanismos destrutivos ou preguiçosos. Ufanistas da grandiosidade. É muito comum ouvirmos que a produção rural salva nosso país do atoleiro e a ela nada deve se opor. É frequente ouvir e ler sobre cegas certezas de que nada temos que fazer a não ser deixar os enormes tratores trabalharem sem obstáculos. Os ufanistas trabalham no atacado e se apropriam do imenso trabalho dos pequenos e médios produtores preferindo exibir as imensas imagens verdejantes de soja, cana, milho, café, eucaliptos e outras culturas de grande escala. Os ufanistas estão na publicidade de insumos, de processadores industriais e principalmente de bancos e empresas financeiras. E o mundo rural, onde dezenas de milhões de pessoas trabalham em unidades menores, em abastecimento, em unidades familiares, fica sempre em 2º plano. Badalar por uma entidade de classe que nosso sucesso em alimentar o Mundo é inexorável parece que dispensa o ufanista do trabalho a fazer em condições de trabalho, em pesquisa, em crédito e seguro, em benefícios sociais. Quem de maneira estridente e vaga, se incorpora ao sucesso até agora obtido na produção rural não tem muita paciência para as necessidades dos milhões de pequenos e médios empreendedores e trabalhadores rurais. E o discurso para ouvir o eco da própria voz afasta do falso orador ou escritor o suor desconfortável, indispensável para o progresso do conjunto. Pior, aos trombetas amadores, nunca ocorre a lembrança de que ainda importamos a maior parte dos fertilizantes, das matérias primas e tecnologia dos defensivos, da genética. Os arautos de que esse jogo está dominado não gostam de lembrar que dependemos de um sistema de trocas e de maior investimento em pesquisa, em conhecimento. Discursos de superioridade “do agro” afastam da mesa das políticas públicas o enorme trabalho a fazer para melhorar a atividade no Brasil, alimentar os brasileiros antes de alimentar o Mundo. No início de um novo governo temos sempre a expectativa de que melhore o equilíbrio de tempo e empenho para as questões de interesse social na produção rural. Nas políticas públicas, uma melhor visão de conjunto, vai bem. Que acham?