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Um caminho para tornar veículos elétricos viáveis financeiramente

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Não é novidade que os veículos elétricos são o futuro da indústria automotiva. Apesar de ainda representarem uma pequena fatia do mercado – 2,2% em 2018 -, foram 2,1 milhões de unidades vendidas ano passado, 64% a mais do que no ano anterior. E estudos apontam que, por volta de 2040, eles corresponderão a mais da metade das vendas do setor. Tal crescimento é impulsionado, especialmente, por regulações cada vez mais estritas em algumas regiões, como China e União Europeia, além de incentivos financeiros oferecidos por governos em todo o mundo para estimular os consumidores. Não à toa, as pessoas têm demonstrado um maior interesse em comprar um carro elétrico ano após ano, com pesquisas indicando que entre 10% e 30% dos americanos, 40% e 60% dos europeus e mais de 70% dos chineses consideram esta opção para seus próximos veículos.

De olho nesta tendência, as montadoras estão investindo pesado para não ficarem para trás. A consultoria AlixPartners estima que serão US$255 bilhões aportados para lançar mais de 200 modelos até 2022. Só a Volkswagen, por exemplo, planeja colocar US$50 bilhões nos próximos anos e anunciou em 2018 que, a partir de 2026, seu foco estará somente em veículos elétricos e autônomos. Porém, até que tamanho investimento gere retorno ainda vai demorar. Na verdade, um estudo divulgado pela McKinsey em março mostrou que, tirando alguns modelos premium, as montadoras estão perdendo dinheiro na maioria de suas vendas na categoria.

A McKinsey estima que um carro elétrico de pequeno/médio porte custa cerca de US$12 mil a mais do que um similar à combustão, mas esta diferença dificilmente consegue ser compensada no preço de venda, pois grande parte dos consumidores não está disposta a pagar mais apenas pelo veículo ser elétrico. O maior responsável por esta disparidade em custo é a bateria, o que leva a crer que, com o avanço tecnológico, tal custo vá cair consideravelmente, a ponto de fazer com que carros deste segmento não operem mais no vermelho. Entretanto, segundo a consultoria, isto não deve acontecer pelos próximos cinco a sete anos, por isso ela sugere algumas ações que podem encurtar o caminho para a lucratividade, tornando-a possível já no início da próxima década.

A primeira seria a adoção de uma plataforma exclusiva para montagem de veículos elétricos, ao invés de dividi-la com os carros à combustão. Esta plataforma, mais simples e com menos peças, poderia gerar uma economia entre US$5.700 e US$7.100, segundo a consultoria. Porém, ela demanda um alto investimento (na casa de US$1 bilhão), então a mesma só seria viável para companhias com altas expectativas de venda. Volskwagen e GM estão desenvolvendo suas plataformas. Outra sugestão é uma otimização das baterias destes veículos para mobilidade urbana. Explico: a maioria dos modelos disponíveis atualmente possui uma autonomia de bateria muito baixa (de cerca de 160 quilômetros ou menos) ou muito alta (cerca de 480 quilômetros). A McKinsey calculou, com base nos hábitos de direção dos americanos, que a autonomia ideal ficaria em torno de 250 quilômetros, o que permitiria uma redução de custos entre US$1.900 e US$2.100. Esta questão da autonomia, aliás, é apontada por consumidores como uma das principais na hora de optar ou não por um carro elétrico.

Parcerias entre montadoras para diluir investimentos também são sugeridas pela consultoria, especialmente em fábricas e no desenvolvimento de plataformas exclusivas para montagem de modelos elétricos. O estudo calcula que tais parcerias poderiam reduzir custos entre US$1.500 e US$2.000 por unidade. Isto, inclusive, já tem sido feito, conforme escrevi neste espaço no final de janeiro.

olkswagen/Ford e BMW/Daimler AG são alguns dos exemplos. A McKinsey fala ainda em simplificar o design dos carros, usando menos componentes eletrônicos, disponibilizando menos funcionalidades e até adotando materiais mais básicos nos bancos e acabamento interno, por exemplo. Esta sugestão, porém, eu particularmente acho um tiro no pé, haja visto que os clientes perceberiam se tratar de um produto de menor qualidade.

De qualquer maneira, vale a discussão. Com tantos modelos sendo lançados e o investimento maciço aportado, será que as montadoras (e seus acionistas) estão preparados para anos perdendo dinheiro até obterem retorno?

Se você quiser ler o estudo da McKinsey, o link é este aqui (o mesmo está em inglês).