ASSINE
search button

A corrida para ser a 'Netflix dos Games'

Compartilhar

A tecnologia de streaming revolucionou as indústrias fonográfica e cinematográfica nesta década. Agora há outro setor que está prestes a passar pelo mesmo processo: games. Com conexões de internet cada vez mais rápidas e empresas com servidores altamente capazes na nuvem, os jogos eletrônicos serão os próximos a serem disponibilizados desta maneira, dando a milhões de pessoas acesso a eles em basicamente qualquer dispositivo com tela, sem precisar gastar com consoles caros e equipamentos de última geração, apenas uma assinatura mensal. Esta democratização promete fazer com que a indústria cresça ainda mais. Por isso, há uma corrida para se criar o que vem sendo chamado de a "Netflix dos Games".

Se você é daqueles que acha que videogames são meras distrações para jovens, lamento informar, mas você parou no tempo. Ano passado, a indústria movimentou US$ 134,9 bilhões em todo mundo e deve chegar a US$ 174 bilhões em 2021, segundo a consultoria especializada Newzoo. Somente um dos títulos, o Fortnite, atingiu mais de 200 milhões de usuários em pouco mais de um ano e faturou US$ 2,4 bilhões em 2018, mesmo sendo gratuito (o faturamento vem de compras realizadas dentro do game, como roupas dos personagens, por exemplo). Apenas em competições, a Epic Games, produtora do jogo, vai distribuir US$ 100 milhões em premiação em 2019. O sucesso é tamanho, que, em seu último relatório trimestral, a Netflix - a original - citou o Fortnite como uma ameaça maior que a HBO.

Com números tão expressivos, é claro que grandes companhias querem entrar na jogada. Em outubro de 2018, o Google iniciou testes com o Project Stream, onde usuários podiam jogar Assassin's Creed Odissey, um dos jogos com gráfico mais elaborado (e, por isso, que mais demanda poder computacional), apenas abrindo uma aba do Chrome. Segundo relatos de quem testou, o game rodou perfeitamente e só apresentou problemas por variações na conexão de internet. Em jogos eletrônicos, isto é fundamental, pois falhas no gráfico e delays na comunicação entre os usuários atrapalham bastante a experiência. Isto só foi possível porque todo o processamento se dá na nuvem e não nos dispositivos. Alguns veículos de imprensa dão como certo o anúncio de um streaming de games do Google em março.

De acordo com o site Cheddar, a Apple também está com projeto semelhante, apesar de ainda em fase inicial. O movimento faria sentido, pois, como escrevi semana passada, a companhia busca novas fontes de receita para suprir a queda nas vendas de iPhones. Já o site The Information cita a Amazon como possível player no setor, com um serviço que pode ser lançado em 2020. A Amazon é dona do Twitch, onde todos os meses mais de 2 milhões de pessoas transmitem ao vivo suas performances em videogames variados. A Microsoft, que já tem presença consolidada na indústria com o Xbox, vai estrear o xCloud este ano, permitindo que os jogos do console possam rodar em qualquer dispositivo. O curioso é que Amazon, Microsoft e Google são três dos líderes em computação na nuvem, o que lhes dá grande vantagem num possível mercado de streaming de games.

Mas não são só estas empresas que estão de olho na oportunidade. A Sony foi uma das pioneiras ao lançar o PlayStation Now há quatro anos, onde por US$99 ao ano tem-se acesso a mais de 750 jogos. Porém, o serviço é disponível apenas para PCs e PS4. Electronic Arts e Ubisoft, duas produtoras referências em games, também planejam seus próprios serviços. E não podemos esquecer a chinesa Tencent, muito forte na Ásia, que pode ser um player importante se decidir entrar na disputa.

O apelo é claro. O streaming não só aumenta a base de usuários, como permite a entrada no mercado de jogos eletrônicos sem investir no desenvolvimento de hardware, que, além de caro, leva tempo. A questão é: com tantas opções, será que alguma delas conseguirá se destacar a ponto de ser considerada a "Netflix dos Games"?