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Montadoras formam parcerias por novas tecnologias

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O setor automotivo passa por uma revolução capitaneada por duas tendências que irão modificá-lo completamente nas próximas décadas: a massificação dos veículos elétricos e o surgimento dos autônomos. Em relação aos primeiros, a Agência Internacional de Energia estima que serão 125 milhões de unidades em 2030 ao redor do mundo – atualmente, são cerca de cinco milhões de unidades. Já sobre os carros autônomos, segundo a IHS Markit, serão 33 milhões de unidades vendidas em 2040 e, como consequência, muitas mudanças na forma como as pessoas pensam sua relação com os automóveis.

Tudo isso, entretanto, tem custos. Altos custos. De acordo com um estudo da consultoria AlixPartners, até 2023 serão gastos em todo mundo US$ 255 bilhões no desenvolvimento de veículos elétricos e mais US$ 61 bilhões na tecnologia para deixa-los autônomos - sendo este montante apenas inicial. E não há para onde fugir. No caso da eletrificação, as regulações para limitar veículos movidos a combustíveis fósseis estão cada vez mais estritas, especialmente na Europa e China. Já empresas de tecnologia enxergam nos carros sem motorista uma possibilidade de receita bastante atrativa e apostam pesado nisso. Dessa maneira, grandes montadoras têm formado parcerias entre si e com companhias de outros setores com o objetivo de diminuir investimentos e, principalmente, os riscos associados aos mesmos, uma vez que o retorno, se realmente vier, é esperado ao longo dos próximos 20 anos.

Há duas semanas, Ford e Volkswagen anunciaram uma aliança para produzir vans e picapes, com os primeiros modelos programados para chegar ao mercado em 2022. No comunicado, as duas empresas afirmaram que pretendem colaborar em veículos elétricos e autônomos no futuro. As rivais BMW e Daimler AG, dona da Mercedes-Benz, também fecharam acordo, mas para unir serviços de mobilidade que ambas operavam de forma independente até então. A joint venture irá controlar serviços de compartilhamento de carros, transporte sob demanda, estacionamento, carregamento de bateria e um multimodalidade, que englobará carros, bicicletas e transporte público. O objetivo é combater startups como Uber, Lyft e Didi Chuxing. Segundo a Bloomberg, a parceria pode se estender para veículos elétricos e sem motorista. Já a Honda irá investir US$ 2,8 bilhões nos próximos 12 anos na Cruise, uma startup de carros autônomos comprada pela GM em 2016, para se aproveitar das capacidades da companhia, uma das mais avançadas no segmento.

A união de montadoras e empresas de tecnologia, aliás, tem sido cada vez mais comum, seja por meio de aquisições ou investimentos. Além da já citada Cruise, adquirida pela GM, a Argo foi comprada pela Ford. Já a Toyota investiu US$ 500 milhões no Uber e US$ 1 bilhão na Grab, líder em transporte sob demanda no Sudeste Asiático. A Hyundai também tem participação na Grab. A Waymo, subsidiária da Alphabet, comprou 62 mil unidades da minivan Pacifica, da Fiat-Chrysler, e 20 mil unidades do I-Pace, da Jaguar, e irá equipa-los com seu sistema em conjunto com a Magna, que produz componentes automotivos. Não se sabe, no entanto, se Fiat-Chrysler e Jaguar usufruirão da tecnologia da Waymo.

Porém, apesar de todo capital envolvido, há obstáculos a serem superados para que as projeções animadoras se confirmem. Os veículos elétricos ainda dependem de subsídios do governo para competirem em preço com os de combustíveis fósseis. Há ainda a necessidade de um alcance maior destes veículos por recarga de bateria e uma infraestrutura mais extensa de pontos de carregamento, entre outros. Os carros sem motorista precisam evoluir bastante para ganhar a confiança dos reguladores e do público em geral. Tudo isso faz com que as apostas se tornem muito arriscadas. Entretanto, mais arriscado ainda é ficar parado esperando para ver aonde a indústria vai; melhor é se juntar aos competidores, diluir custos e evitar ficar para trás.