ASSINE
search button

Um ano marcante para as startups brasileiras

Compartilhar

O ano começou com uma notícia histórica para o ecossistema brasileiro de startups: logo na semana inicial de janeiro, a 99 foi adquirida pela chinesa Didi Chuxing e tornou-se o primeiro unicórnio do país (startup com valuation igual ou superior a US$1 bilhão). Foi um bom prenúncio do que viria a seguir. Ao longo de 2018, Nubank, iFood, Ascenty e Movile também atingiram o status. Além delas, PagSeguro, Stone Pagamentos e Arco Educação tiveram IPOs em Nova York, todos alcançando valor de mercado na casa dos bilhões de dólares. Isso sem contar os outros muitos rounds de investimentos efetuados em startups de diferentes tamanhos e áreas. Todos estes dados mostram que, finalmente, o Brasil - e a América Latina em geral – parece estar no centro das atenções dos maiores investidores globais.

Se em 2017 o volume de capital de risco aportado em startups na América Latina já havia sido recorde, ultrapassando US$1 bilhão pela primeira vez, apenas o primeiro semestre deste ano chegou próximo a este número. Segundo dados da LAVCA (Associação Latino-Americana de Private Equity e Venture Capital), foram US$780 milhões investidos, 64% a mais do que o mesmo período ano passado. O número de acordos também cresceu consideravelmente na comparação ano a ano: foram 145 em 2018 contra 92 em 2017. O Brasil recebeu a maior parte do montante, com US$546 milhões – aumento de 51%. Outro estudo, da consultoria CB Insights, reafirma a liderança brasileira na região. Dos US$5,8 bilhões levantados por startups latino-americanas de 2012 até junho deste ano, US$4,2 bilhões foram aportados em empresas daqui, sete vezes mais que o segundo colocado, a Argentina. O México ficou em terceiro.

Levando em conta somente os números do primeiro semestre, já seria possível confirmar o crescimento do interesse em startups brasileiras e no potencial do mercado local. Porém, no segundo semestre o ritmo ficou ainda mais intenso. Em novembro, o iFood recebeu um aporte de incríveis US$500 milhões, o maior já realizado em uma startup latino-americana. Apenas este round foi superior a todo o montante levantado na região em 2016. Outro investimento de impacto foi anunciado em outubro, com a Tencent, gigante de tecnologia chinesa, colocando US$180 milhões no Nubank, em um valuation de US$4 bilhões. No mesmo mês, a Loggi, uma plataforma de entregas expressas, levantou US$111 milhões em round liderado pelo Vision Fund, o maior fundo de capital de risco do mundo, com US$100 bilhões disponíveis.

Outros aportes menores também merecem destaque: o QuintoAndar, plataforma para locação de imóveis que dispensa fiador ou seguro-fiança, recebeu US$64 milhões; a Yellow, de compartilhamento de bicicletas e patinetes elétricos, US$63 milhões; a CargoX, uma espécie de Uber para caminhões de carga, US$60 milhões; e a Creditas, que oferece empréstimos com garantias, US$55 milhões, com participação do Santander.

Os motivos para o “boom” do cenário de startups na América Latina são alguns: primeiro, há uma saturação de grandes mercados, como EUA e China, e a região, com mais de 650 milhões de habitantes, apresenta ótimas oportunidades; os chineses, aliás, têm tido atuação proeminente nos investimentos. Segundo, as moedas locais estão subvalorizadas em relação ao dólar, o que torna os aportes mais baratos para investidores estrangeiros. Por último, uma maior maturidade de empreendedores locais, que aumenta o nível de confiança destes investidores e, consequentemente, cria um círculo virtuoso de mais rounds e valuations cada vez maiores.

Para 2019, a tendência é que este otimismo com as startups nacionais continue e até aumente, com destaque para as áreas financeira, logística, transporte, agricultura, alimentação e industrial. Os investimentos virão não só de empresas de capital de risco e private equity, mas também de grandes companhias em busca de novas soluções e inovações disruptivas em seus negócios.