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Um panorama sobre inteligência artificial no mundo

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Em 2018, inteligência artificial foi um dos assuntos mais comentados na mídia e no setor corporativo. Aqui, mesmo, na coluna, abordei o tema algumas vezes. Por isso, destacar o potencial de impacto dessa tecnologia no futuro da sociedade não é mais novidade. Porém, somente quando analisamos dados concretos conseguimos entender de fato o progresso alcançado nos últimos anos para tentar prever os caminhos que serão trilhados daqui para frente. Justamente com esse objetivo, surgiu o “AI Index Report”, um relatório anual feito por especialistas de Harvard, MIT e Stanford, além de consultorias e associações sem fins lucrativos. O relatório reúne gráficos de inúmeros estudos, abrangendo dados que vão desde o número de publicações científicas até a evolução da performance de algoritmos.

A edição deste ano do “AI Index Report”, a segunda da história, apesar de ter buscado uma perspectiva mais global, ainda focou muito nos EUA, Europa e Ásia, até por serem as regiões mais avançadas na tecnologia (a América Latina, por exemplo, é classificada como “resto do mundo” na maior parte dos gráficos). Mesmo assim, o relatório traz informações bem interessantes. As primeiras, sobre artigos acadêmicos: de 1996 a 2017, o número deles relacionados à inteligência artificial aumentou 800%. Entre as subcategorias, aprendizado de máquinas e lógica probabilística tiveram a maior quantidade de publicações, com 52% do total em 2017, seguidas por redes neurais e visão computacional. A Europa foi a região que mais publicou artigos no campo no ano passado, com 28%. Chineses (25%) e americanos (17%) vieram logo atrás; os asiáticos, aliás, tiveram um crescimento de 150% nos últimos 10 anos. Porém, os autores dos EUA ainda gozam de maior prestígio: seus trabalhos são citados por outros autores 83% a mais do que a média global.

Em relação aos investimentos em startups de inteligência artificial, o relatório falha ao apresentar dados apenas dos EUA. Por lá, de 2013 a 2017, o montante de capital de risco investido cresceu 450%. Mesmo assim, de acordo com a ABI Research, as startups da China superaram as americanas pela primeira vez no ano passado, recebendo US$ 4,9 bilhões em aportes (contra US$ 4,4 bilhões dos EUA). Inclusive, a mais valiosa do mundo em IA é a chinesa Sensetime, que desenvolve software de reconhecimento facial usado pelo governo local.

Uma análise do público que comparece em grandes e pequenas conferências da área também mostra um dado curioso: houve aumento exponencial nos últimos anos. A ICML (International Conference on Machine Learning), por exemplo, teve sete vezes mais presentes em 2018 do que em 2012. Outra parte interessante do “AI Index Report” é a que acompanha a evolução das capacidades da tecnologia. A mais impressionante foi em identificação de objetos, em que o tempo necessário para treinar um algoritmo a reconhecer imagens com alto grau de acurácia caiu de uma hora para quatro minutos em apenas 18 meses.

Para finalizar, o relatório listou quatro acontecimentos importantes em 2018 nos quais a inteligência artificial conseguiu atingir ou superar performances humanas. O primeiro foi um algoritmo do Google que conseguiu ter 70% de precisão ao classificar câncer de próstata, acima dos 61% apresentados por patologistas credenciados. Foram escolhidos também um tradutor de notícias do chinês para o inglês criado pela Microsoft; e dois algoritmos especializados nos jogos estratégicos “Quake” e “Dota2”, que venceram seus oponentes humanos.

Há ainda uma seção na qual três especialistas sugerem métricas para serem analisadas em relatórios futuros. Entre elas destacam-se: desenvolvimento do senso comum entre as máquinas e compreensão de linguagem natural por elas; cooperação entre IA e pessoas; investimentos dos governos e uso militar da tecnologia. Tudo isso faz com que a leitura do “AI Index Report” seja obrigatória para todos que se interessam pelo assunto.