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Mas afinal o que é blockchain?

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Blockchain está na moda. Pesquisas publicadas em agosto pelas consultorias PwC e Deloitte mostram que a maioria dos executivos entrevistados afirmou que suas empresas já estavam envolvidas com a tecnologia ou enxergavam motivos para usá-la; até o início de outubro cerca de US$ 3,9 bilhões tinham sido investidos por empresas de capital de risco em startups do setor, 280% a mais que no ano passado. Uma dúvida, porém, persiste na cabeça de muita gente: o que de fato é blockchain?

Resumidamente, é uma rede digital descentralizada – pública ou privada – de registro de transações e dados em ordem cronológica e de forma imutável. Cada integrante dessa rede possui uma cópia desses registros e participa na validação de informações que serão adicionadas a ela. Por exemplo, uma operação financeira nesse modelo não tem a participação do intermediário (banco); os próprios membros da rede validam o que está sendo feito. Para entender melhor possíveis aplicações, conversei com Marcela Gonçalves, consultora de projetos focados em blockchain e idealizadora de comunidades de estudos sobre o tema no Brasil.

Blockchain é a tecnologia por trás do Bitcoin, a criptomoeda mais famosa do mundo. Aliás, grande parte das iniciativas em funcionamento atualmente está da área financeira. Entretanto, as possibilidades vão muito além. A McKinsey publicou relatório listando mais de 90 delas. Segundo Marcela, a tecnologia não se aplica a tudo; sua principal utilidade se dá em situações nas quais se quer proteger uma informação e/ou defender um sistema. Para ela, porém, as pessoas ainda tentam entender o real valor e forma de se usar o blockchain, o que faz com que muitas vezes sua aplicação aconteça em situações desnecessárias. Prova disso é que a Forrest Research prevê que 90% dos projetos que o envolvem em companhias americanas serão descontinuados até o fim deste ano.

Um setor que está adotando blockchain com bons resultados é o de cadeia de suprimentos. Para Marcela, a tecnologia é interessante nesta área por conta, principalmente, da imutabilidade das informações registradas. Alguns exemplos: o Walmart, a partir de 2019, exigirá que seus fornecedores de hortaliças e verduras usem uma rede privada para registrar seus produtos de forma a agilizar o processo de rastreamento da origem dos mesmos em casos de contaminação (o tempo caiu de sete dias para alguns segundos); a Maersk e a IBM lançaram uma plataforma para localizar contêineres, reduzir intermediários, burocracia e custos em transporte de mercadorias em navios; a IBM também desenvolveu a Everledger, que rastreia diamantes e certifica sua autenticidade.

Outro caso de uso relevante é o controle de dados. Este é, inclusive, um dos projetos em que Marcela está envolvida no momento. Chama-se My Health Data e o objetivo é que pacientes passem a controlar seus próprios dados médicos, tendo-os reunidos em um só local. Se quiserem, podem ainda vendê-los para outras partes interessadas em utilizá-los, como laboratórios de pesquisa, por exemplo. A base da aplicação está em fase de testes e a ideia é que governos e empresas utilizem essa base para construir interfaces para interações com o usuário.

Para Marcela, houve um aumento no interesse das empresas brasileiras por soluções em blockchain, mas é importante entender por que e em que essas companhias pensam aplicar a tecnologia. Muitas vezes ela não é necessária, até porque o custo de desenvolvimento é alto e a adoção da mesma por fornecedores e clientes pode ser complicada.

Para finalizar, Marcela apontou que faltam profissionais capacitados que entendam de modelos de negócios em blockchain e, especialmente, programadores especializados na tecnologia. Segundo ela, até existem cursos sobre o assunto, mas não o suficiente. E sem uma oferta maior para formação de novos profissionais corremos o risco de, mais uma vez, ficarmos para trás.