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Um fundo bilionário para combater as mudanças climáticas

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Em setembro e outubro, furacões e ciclones provocaram estragos e centenas de mortes em todo o mundo. Segundo o jornal “The Guardian”, em 15 dos últimos 24 anos o número dessas ocorrências foi acima da média histórica, um recorde. Esse aumento está ligado às mudanças climáticas, que deixam os oceanos cada vez mais quentes, de acordo com estudo publicado pela União Geofísica dos EUA.

Essa é apenas uma das consequências do aquecimento global. Semana passada, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) divulgou relatório alertando que é fundamental limitar esse aquecimento a 1,5°C em vez dos 2°C que havia sido estabelecido pelo Acordo de Paris, em 2015. Apesar de parecer pouco, esse 0,5°C pode fazer grande diferença, como, por exemplo, mais que duplicar o número de pessoas expostas ao calor extremo; aumentar em 30% a morte de corais e em 40% o descongelamento de solo no Ártico.

Esse assunto é de extrema importância, e governos, empresas e cidadãos devem trabalhar para evitar uma catástrofe. Felizmente algumas iniciativas nessa linha estão sendo desenvolvidas. Uma delas é o fundo de investimentos Breakthrough Energy Ventures, criado por Bill Gates com a participação de outros bilionários como Jeff Bezos, Richard Branson e Jack Ma. O objetivo do BEV é investir em startups de energia limpa que desenvolvam tecnologias inovadoras e eficientes. Para isso, o fundo possui US$ 1 bilhão. Há, porém, uma exigência indispensável: essas tecnologias precisam ter o potencial de reduzir a emissão de gases poluentes em, pelo menos, 500 milhões de toneladas métricas por ano.

Apesar de lançado em dezembro de 2016, somente em junho deste ano os primeiros investimentos foram realizados. As startups escolhidas foram a Quidnet Energy e a Form Energy, ambas trabalhando com armazenamento de energia. A primeira propõe usar eletricidade excedente para bombear água em poços, colocando pressão sobre as rochas e acumulando energia; quando liberada, a água volta à superfície diretamente a uma turbina que gera eletricidade novamente. Já a segunda aposta em baterias com capacidade de armazenamento por longos períodos por uma fração do custo atual, usando novos materiais.

No fim de setembro, outras sete empresas foram anunciadas no portfólio do BEV: a QuantumScape pesquisa baterias em estado sólido para aumentar a autonomia de carros elétricos; a Commonwealth Fusion Systems quer criar um reator de fusão nuclear (a fusão nuclear é o processo pelo qual o Sol gera energia) e ter uma usina desse tipo em funcionamento em 15 anos; a PivotBio encontrou um micróbio com capacidade de produzir nitrogênio por si só e desenvolveu um líquido que funciona como probiótico para plantações, substituindo fertilizantes sintéticos, que poluem o meioambiente; a DMC Biotechnologies também trabalha com engenharia de micróbios, mas voltada para produção de biocombustíveis; a CarbonCure coleta CO2 emitido pela indústria e injeta no concreto que produz, deixando-o mais resistente e, de quebra, diminuindo a presença do gás na atmosfera; a Fervo Energy trabalha com energia geotermal, usando modelos computacionais e novas técnicas de perfuração que prometem reduzir o custo deste tipo de energia pela metade; e a Zero Mass Water desenvolve painéis solares especiais que conseguem capturar água do ar até em áreas com clima seco.

Todas essas tecnologias vão demorar até que sejam adotadas em larga escala e façam a diferença (se é que farão algum dia). No entanto, o BEV investe com o chamado “capital paciente”, ou seja, apesar de também buscar retorno financeiro, este pode esperar algumas décadas. De qualquer maneira, a iniciativa merece aplausos e deveria servir de exemplo para que outras surjam pelo mundo. Os sinais da natureza e os relatórios de especialistas são cada vez mais claros: a humanidade tem um problema para resolver e as startups com novas tecnologias podem ajudar.