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Argumentação computacional: algoritmos bons de debate

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Pensamento crítico e capacidade de argumentação serão habilidades fundamentais para quem quiser ser relevante no mercado de trabalho da próxima década. Isto porque, segundo especialistas, são características que os algoritmos de inteligência artificial dificilmente conseguirão emular, ao menos no curto prazo. Porém, não faltam tentativas para que isso se torne realidade logo. O campo que estuda a criação de máquinas capazes de debater como humanos chama-se argumentação computacional e ganhou destaque nos últimos meses.

Em junho, a IBM promoveu uma competição para demonstrar o Project Debater, o projeto da empresa nesta área. O algoritmo enfrentou humanos em debates sobre dois assuntos: programas espaciais financiados pelo governo e telemedicina. Cada lado teve quatro minutos para considerações iniciais, quatro minutos para contra-argumentações e dois minutos para conclusões. Ao final, uma audiência votou em quem se saiu melhor. No primeiro assunto, o Project Debater, apesar de expor bons pontos a favor da exploração espacial, não conseguiu angariar muitos votos e foi superado. No segundo, porém, o algoritmo conseguiu construir sua argumentação de forma convincente pró-telemedicina e venceu seu oponente. Um detalhe importante é que os temas foram escolhidos pouco antes de a competição iniciar, ou seja, não houve tempo para que a máquina fosse preparada para o que seria discutido.

Embates entre computadores e humanos não são novidades. Em 1997, o Deep Blue, também da IBM, superou Garry Kasparov em uma série de partidas de xadrez; Kasparov é um dos maiores enxadristas de todos os tempos. Em 2011, o Watson, outra criação da IBM, fez história ao ganhar o Jeopardy, jogo de perguntas e respostas da TV americana. Em 2016, o AlphaGo, desenvolvido pelo Google, derrotou o campeão mundial de Go, jogo de tabuleiro milenar asiático, conhecido por sua alta complexidade. Porém, essas conquistas, ainda que bastante relevantes, envolveram jogos com regras e movimentos possíveis definidos (xadrez e Go) ou perguntas com respostas únicas (Jeopardy). O Project Debater foi além.

O algoritmo foi alimentado com cerca de 300 milhões de artigos de jornais e revistas de credibilidade, além de publicações científicas sobre 100 assuntos diferentes. Também foi treinado em técnicas de argumentação e em processamento de linguagem natural, uma área da computação que estuda a interação entre computadores e linguagem humana. Assim, o Project Debater consegue argumentar tanto pró quanto contra em relação aos assuntos que domina e é capaz não só de puxar citações, referências e números de sua base de dados, como de criar frases por si só. O que é mais incrível, ele estuda em tempo real os argumentos de seus oponentes e debate cada um deles. Consegue, inclusive, desviar o assunto quando lhe convém e até fazer piadinhas para conquistar o público. Claro que o algoritmo não é perfeito e, por isso, cometeu alguns deslizes na competição que, se cometidos por humanos, certamente iriam custar caro. Mas, para uma primeira aparição, o desempenho foi considerado ótimo. É importante ressaltar, no entanto, que não se trata de uma máquina com inteligência, que raciocina de forma lógica. É limitada às informações que a alimentam.

Alguns motivos para desenvolver uma aplicação dessas: o Project Debater pode melhorar processos decisórios em empresas e governos, expondo pontos contra e a favor dos assuntos em questão; pode ajudar advogados a aprimorar argumentações antes de audiências; pode até auxiliar outros algoritmos de inteligência artificial. Um dos problemas do uso de IA atualmente é justamente o fato de que não é possível saber com exatidão porque esses algoritmos chegam à determinada conclusão, o que é fundamental em casos como em diagnósticos de doenças, por exemplo. De qualquer maneira, fique tranquilo: o Project Debater não veio para substituir os humanos e sim para ajudá-los.

Tags:

argumento | debate | IBM