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Uma viagem no tempo com Wynton Marsalis

Reprodução -
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No último domingo, muitas famílias comemoraram a páscoa, com direto a reuniões familiares, caça aos ovos e, claro, muito chocolate. Já para os apaixonados por jazz a comemoração foi antecipada: o coelhinho chegou na sexta-feira e os chocolates foram substituídos pela trilha sonora mais aguardada do ano: “Bolden”. Com músicas compostas, arranjadas e interpretadas por Wynton Marsalis, lançada pela Blue Engine Records, a trilha sonora acompanha o longa-metragem sobre Charles “Buddy” Bolden, dirigido por Dan Pritzker, que será lançado nos cinemas americanos em 3 de maio, ainda sem previsão de estreia no Brasil.

Buddy Bolden, enigmático precursor da música de Nova Orleans, é um dos mais influentes artistas da história, a quem se atribui a criação de uma versão mais flexível e improvisada do ragtime com adição de blues, considerada por muitos a invenção do jazz. Entretanto, toda a produção foi um grande desafio, dado ao seu raríssimo e escasso acervo. Então, para elaborar a trilha sonora deste filme biográfico, o trompetista e historiador musical Wynton Marsalis fez o possível para aproximar o som de Bolden - descrito como ousado, inovador e atrevido, por aqueles que ouviram e tocaram com ele, em clássicos interpretados por Bolden e posteriormente pelo sucessor contemporâneo Louis Armstrong.

Macaque in the trees
(Foto: Reprodução)

A trilha sonora é composta de 26 faixas, incluindo originais de Marsalis, canções associadas a Bolden e Louis Armstrong. Marsalis conduziu sessões de gravação em Nova York, acompanhado pelas cantoras Brianna Thomas e Catherine Russell, além de uma banda cheia de estrelas, como Ali Jackson (bateria), Carlos Henriquez (baixo) Dan Nimmer (piano), Don Vappie (guitarra, vocal) , Julie Bruskin (violoncelo), além de inúmeros convidados, como Wycliffe Gordon (trombone), Reno Wilson (vocais), Walter Blanding (sax tenor), entre outros.

A viagem no tempo traz clássicos como “You rascal you”, “Basin street blues”, “Stardust” “Tiger rag”, “Dinah”, todas seguindo à risca as tradições e ritmos do Dixieland (confesso que senti falta de “Down by the Riverside”). “Funky Butt”, clássico de Bolden, foi uma das minhas preferidas, assim como “Timelessness”, com ótimos solos de Marsalis, e “Make Me a Pallet on Your Floor”, balada blueszeira original de Mississippi John Hurt, representada na ótima voz de Catherine Russell. “Buddy’s Horn”, original de Marsalis, fecha o disco com o trompetista e Catherine a frente da balada triste e comovente, simbolizando brilhantemente a história desta lenda da música.

Nascido em Nova Orleans, em 1877, Bolden, que foi internado em um hospício e morreu com apenas 24 anos, recebeu uma digna homenagem, em um filme que mostra a evolução da musica instrumental, em ritmos e gêneros que perpetuam até hoje, além de temas como religião, pobreza e preconceito no início do século nos Estados Unidos. O longa representa, principalmente, a música como instrumento de sobrevivência e esperança.

Bolden foi responsável por retirar as pessoas de suas tribos e as colocar mais em contato com sua própria humanidade. “Musicalmente, sou descendente de Bolden, apenas por ser de Nova Orleans e por ser trompetista", disse Marsalis. “Tudo o que veio depois dele foi uma música em que eu estava interessado, em termos de solos americanos de corneta, o estilo deles e a variação”.

Que a viagem no tempo com a música de Buddy Bolden siga nos mostrando os caminhos não só do jazz, mas de um mundo mais justo para todos.

Bebop

Festivais cariocas

O Jazz anda em alta na cidade maravilhosa. Foram anunciados recentemente três festivais nos próximos meses. A Marina da Glória recebe o “BraJazz Fest” nos dias 27 e 28 de abril, e 4 e 5 de maio, com nomes do jazz nacional como Nelson Faria, Carlos Malta e a banda AfroJazz.

Ainda em maio, o querido Pedro Paulo Machado, do lendário Mistura Fina, realiza o “Mistura internacional” nos dias 10 e 11, com apresentações de Kenny Barron e Ron Carter.

Em junho é a vez do badalado “Montreux jazz festival” trazer grandes nomes do jazz e da musica instrumental, como Stanley Clarke, Hermeto Pascoal, Al Di Meola, Yamandu Costa, dos dias 6 a 9, no Píer Mauá.

O Rio de Janeiro merece.

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coluna | jazz