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Novas cores no som de Anat Fort

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Apesar de os sons acelerados, responsáveis por aclamar o jazz mundialmente, ocuparem um grande espaço no meu HD jazzístico, eu confesso ter uma “queda” pelo chamado “mellow jazz”. A sonoridade calma, pausada e intimista sempre me chamou a atenção. Creio que essa queda tenha origem nas minhas primeiras influências neste universo, que foram “chetbakerianas”. Por isso, sempre estou de olho em artistas que trazem à tona essa temática.

É verdade que a pianista israelense Anat Fort até exagerou um pouco na calmaria, mas seus primeiros discos não deixaram de chamar a minha atenção, pelo exímio entrosamento com seu trio, composto pelo baterista alemão Roland Schneider e o baixista Gary Wang. Juntos há mais de 20 anos, suas gravações abordavam a música de maneira muito minimalista, quase introspectiva.

Embora me agradasse, sentia falta de um “algo mais”, que fizesse o brilhante som chegar mais diretamente aos nossos ouvidos e, por que não, à nossa alma. Lançado em abril deste ano, Colour (Sunnyside Records) atendeu meus desejos, trazendo uma nova luz para o som desse trio e incorporando, nas nove faixas originais, inspirações em diversos gêneros musicais. 

Uma mudança mais que bem-vinda. E o nome do disco não podia ser melhor. As distintas faixas podem perfeitamente representar um universo de cores dos mais variados. “Sort of” por exemplo, traz uma

excelente harmonia com pegadas do blues e até da musica gospel, com a cadência certa. Já em “Tirata tiratata” o vigor rítmico entra em cena, com uma rápida melodia e um balanço interessante. “Free”, uma das minhas favoritas, começa escondida num solo de baixo, mas logo acelera numa autêntica melodia jazzística, com improvisos e balanços que lembram um pouco o free jazz. Ainda há espaço para “The limp”,

também com traços e referências do Blues, e para a sombria “Goor katan”, mais próxima dos antigos trabalhos de Anat e sua turma. 

Mas a grande faixa do disco, sem dúvida, é “Part”. Ela é tocada duas vezes, a primeira com o trio e a segunda apenas com o solo de Fort. O trio toca como uma balada, com total independência para cada um dos instrumentos, num tempo livre e sem nenhuma liderança direta. Já na versão solo, a melodia é extremamente marcante, atraindo a atenção e sentimentos, em uma sinfonia triste, mas que exibe todas as cores e talentos desta magnifica pianista.

Com 49 anos, a pianista com carreira consolidada nos Estados Unidos (onde mora desde 1996) e também na Europa, após 12 anos de seu primeiro disco, em parceria com um dos seus mentores Paul Motian, mostra que tão importante quanto o talento é a capacidade de se reinventar e se adaptar, para seguir evoluindo.

Que suas cores sigam brilhando e colorindo o jazz.

Bebop

Turnê épica

Anunciada, na última semana, uma turnê envolvendo o grande nome do jazz atual Kamasi Washington, com a maior lenda viva da história do gênero, Herbie Hancock. Algumas datas já foram anunciadas e a turnê completa será divulgada até início de maio. Será um sonho para todos os jazzófilos assistir estes dois fenômenos da música juntos.

Tocando juntos pelo Rio

Hoje o Blue Note Rio promove um show beneficente para arrecadar fundos para as vitimas das chuvas. Os músicos George Israel, Toni Garrido, Alma Thomas, Gabriel Moura e Rodrigo Shá são algumas das atrações confirmadas. O valor de doação pode ser feito na bilheteria do local ou no site.

Disco da semana

Nesta sexta-feira, será lançada a trilha sonora composta por Wynton Marsalis para o filme “Bolden”, que estreia na primeira semana de maio. O filme retrata a história de Buddy Bolden, considerado um dos inventores do Jazz.