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A espiritualidade de Jordan Pettay

Reprodução -
Jordan Pettay
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Misturar religião com qualquer tema é sempre polêmico. Do futebol à política (este último, então, nem se fala), atrelar qualquer tema às questões religiosas causa divergências, criando uma autêntica batalha ideológica. A música, curiosamente, nos tempos atuais, é uma exceção, em um ambiente onde a religião pode transitar, sem grandes conflitos. O jazz e o blues beberam bastante da fonte gospel, na época em que foram criados, e vira e mexe surgem artistas com sons sofisticados e muitas referências espirituais. Jordan Pettay é uma delas.

A jovem saxofonista e compositora, formada pela Julliard School, inspirou-se na adolescência no jazz de Charlie Parker e Duke Ellington, mesclado à música gospel, bastante presente no Texas, onde ela cresceu. Orientada por grandes músicos, como Ron Blake e Steve Wilson, Jordan desbravou o mundo jazzístico e lançou este ano “First fruit” (Outside in music), o primeiro disco de sua carreira. Como não poderia deixar de ser, a obra é repleta de influências gospel e da soul music, além de reinventar tradicionais hinos e mostrar trabalhos autorais. Jordan lidera o grupo, revezando entre o saxofone alto e soprano, e é acompanhada por Christian Sands (que já foi tema da coluna) no piano, Luke Sellick no baixo, Jimmy Macbride na bateria, além dos convidados Joe McDonough no trombone (faixas 1 e 4) e Mat Jodrell no trompete (faixas 1 e 4).

Macaque in the trees
Jordan Pettay (Foto: Reprodução)

No disco, Jordan mostra sua musicalidade refinada e recria interessantes versões, como em “Straight street”, composta, em 1957, pelo mestre John Coltrane, mantendo a complexidade original, porém com doses certas de inovações, numa batida rítmica assertiva. “You make me feel brand new” é outra em que Jordan recria, com toda sua versatilidade, guiada pelos teclados de Sands e pela evolução da bateria de MacBride. “I am thine o lord” e “I exalt thee” exploram a linha gospel, em uma harmonia adorável e calma, que soa como uma “meditação”. A faixa de abertura “Whatever happens” ganhou minha preferência, com um ótimo trompete de Jodrell e todo o entrosamento da banda. Vale uma menção também à “I surrender all”, com riffs tocantes de Sands e solos afiados da protagonista.

Com apenas três faixas originais (incluindo a faixa título do álbum, que não fez muito minha cabeça), Jordan Pettay faz uma estreia segura em “First fruit” e nos anima para novas possibilidades autorais, em seus próximos trabalhos. Seu som tem despertado interesse de gigantes da música, como Herbie Hancock, Christian McBride e Wynton Marsallis. Residindo, desde 2014, no Harlem, histórico bairro da música nova-iorquina, Jordan tem tudo para se transformar em uma grande estrela do jazz, sem esquecer de suas raízes religiosas, que adicionam um tempero maravilhoso ao seu som.

Amém.

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