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Kamasi Washington incendeia o Circo Voador

Divulgação -
Kamasi Washington
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Já abordei algumas vezes neste espaço o dilema entre o jazz tradicional e os novos sons que vem surgindo. Apesar de ser um adepto ferrenho aos clubs intimistas, com trios e quartetos, não fecho meus olhos para as novidades do mercado e nem para os grandes artistas do momento. Se o jazz foi concebido e reconhecido graças a sua capacidade de improvisação, adaptar-se ao futuro também faz parte do jogo. E quando falamos sobre o futuro do jazz, quem puxa a fila é sem dúvida o saxofonista Kamasi Washington.

Kamasi esteve no Brasil há dois anos atrás, no Teatro Municipal. Com sessões esgotadas, ele trouxe o repertorio de “The epic” (Brainfeeder), seu álbum de estreia, com quase três horas de duração. Apesar da efusiva plateia, senti que o seu desejo era de buscar uma maior liberdade para os timbres modernos e inventivos do grupo. Na oportunidade, o vanguardismo do local, claramente, inibiu a modernidade sonora apresentada.

Macaque in the trees
Kamasi Washington (Foto: Divulgação)

Assim, após dois anos, Kamasi cumpriu sua promessa e voltou à cidade maravilhosa. A turnê do novo álbum “Heaven and Earth” (Young Turks), que também passará por Porto Alegre (hoje) e São Paulo (amanhã), fez sua estreia no último sábado, no Circo Voador, capitaneada pela produtora QUEREMOS!, do empresário Pedro Seiler. Animado com uma nova oportunidade de assistir o saxofonista, desta vez em um local mais “adequado”, abandonei a mesa do jazz club e me dirigi para a Lapa no sábado à noite.

As quase duas mil pessoas, dividas nas mais diversas tribos, vibraram com um Kamasi acelerado, abrindo o show com “Street fighter mas”, um dos grandes hits do novo álbum. A potência de seu saxofone, desta vez acompanhada de pulos e palmas da plateia, impressionou. Na sequência veio um clássico de The Epic, “The rhythm changes” faixa bem melódica, interpretada pela vocalista Patrice Quinn, que ficou abaixo do esperado, concluo eu, pela força instrumental de toda a banda, incrivelmente bem montada e entrosada, com Brandon Coleman no teclado, Miles Mosley no contrabaixo, Ryan Potter no trombone (esse com certeza ainda será tema da coluna) e Tony Austin e Ronald Brunner Jr nas baterias.

Miles Mosley assumiu o protagonismo na faixa seguinte “Abraham”, de seu álbum autoral “Uprising”, com uma introdução incrível e um swing bem temperado com o teclado de Brandon (além do vocal do próprio Miles). Kamasi retoma o manche em “Truth”, suíte do disco “Harmony of difference”, com quase quatorze minutos de duração, unificando todas as faixas do disco. As duas horas de show ainda reservaram espaço para um duelo de baterias que incendiou o público, seguido de “Fits of fury”, outro hit de “Heaven and Earth”, inspirada no filme a Fúria do Dragão, de Bruce Lee. Desta vez, o vocal de Patrice funcionou melhor.

Com algumas palavras em português e muita simpatia, Kamasi ainda retornou para o bis e, definitivamente, encantou o público carioca, que pode, finalmente, extravasar suas emoções, com a sonoridade desta lenda de apenas 38 anos. 

Alguns já ousam dizer que “Kamasi Washington é o Jon Coltrane dos novos tempos”. Ainda não me sinto confortável com essa afirmação, mas com certeza será um prazer acompanhar esta jornada, para, posteriormente, tirar minhas próprias conclusões.

A conferir. 

BEBOP

Norah Jones

Está anunciado, para o dia 12 de abril, o lançamento do novo disco da cantora Norah Jones, “Begin again”. A cantora declarou que tem intenções de vir ao Brasil ainda neste ano.

Agenda

Joyce Moreno convida Ana Martins essa sexta-feira as 21 horas no Manouche. O evento faz parte do festival Biscoito Fino, uma parceria da gravadora com a casa.

No Sábado o harpista Colombiano Edmar Castaneda se apresenta no Blue Note Rio, no projeto Jazz & Bossa Sessions, em dois sets, as 20 e 22:30.

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coluna | jazz | Kamasi