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Ralph Alessi encontra sua turma

Reprodução -
Ralph Alessi
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Em todo grupo de amigos, sempre tem aquele que fica responsável por organizar os encontros. Em regra, é o mais prestativo, que faz as compras do churrasco, lembra dos aniversários e não se incomoda em ser o “motorista da rodada”. No mundo jazzístico, o trompetista e compositor Ralph Alessi poderia tranquilamente ocupar esse cargo. Colaborador frequente de nomes como Steve Coleman, Fred Hersch, Jason Moran, Uri Caine entre outros, Alessi costuma estar cercado de grandes músicos, estimulando uma interessante variação sonora, que vai do pós-bop à neo classical music.

Em “Imaginary friends” (2019 – ECM), lançado na última sexta-feira, Alessi reuniu seu conjunto “This against that”, composto pelo pianista Andy Milne, pelo baixista Drew Gress e pelo baterista Mark Ferber. Para finalizar, Alessi também convocou Ravi Coltrane, saxofonista e amigo de longa data, formando uma entusiasmada linha de frente, que produziu um jazz criativo, sem perder o tom tradicional. Este é o terceiro álbum do trompetista pela ECM e o 13º de sua carreira como bandleader.

Macaque in the trees
Ralph Alessi (Foto: Reprodução)

As nove faixas contabilizam pouco mais de uma hora de duração e trazem uma música com nuances que remetem a atmosfera do interior americano, entre o bop modal, as paisagens sonoras evocativas e o lirismo midiático do jazz. Tal poderoso arranjo já pode ser ouvido na abertura, em “Iram issela”, em que, após solo pensativo a acelerado de Coltrane, todos instrumentos combinados criam uma mudança de fase, cuja simples melodia soa amplamente forte. Em “Oxide”, o grupo atravessa os sons sempre deixando bastante espaço para não atingir a linha um dos outros. Na faixa-título, uma das minhas preferidas, eles também tocam paralelamente um ao outro, explorando seus solos até se fundirem para um tom agudo final.

Em “Good boy”, com Alessi amparado pelo piano de Milne, boa dose de drama é acrescida ao senso lírico. Já em “Melee”, mais extensa das faixas do álbum, Ravi faz uma rara aparição com o sax sopranino, com um groove ligeiro. Em “Pittance”, Alessi constrói uma tensão digna dos filmes de suspense, alternando os padrões suaves e vibrantes com o mistério do piano, que integra melodicamente o tema. De uma forma geral, “Imaginary friends” mostra um repertório excepcional de temas, com tons suaves e livres, em que Alessi e sua turma demonstram claramente a sua vontade de fugir do óbvio, tornando esta mescla de ideias extremamente atraente.

Se no ano passado fui agraciado com a oportunidade de assistir Ravi Coltrane na Sala Cecilia Meireles, quem sabe este ano não recebemos Alessi e sua turma para um encontro inédito em solo brasileiro?

Se precisar, eu ligo e organizo.

BEBOP

Olho nele O trompetista Theo Crocker está sendo considerado a “bola da vez” da nova geração do jazz. Aos 33 anos, o pupilo do lendário Donald Byrd, que traz uma fusão do jazz com outros ritmos, como a salsa, hip hop e blues, lança seu quinto álbum no primeiro semestre deste ano.

CJUB Quem gosta de jazz no Rio de Janeiro com certeza já ouviu falar do CJUB, blog criado em 2002 por amigos que estudam (e sabem muito) sobre jazz e Bossa Nova. Anualmente, no extinto Mistura Fina, a turma organizava noites musicais. Neste mês, os encontros finalmente voltam a acontecer, agora no Blue Note Rio. O primeiro deles prestará homenagem a Michel Legrand, comandada pelo saxofonista Idriss Boudrioua. Imperdível.