ASSINE
search button

Minha "Kind of blue"

Thiago Goes -
.
Compartilhar

Em 17 de Agosto de 1959, Miles Davis reuniu um dos melhores quintetos da história para gravar aquele que é considerado o maior álbum de jazz de todos os tempos. “Kind of blue”, dos lendários John Coltrane, Bill Evans, Cannonball Adderley, Paul Chambers e Jimmy Cobb, foi um marco na revolução jazzística,trazendo, à época, um novo som, que posteriormente veio a inspirar incontáveis trabalhos de sucesso.

Quando algo mágico assim é produzido, além de perpetuar na memória de todos, o trabalho se transforma numa espécie de “selo de qualidade”, utilizado somente para se referir àquelas coisas inigualáveis e soberanas. Alguns amigos fazem analogias com futebol. As minhas, claro, são sempre com jazz.

Essa semana faz seis anos que cheguei ao“Kind of blue” da minha vida. E ela atende pelo nome de Giovana Miranda Goes, minha doce e preciosa filha. A paternidade tem interessantes semelhanças com o jazz. Por mais que você planeje e domine suas ações, é necessária uma boa dose de improviso quando uma criança chega ao seu mundo. Gigi veio e trouxe o ritmo certo que eu tanto buscava. Todos os êxitos que temos na vida, no âmbito profissional ou pessoal, viram detalhes quando falamos da realização de ter um filho e do amor incondicional por ele.

Macaque in the trees
. (Foto: Thiago Goes)

Educar uma criança é uma “jam session” desafiadora, por melhores que sejam as referências de sua própria educação. Como meu pai gosta de dizer, “filho não vem com manual de instruções”, sendo necessário entender seu ritmo, seus desejos e sua personalidade. Ao longo destes anos, ao lado da minha esposa, Carolina, aprendo diariamente sobre esta, que é a mais importante de todas as missões da vida.

Durante esta missão, sempre mostrei à Giovana o meu amor pelo jazz. Não é fácil para uma criança entender um gênero musical, ainda mais com as complexidades que guarda o jazz. Contudo, a mensagem nunca foisobre os solos de Miles Davis ou as composições de Thelonious Monk, mas sim sobre a paixão e estudo do pai por algo que ele realmente se importa e como isto contribui diariamente em suas decisões. Para mim, isso é educar. Se ela no futuro gostar de funk ou sertanejo, irei, é claro, respeitá-la, pois o objetivo é que ela saiba desde cedo a importância de nos dedicarmos ao que realmente gostamos.

No amigo oculto da família ontem, ela anunciou:“O meu amigo oculto ama jazz”, deixando o pai todo orgulhoso. Da mesma forma, quando reconhece as músicas de Chet Baker, Frank Sinatra e até “Round midnight”, o “hino do jazz” como gostamos de chamar. Sinto que estou passando minha mensagem com êxito.

2018 está chegando ao fim e dedico, emocionado, a última coluna do ano à minha filha que, com olhos tão expressivos e coração cheio de amor e carinho, diariamente, me inspira a me tornar uma pessoa melhor.

Giovana Miranda Goes, você é jazz para mim.

BEBOP

Chet Baker No ultimo domingo, o gênio do “cool jazz” Chet Baker completaria 89 anos. Chet foi um dos grandes influenciadores da minha paixão pelo jazz, com seu fraseado único no trompete e uma melodia que inspirou tantas gerações de músicos. Sua memória e, principalmente, sua música seguem vivos para todos os amantes do jazz.

Feliz Natal e Ano Novo A coluna aproveita para desejar um ótimo Natal para todos e um Ano Novo repleto de realizações. Que 2019 seja um ano de muitas vitórias, embalado pelo melhor do mundo jazzístico. Saúde!