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A jornada criativa de Chucho Valdés

Divulgação -
Chucho Valdés
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Estive com Chucho Valdés em abril, numa visita que fiz ao Blue Note de Nova York. O pianista estava com sua banda Irakere, criada na década de 1970, homenageando as raízes africanas de Cuba, numa residência de cinco dias no jazz club. Entre reuniões e sets lotados, conseguimos rapidamente trocar algumas palavras. Chucho (ou Dionisio de Jesús Valdés Rodríguez, seu nome de batismo) contou que viria ao Brasil em agosto com o amigo Gonzalo Rubalcaba para o projeto “Trance”. E que a agenda seria corrida durante o ano, pois além dos shows, pretendia lançar em novembro seu novo disco “Jazz Bata 2”, resgatando os conceitos inovadores do primeiro “Jazz Bata”, lançado em 1972. Embora interessado, não quis atrapalhar seu jantar e guardei a curiosidade por alguns meses.

Macaque in the trees
Chucho Valdés (Foto: Divulgação)

Eis que “Jazz Bata 2” finalmente chegou ao mercado na última sexta-feira, lançado pela Mack Avenue Records. Assim como o primeiro, a temática segue girando em torno do folclore e das crenças religiosas dos escravos Iorubás, enviados ao Caribe entre 1770 e 1840, porém com panoramas bem mais amplos. Em tom eclético e elegante, seu extraordinário piano faz a interessante fusão com as virtudes do tambor de batuta e da percussão, representados fabulosamente por Dreiser Durruthy Bombale e Yaroldy Abreu Robles.

A faixa de abertura “Obatala” foi descrita por Chucho como uma mini suite dedicada ao deus Iorubá da sabedoria e justiça. Ficou fácil enxergar na faixa as curvas do jazz com a doçura da música cubana, sustentados pelas tradições iorubás. A mistura segue permeando grande parte do disco. “Jazz Bata 2” também é uma homenagem ao pai e professor de Chucho, o lendário Bebo Valdés. A faixa “100 años de Bebo” (grande parte escrita pelo próprio) presta uma homenagem com todo gingado cubano, além da linda participação do violino de Regina Carter, que deixa o tributo ainda mais cativante.

Minha faixa favorita, “Chuchos mood”, surgiu de uma jam session, ou no dialeto cubano, “descarga”, com arranjos atrevidos e ótimos solos de baixo (liderados por Yelsy Heredia) e batuta. As bem arranjadas “Luces” (também me encantou) e “Ochun”, evidenciam a qualidade da gravação do disco. “The clow” fecha de maneira perfeita com o piano de Mr. Valdés nos levando para uma montanha-russa de linhas que passeiam das mais variadas maneiras, sempre com uma deslumbrante resolução.

Aos 77 anos, Chucho segue conduzindo com maestria o piano e brilhando como poucos na paisagem musical do jazz latino. De Nova York ao Rio de Janeiro, é sempre um prazer acompanhar a evolução (ou, melhor, revolução) de seu trabalho. Só está faltando a visita a uma de suas “descargas”, de preferência em Quivican, município onde ele nasceu em Cuba e aprendeu as primeiras notas com Bebo. Acrescente um mojito (ou dois) e essa jornada será mais uma daquelas noites que só Chucho consegue nos proporcionar.

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BEPOP

Herbie Hancock

Estive com a lenda viva do jazz Herbie Hancock, no último domingo, em sua passagem pelo Brasil. Na companhia de Teca Macedo, produtora do “Dia internacional do jazz”, Herbie mostrou uma visão de mundo, de fato, diferenciada, evidenciando que seu talento vai além da veia musical. Em breve, conto aqui como foi esse inesquecível encontro.

Duo partilhas

O arranjador, maestro e pianista Wagner Tiso se apresenta ao lado do amigo e violoncelista Marcio Mallard, nesta quinta-feira, no Blue Note Rio, em duas sessões.