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A cena jazzística renasce em Buenos Aires

Thiago Goes -
O trompetista Juan Cruz de Urquiza lidera trio
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O Caminito e suas cores marcantes são criação de um artista plástico que se queixava do cinza da cidade: Benito Quinquela, que chegou a convencer moradores a pintarem suas casas segundo a paleta que ele próprio sugeria. A história de que famílias pobres do bairro pegavam restos de tintas usadas para pintar navios e com elas coloriam suas casas é, segundo Duda Teixeira, autora do “Guia Secreto de Buenos Aires” (Record), uma balela contada para turistas. Na última semana, dei uma rápida escapada para a capital argentina e, para além do Caminito, fiz, seguindo a dica de amigos, meu roteiro jazzístico pela cidade.

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O trompetista Juan Cruz de Urquiza lidera trio (Foto: Thiago Goes)

Buenos Aires me surpreendeu positivamente, em todos os aspectos. A grave crise econômica argentina não impacta, aparentemente, no turismo, que segue forte com bares, restaurantes e lojas movimentadas. Apesar da falta de paciência dos taxistas e de algumas áreas malcuidadas, a cidade é um excelente destino para famílias e casais que buscam um turismo a preços acessíveis.

Se no turismo em geral a surpresa foi boa, na cena musical, foi melhor ainda. Com a vida noturna em alta, não faltam opções de casas de shows. Dos pequenos estabelecimentos com música ao vivo a suntuosas boates de três andares, a música está espalhada pelos bairros para além do clichê do tradicional tango argentino, que claro, ainda tem seu espaço.

Jazzisticamente falando, fiz questão de visitar as principais casas recomendadas por amigos músicos, com a promessa de que encontraria bons shows. Na primeira noite, fui ao Thelonious Club (Nicaragua 5549, Palermo Hollywood), aberto desde 2000. O espaço, que já foi diversas vezes citado pela revista especializada “Downbeat” como uma das 50 melhores casas de jazz do mundo, corresponde às expectativas e exigências de um jazzófilo: som de primeira, serviço bom, cardápio limitado, mas com qualidade, e uma agenda recheada de boas opções. Assisti ao excelente Juan Cruz de Urquiza, com seu trio tocando standards no primeiro set. Urquiza (na companhia do filho no contrabaixo) manteve seu trompete afiado reproduzindo clássicos de Chet Baker, Duke Ellington e Billie Holiday, com a participação da cantora Anita Dondorff. O segundo set recebeu o trio feminino Bourbon Sweethearts, que tocando clássicos do Dixieland e do jazz dos anos 1930, levantou a plateia na voz da cantora Melisa Muniz. Gastei R$ 75 reais para ver os dois shows, igualmente cheios, numa excelente experiência.

Saindo de lá, me aventurei ainda no The Brothers Club (Av Cnel Niceto Vega 5572), bar no coração de Palermo Hollywood, que tocava um blues um pouco acima do volume necessário, e que, apesar de cheio, não prendeu tanto minha atenção.

No dia seguinte, resolvi sair de Palermo, e cruzar a cidade para conhecer o também recomendado Bebop Club (Moreno 364 – San Telmo). A casa reproduz com excelência o conceito de jazzclub. Localizada no subsolo, tem suas cortinas vermelhas e abajures com luz baixa nas mesas. A casa abre com um primeiro show, seguido de dois sets com intervalos durante o próprio set, e não somente ao final de cada um. Assisti no primeiro show a um tributo a Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, que, apesar dos clássicos temas , não chegou a empolgar. Empolgação essa que veio a galope no set seguinte, com a excepcional banda Nube9, que fez uma apresentação em tom blueszeiro com temas de John Lennon e Paul McCartney, liderada pelo carismático guitarrista e cantor Fernando Blanco.

Da lista, ainda faltou a visita ao Notorious (Av. Callao 966) e ao Luna Park (Av. Eduardo Madero 470), casa de espetáculos que receberá no dia 14 de novembro a lenda do piano Herbie Hancock. Fica para a próxima!