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Christian Sands une talento à diversidade

Divulgação -
Christian Sands une talento à diversidade
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Quando chega sexta-feira à noite, o momento é de começar a aproveitar o fim de semana. Eu e minha mulher, Carolina, por exemplo, temos por hábito tomar um drinque para relaxar as tensões naturais que permeiam o dia a dia de um casal. O que varia são as preferências: enquanto aprecio um bom scotch, ela opta por um vinho tinto, ou, em dias mais animados, por um gin tônica. Não faz mal. Se o interesse é mútuo, as diferenças transformam o momento em algo ainda mais interessante. É assim com a música de Christian Sands, que mostra como a diversidade pode ser intrigante.

Com 29 anos, o pianista já é saudado pela crítica como o maior pianista de sua geração e, apesar da pouca idade, já possui uma interessante discografia como band leader, e também como sideman, tocando ao lado de grandes nomes, como o baixista Christian McBride e o cantor Gregory Porter.

Em “Facing dragons” (Mack Avenue Records), seu mais recente trabalho, Sands traça um excelente e moderno repertório, porém diversifica de maneira intensa sua musicalidade no universo do jazz, fazendo jus à fama de arranjador inteligente e de compositor imaginativo (relatos da família atestam que Sands compôs pela primeira vez aos cinco anos de idade). O nome do álbum é uma provocação do pianista, que acredita que os ouvintes precisam seguir “enfrentando seus dragões”, permitindo usar a tradição da música para buscar novas direções.

De fato, o álbum é uma montanha-russa de ritmos, melodias e arranjos, alternando expressões latinas com clássicas de jazz. Com oito faixas originais e uma versão quase hipster de “Yesterday”, dos Beatles, Sands é acompanhado de uma excelente banda, com nomes do calibre de Marcus Strickland no saxofone (membro do Blue Note All Stars) e Keyon Harrold no trompete. Mas, como é de se esperar, seu piano é que se sobressai, liderando o caminho da maioria das faixas, com um domínio de tirar o fôlego.

Macaque in the trees
Christian Sands une talento à diversidade (Foto: Divulgação)

Buscando a diversidade dentro do álbum, me encantei com “Fight for freedom”, com vistosas referências ao hard bop de Art Blakey e Horace Silver. O sax de Strickland traz um tom riquíssimo e com a profundidade exata para o tema. “Sangueo soul” e “Samba de vela” exploram o lado latino, com ritmos caribenhos e da América do Sul. As baladas “Rebel music” e “Her song” agradam à turma jazzófila, com excelentes solos e um trabalho consistente do baixista Yasushi Nakamura. “Sunday morning” traz o viés gospel, fruto da crença religiosa de Sands. “Rhodes to meditation” encerra o disco em uma profunda peça solo regida por um piano elétrico Fender Rhodes, buscando uma interessante reflexão e garantindo a conexão com a história contada em todo o disco.

O trabalho de Sands mostra como variar e sair do tema principal, sem que isso precise ser um ato extremo ou de intensa discordância. A oposição invariavelmente traz uma pluralidade interessante, sendo proveitosa para os interlocutores, embora muita gente, nestes árduos tempos , não acredite nisso. Para mim, diversificar é preciso, seja na música, na política ou até nos drinques do fim do dia. Um brinde a todos e ótima semana.

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Bebop

Diva do jazz Lenny Andrade se apresenta no sábado, às 21h, pela primeira vez no clube Manouche, na Casa Camolese. O show faz parte do projeto “Mistura Sessions”, com curadoria de Pedro Paulo Machado, fundador do emblemático Mistura Fina.

Tributo a Count Basie Ainda no sábado, a Baixada Jazz Big Band se apresenta no Blue Note Rio com um tributo ao lendário pianista Count Basie, às 22h30.