ASSINE
search button

Entre raízes africanas e a música do futuro

Reprodução -
"The people could fly" (Ubuntu Music)
Compartilhar

Nunca mencionei na coluna minha predileção pelo saxofone, instrumento que é símbolo dos primeiros passos do jazz lá nos subúrbios de Nova Orleans. Tanto que há três anos, me arrisco fazendo aulas na busca por um maior entendimento de seu som e de sua história. Curiosamente, percebi que os saxofonistas foram pouco abordados por aqui, preteridos na maioria das vezes pela turma do trompete ou do piano. Chegou a hora de equilibrar essa conta, e com um talento ainda pouco conhecido, que mescla um potente timbre com referências históricas, criando um jazz moderno naquilo que os jovens chamam de “world music”.

Nascida na Nigéria e radicada em Londres, Camilla George lançou, no início do mês, seu segundo disco da carreira. “The people could fly” (Ubuntu Music) é uma incrível mistura do jazz com ritmos africanos, sobrando até espaço para um leve hip hop. O nome do disco foi uma homenagem a um folclórico livro de contos africanos que Camilla ganhou de sua avó na infância.

O som é rico e completo, mas sem exageros de notas. Amparada por uma entrosada e moderna banda (com destaque para Sarah Tandy no piano), as oito faixas do disco são divididas em quatro do quarteto e outros quatro com o agradável vocal de Cherise-Adams-Burnett. Daniel Casimir (baixo) e Winston Clifford (bateria), ambos bem conhecidos no mundo do jazz britânico, completam o quarteto. O disco ainda tem a participação Shirley Tetteh na guitarra e Quentin Collins no trompete.

De facílima audição, o álbum abre com “Tappin the land turtle”, liderado pelo vocal de Cherise caprichado nos tons da África. O sax alto de Camilla comanda a faixa seguinte “He lion, bruh bear, bruh rabbit”, num timbre que busca não oscilar tanto fora das frequências médias, mas com uma variada e interessante entonação.

“Litle eight John” encabeça minha lista de preferências, com uma balada clássica de jazz, na qual o sax de Camilla se mostra de maneira genuína e verdadeira, abrindo passagem para o vocal de Cherise. “Here but I’m gone” fecha o disco na mais comercial das faixas, concluindo o tom diversificado que rege o trabalho.

Macaque in the trees
"The people could fly" (Ubuntu Music) (Foto: Reprodução)

Em recente entrevista, Camilla declarou que gosta dessa mistura de estilos e que tem em suas principais referências os músicos Fela Kuti e Jackie McLean. A saxofonista, que começou a tocar aos oito anos de idade, tem uma visão peculiar sobre o jazz: acredita na sua reinvenção, de uma forma mais dançante, em que o gênero não seja resumido a pessoas sentadas escutando a música.

Ainda que eu tenha minhas dúvidas quanto a esse conceito, gosto de sua provocação. E por falar em provocação, quem sabe daqui a alguns anos ela não me convida para uma jam session?

Bepop

Épico encontro da Bossa Nova Está em negociação final o acerto de um show histórico reunindo os grandes nomes da Bossa Nova, num dos mais emblemáticos locais da cidade. O evento será aberto ao público, no início de dezembro. Dedos cruzados.

Jazz e o cinema A turma do AC Jazz e Ronaldo Diamante fazem uma homenagem ao filme “O último tango em Paris”, sexta-feira, no Blue Note Rio.