
Qual instrumento falta para o Gilson Martins? Porque ele é o próprio homem dos sete instrumentos (ou mais). Do aluno da Belas Artes que fazia bolsas com materiais de carros até hoje, ele não para de reinventar. Este verbo, tão banal atualmente, se encaixa no seu conceito de trabalho, há quase 30 anos focado na reutilização de plásticos e retalhos diversos.
Torcedor do Flamengo, adepto das Escola de Samba, a base da criação é a cidade do Rio de Janeiro. Se descobriu artista plástico, transformou a sala dos fundos de Ipanema em galeria de arte, onde recebe também trabalhos de artistas focados nesta cidade.
Do chão de fábrica

De novo: usar retalhos também é um caminho comum nas marcas que se dizem sustentáveis. Para Gilson o começo foi pensar no que fazer com os recortes que sobravam das bolsas com o Cristo Redentor aplicado.
“Foi em 2017, olhando o chão da fábrica cheio de restos que iriam para o lixo, que saiu esta exposição Matriz – o lixo como origem. Ela retrata a essência da cidade multifacetada, mostra desde lugares como a Lagoa, o Cosme Velho, o clima alegre, até o caos, um arrastão no Arpoador”.

Até aí, também nada de novo. O detalhe inovador é a técnica: as sobras, expostas em uma cortina no meio da galeria, são selecionadas, formam novas imagens, costuradas com espaço de 4mm. Como se fosse uma costura repetida, unindo os recortes. O resultado é indescritível, não dá para imaginar as manobras nas máquinas de costura para o efeito final, que, além de prender os pedaços, acaba fazendo parte da criação.

Estas obras de pedaços de plástico costurado são reproduzidas como gravuras de edição limitada, assinadas. São 30 impressões das pequenas (entre as quais, a do arrastão, em tons de verde, destaque na expo) e 10 das maiores. Algumas estão prontas, na prateleira que mostra os materiais usados no estúdio de confecção frequentado por crianças, amigos e as equipes de consulados. Aliás, este pessoal internacional curte tanto os trabalhos do Gilson, que um grupo de cônsules mereceu uma visita prévia da exposição.
Mais um instrumento
Acham que o Gilson para por aí? Se pelas bolsas, carteira, mochilas e outros acessórios de plástico ele é conhecido até no Japão, agora recupera outra forma de Arte: a Bossa Nova! Compõe, canta e inclui em todas as plataformas de música canções como Carioca no Rio, Olha o mate, Bondinho..
Para quem pretende mostrar o amor por esta cidade doida ou presentear um amigo gringo, os preços da mostra ficam entre R$ 2 mil e R$ 4.800.
O que falta para o Gilson Martins? “Mais turistas! Eles amam esta cidade. Já vi empresários chorarem quando se despedem do cargo em multinacionais.”
Pelo jeito, ainda teremos um guia ou um secretário de turismo para animar a paixão pela cidade.