IESA RODRIGUES
Originalidade de pai para filho
Publicado em 08/07/2023 às 10:53
Alterado em 08/07/2023 às 11:55
Originalidade: esta sempre foi a definição do trabalho do joalheiro Pepe Torras. Se contou com Salvador Dali como um de seus mestres, o barcelonense Pepe (apelido de José) Torras tinha ideias diferentes das tradicionais peças em ouros e brilhantes.
A marca faz 50 anos e na ausência de Pepe, o filho Paco (apelido de Francisco) se viu à frente da continuação da joalheria no Leblon.
"Sou arquiteto, com doutorado em Gaudi, em Barcelona. Não sabia diferenciar um diamante de um pedaço de vidro. Em três anos, tenho um acervo de 1.500 peças criadas desde o começo do meu pai. E senti que a joia sempre esteve por perto, desde criança: conhecia os fornecedores, via meu pai trabalhando, ouvia os comentários. Atualmente, lanço 10 peças por mês, entre recriações, criações e cópias descaradas do que meu pai fazia" conta Paco, manuseando envelopinhos brancos que transportam os diamantes.
Os impossíveis
Algumas joias originais nunca mais serão reproduzidas. Um exemplo é a série de pingentes de avelãs, nozes, castanhas ou amendoins. Pepe comprava na Casa Pedro e transformava em preciosidades emolduradas por ouro. Mas a jóia de árvore continua, assim como as marchetarias e inclusões de madeiras como jacarandá, roxinho e cumaru e até o livrinho feito há 40 anos. Este é um objeto afetivo, todo em ouro, da capa às páginas que podem ter nomes e fotos impressas.
As criações
O pai morreu numa quinta-feira, na segunda-feira Paco entrou na loja, que teve que fechar quase em seguida. “Enfrentamos a pandemia, a alta do ouro, o dólar nas alturas. Tinha funcionários que trabalhavam há 35 anos, o chefe da oficina me ensinou tudo. Não sabíamos que tínhamos uma marca tão forte, temos quatro gerações de clientes. Muitos chegam aqui com três metros de esmeraldas compradas na Índia; senhoras trazem uma quantidade de baguetes de diamantes que se transformam em uma pulseira que chamo de Skyline. Mas há também quem peça uma cópia do anel da Princesa Diana...”
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A pedra favorita do Paco é o olho-de-tigre, depois do diamante, que recebe nos envelopinhos brancos. Paco também mostra, encantado, pacotes de corais. “Estão em extinção, estes ainda são de Capri, têm uns 100 anos. Coral é vivo, a joia não pode usar usada com cremes ou álcool”. As ágatas formam um brinco que pode ter as pedras trocadas _ são cerca de oito cores, e a clientela leva todas! Outra delicadeza é a esmeralda, que não deve ser guardada em algodão, porque ele seca a pedra, tira o brilho.
“Achei que entrando na loja em junho de 2020, continuaria só até o Natal. Mas estou aqui, há três anos, com seis coleções feitas por mim, algumas com conceitos de arquiteto, como o anel quadrado. Por enquanto, o que ainda não deu certo foi a série de travessas de cabelo. (NR: acho que as noivas ainda não descobriram como são bonitas e preciosas). Aprendo todo dia. Só não sento na bancada do meu pai.”