IESA RODRIGUES
Sustentável, de novo
Publicado em 01/07/2023 às 10:23
Este assunto continua em alta. Há muitas ações tentando chegar a um resultado convincente, driblando falta de matéria prima e a necessidade de processos químicos de acabamentos. Uma fusão de estilo e ética, a sustentabilidade enfrenta o maior atributo da própria moda: a evolução de tendências. Ter uma roupa em algodão orgânico talvez tenha uma vida útil de estilo durante apenas um verão. Mesmo assim, você compra um vestido neste algodão, crente que está colaborando com a integridade do planeta. E aí, lê o livro O Agronegócio do Algodão – meio ambiente e sustentabilidade, onde Yamê Reis, fundadora do evento Rio Ethical Fashion, demonstra que o algodão orgânico não é tão inocente em relação às mudanças climáticas. Consumidora hesitante quanto à sua boa intenção, investe na linha de calçados da Melissa, em colab com Marc Jacobs. Pelo menos a campanha da coleção conta que são feitos com cana-de-açúcar e garrafas PET.
Embaixador do Oceano
Vídeo “Surfing the Mountains - Andes 1994, Alaska 1999, Himalayas 2006” Leonardo and Oskar Metsavaht Trilogy - Terras de Aventura Produções
Oskar Metsavhat começou a marca Osklen criando um casaco adequado para escalada de montanhas a sério, tipo Himalaia. Desta jaqueta e destas aventuras nasceu o conceito de proteção da Natureza, a ponto do Oskar ser nomeado embaixador para sustentabilidade para a Unesco e década do oceano. O aproveitamento de peles de peixes da Amazônia e o desenvolvimento de tecidos com processos menos agressivos à Natureza justificam os títulos e a fama internacional da Osklen.
O lado artesanal
Neste caso, a sustentabilidade reside no emprego dado a grupos de talentos que bordam, tecem e criam rendas. Assim como a Natura, marca de cosméticos, que garante sustento de centenas de famílias cultivando elementos usados nas fórmulas dos produtos, profissionais como Almerinda Maria dão trabalho a rendeiras que dominam os maravilhosos pontos e recortes das rendas renascença e richelieu. É o sustento pelo lado mais humano, possibilitando renda para quem trabalha e a continuidade de técnicas invejadas até pelos criadores originais. Muitos grupos de estudiosos europeus chegam ao Brasil para reaprender as técnicas destes bordados e rendas que eles mesmos trouxeram para o Ceará, Pernambuco, Alagoas.
Ações positivas
Anne Garcia, estilista ítalo-brasileira, define a moda sustentavel como uma forma de expressão.. “A moda pode ser uma ferramenta poderosa para inspirar ações positivas em prol do meio ambiente”, comenta. Depois de lançar uma linha de biquínis de luxo com detalhes em ouro e diamantes em 2013 para o consumo da Itália e países árabes, atualmente Anne comanda uma produtora de filmes independentes, a Ponnto Production, onde pretende atender a consultas sobre preservação do meio ambiente no mundo da moda. Uma ação mais prática: Anne destaca pontos importantes para conseguir preservar o meio ambiente
• Fibras orgânicas, como o algodão, cânhamo, linho e seda, sem o uso de pesticidas ou produtos químicos.
• Materiais reciclados, como garrafas plásticas, fios de nylon regenerado ou tecidos provenientes de roupas usadas. A especialista comenta que, na Itália, uma empresa desenvolveu um tecido a partir de cascas de laranja
• Sapatos fabricados de materiais como cortiça, borracha natural, couro vegetal
• Jeans fabricados com algodão orgânico, técnicas de lavagem e tingimento mais eco-friendly, e processos de produção que reduzam o consumo de água e energia.
• Roupas vintage ou de segunda mão. É uma maneira sustentável de estender a vida útil das peças e reduzir o desperdício.
• Moda upcycled: peças fabricadas a partir de materiais de descarte ou roupas antigas, remodeladas e transformadas em novos designs únicos e modernos.
Resultados práticos
Da China, com um lançamento digno de um desfile, veio o Haval 6, carro da empresa GWM. Em local já visto em apresentação da Osklen, o lado virado para a baía do Museu do Amanhã e o playlist competente do DJ Alok, o argumento sustentável foi o abastecimento híbrido do modelo. Na plateia, além de revendedores do ramo, gente de moda para admirar o tom de azul topázio tão previsto nas tendências.
Na Bélgica, amigas de Maia Martins, produtora de programas para a TV, se reúnem para trocar roupas e acessórios, para renovarem os guarda-roupas. No Japão, jeans antigos são cortados e refeitos em novas peças. Faltava uma manifestação de grandes marcas. A ação mais recente vem da Itália: a grife D&G, da dupla de designers Domenico Dolce e Stefano Gabbana, assina um figurino em upcycling para outra dupla, a coreana DnE, de Dong Hae e Eunhyuk, na turnê DElight Party. Calça jeans e jaqueta, look todo de retalhos de jeans, em diferentes tons, devidamente reciclados para um visual sem desperdício. Estão à venda, para quem se dispuser a investir US$ 3.150 na calça e US$ 3.800 na jaqueta. Desde que não sejam para enfrentar os palcos, como faz a DnE. Porque nos bastidores há sempre uma figurinista ocupada, costurando as roupas que se rasgam, desfiam e descosturam com as coreografias rápidas. Em todo caso, valeu a intenção, Dolce & Gabbana.
Não é fácil ser sustentável. Continuamos tentando.