IESA RODRIGUES
SPFW 51 em mais uma versão digital
Publicado em 26/06/2021 às 09:37
Alterado em 26/06/2021 às 09:43
A 51ª edição da São Paulo Fashion Week apostou no tema Regeneração. Com coleções, palestras, conceitos, ocupou esta semana com a esperança de dias melhores para a moda. Não é fácil continuar acreditando em vestir pessoas à beira do medo de se ver dentro das estatísticas da pandemia.
Mas a moda tem um lado Arte impossível de ser reprimido. Outra evidência desta impossibilidade é a poesia, que volta a circular nas redes sociais. Ou as fotos feitas por fotógrafos como Eduardo Alonso, em suas madrugadas de bicicleta pelas praias. Portanto, vale acompanhar as propostas de São Paulo e sonhar com o dia de vestir os lindos modelos bordados que dominam as coleções. Selecionei alguns destaques:
VÍDEO
Isabela Capeto: A partir de agora, pode ser considerada uma Schiaparelli brasileira. A italiana criava saias com lagostas e caramujos. Isabela consegue mostrar tanto os jeans bordados com olhos estilizados, como encantar com as bananinhas carimbadas e rebordadas nas lapelas ou mamões partidos colorindo saias.
VÍDEO
Ronaldo Fraga: o que esperar do Ronaldo? Muita história, muitos personagens, muita paixão pela cultura e a pesquisa. Desta vez, o mineiro, agora de barba branca, foi para Juazeiro do Norte, terra do Padim Ciço, para servir de cenário para vestidos coloridos, longos com decotes de passamanaria, um trabalho artesanal que parece um fuxico gigante. Interessante como cada look daria uma coleção. É uma quantidade de inspirações transformadas em realidade, coerente com as histórias que são contadas.
VÍDEO
Aluf: muito bom ver que os novos continuam corajosamente se reinventando. Aluf pode não ser ainda uma marca famosa nacionalmente, mas basta ver seu vídeo para gostar do trabalho. O conceito A Beleza Oculta do Cotidiano mostra cenas simples, um jarro de água, uma flor, um momento em uma cadeira. Nas roupas, belos trabalhos de golas pregueadas, modelos brancos, macacões fora dos padrões.
VÍDEO
Àlg: um estilo masculino esportivo, desfilado na quadra de basquete da Hebraica, em São Paulo. Parece batido? Até que não pela maneira de lidar com as proporções, grandes casacos e leggings estreitas. A camuflagem volta forte, por uma razão sensata: é uma coleção feita com reaproveitamento de tecidos do estoque. Maravilha.
VÍDEO
Igor Dadona: um dos mais conceituais da semana. Vídeo em preto e branco, roupas no limite do figurino, em quadrados ou círculos grandes. O modelo asiático mergulha em uma xícara de café, balança em um barquinho de papel. Ok, todo evento deve ter algo assim, intrigante. Boas imagens no princípio, depois o tal do barquinho fica na onda da palhaçada.
Lilly Sarti: um desperdício de coleção. Pela maneira de gravar, de enquadrar os looks. Nada é visto por inteiro, e dava vontade de ver o corte da calça, o comprimento da saia. Medo de cópias? Talvez, mas faz parte desta profissão a clonagem de ideias. Muitos jeans com recortes, listrados, alcinhas, pantalona branca, tudo dentro do tema Percepção do Eu.
Esta edição tem mais acertos no modelo. Falta público, faltam likes, como se espera agora do online. Em média, há 800 pessoas assistindo – um número próximo da plateia presencial normal. Só que a apresentação online de uma live de jogo do Felipe Neto chega a mais de 100 mil pessoas assistindo, durante mais de duas horas. O evento precisa se divulgar melhor, talvez apostar em newsletters dirigidas e antecipadas.
Os vídeos são elaborados demais. Muitos são lindos, outros encantadores, como o do Ronaldo. Mas vi que é possível mostrar uma coleção como um desfile, em uma das séries que tenho assistido no Netflix. Passarela larga, luz perfeita, roupas impecáveis. Sem perder muito tempo com detalhes, cenários, jardins.
Outra questão: o conceito. Hedi Slimane criou uma moda masculina para a Celine, da qual já falei aqui no JB. Não vi o desfile, não vi cenário. Só quatro croquis, amostras de cores, look de beleza. O tema, Trovador, desencadeia uma viagem de estilos, de romance, se irreverência. Basta lembrar que Slimane é o corajoso que tirou o acento da grife Celine, porque provocava dúvidas em outras línguas. Lembrei de Yves Saint Laurent, capaz de olhar para a roupa da parisiense e transformar em absoluta inovação, de revolucionar a moda dos anos 1960.