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A volta do meu irmão

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1 - Sebastião Bráz entrega o retrato de meu irmão, quando da clandestinidade; 2 e 3 - Stuart Angel, depois e antes de seu disfarce; 4 - Com o antigo companheiro de ideais de meu irmão, Chico Andrade; 5 - Com a atriz Betina Vianny; 6 - Com muitos amigos, meu marido, o pai de Marielle e Bráz; 7- Com Agostinho Guerreiro e Carlos Fayal;
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São 47 anos de lembrar o martírio e a morte de meu irmão na Base Aérea do Galeão. Marcados indelevelmente, não há família que passe ilesa por tal tragédia. Desde então nossas vidas sangram. Mas lembrar é obrigação. No sábado, diante do busto de Stuart, eu receberia sua foto como jamais o chegamos a ver, clandestino. Ela me foi entregue pelo operário, antigo gráfico do Jornal do Brasil, Sebastião Braz, que guardou Tuti, anônimo, em sua casa modesta de Cordovil, até ele partir para a morte em maio de 1971. Disfarçado, em foto para um documento de nova identidade, aquele não era o meu irmão dos cabelos louros, olhos verdes, rosto escanhoado.

Macaque in the trees
Da esquerda para a direita - 1 - Sebastião Bráz entrega o retrato de meu irmão, quando da clandestinidade; 2 e 3 - Stuart Angel, depois e antes de seu disfarce; 4 - Com o antigo companheiro de ideais de meu irmão, Chico Andrade; 5 - Com a atriz Betina Vianny; 6 - Com muitos amigos, meu marido, o pai de Marielle e Bráz; 7- Com Agostinho Guerreiro e Carlos Fayal; (Foto: Reprodução)

O Stuart clandestino veio com cabelos negros, costeletas, bigode, óculos. Tão diferente, que me esforcei para reconhecer. Dessa forma, ele retornou a mim, em cerimônia singela, na presença de amigos dele, amigos meus, amigos da memória brasileira. E assim segue esse infindável velório, de um corpo que nunca tivemos. Pedi ao estimado João Francisco Werneck, parceiro nesta coluna, que fizesse o relato. Ele tem os mesmos 25 anos de meu irmão ao ser morto. Aqui, ele conta:

“Com muito respeito à história daqueles que deram a vida para pavimentar o árduo caminho da democracia no Brasil, tomada à força pelo golpe militar de 1964, assumo hoje o protagonismo deste espaço. Provado está que a ditadura assassinou Stuart na Base Aérea do Galeão da forma mais covarde possível, quando ele tinha mais ou menos a idade que tenho hoje. Empatia, tristeza, admiração e solidariedade impulsionam minhas palavras, escritas, desta vez, em homenagem ao seu martírio. Da casinha dos alunos de economia na UFRJ, que leva o seu nome e a eterna lembrança de sua passagem pelos corredores da Universidade, ao busto esculpido por Edgar Duvivier, que, ali em frente, faz justa homenagem à sua luta, a imagem de Stuart é uma ideia para ser constantemente relembrada, pois é por ele, e outros tantos companheiros que foram mortos, afinal, que seguimos lutando por um mundo mais justo. Em determinada ocasião, sua irmã disse: “Onde tem o busto de um idealista, tem a história, tem um evento, tem a esperança, tem perspectiva para os jovens”. Hilde estava coberta de razão. Mas é difícil falar de um herói cuja história foi desgraçada e interrompida por um regime de repressão cruel. Enquanto outros grandes personagens de nossa história, até menos importantes do que Stuart, como atletas e celebridades, dispõem de vasto material bibliográfico a seu respeito, ao nosso personagem restou pouco, sequer um túmulo para que seu corpo, destroçado pela ditadura, fosse devidamente sepultado. Sobre sua vida, quando muito, aparece um documento que se mantinha escondido, uma lembrança, ou simplesmente uma foto. Foi uma foto, aliás, recém descoberta por um companheiro dos tempos de clandestinidade, onde Stuart aparece disfarçado, que reuniu amigos e família neste encontro no seu busto, a estátua que preserva a sua história na Praia Vermelha.

Chovia no Rio de Janeiro uma tempestade insistente, que coloria o céu de cinza chumbo e causava imenso temor de o evento ter que ser adiado. Mas quis a divina providência, justamente no dia em que se celebrou a Imaculada Nossa Senhora da Conceição, que a chuva parasse por breves minutos, estiando pelo tempo necessário para que todos pudessem falar, cantar e celebrar a ocasião pela qual estavam reunidos. Além de velhos companheiros dos tempos de faculdade na UFRJ e de militância, estiveram por lá a atriz BetinaVianny; Vilmar Torres; Antônio Francisco, pai de Marielle Franco; Omar Catito Peres; Chico Andrade; Carlos Fayal; Agostinho Guerreiro e Dulce Pandolfi, Marcia Tiburi, Ana Maria Müller, Chica Dutra, Ruth Joffily, Celina de Farias, Manon Salles, Lucia Lima, João Pedro Werneck, Marcia Pereira, José Ricardo de Andrada Tostes, Beth Modesto da Silveira e muitos amigos. O Ato do Amor - como foi chamado o encontro - estendeu a homenagem a Stuart para todos e todas que deram suas vidas na luta pela democracia e liberdade durante os anos de chumbo, como Betinho, Henfil, Chico Mário, Sonia Maria Moraes Angel, Vladmir Herzog, Honestino Guimarães, Lamarca. Entre os discursos emocionados de seus saudosos companheiros e da Hilde, foi lida a última carta escrita por Stuart para sua mãe, Zuzu Angel, e foi cantada à capela a música “Imagine”, de John Lennon, o que não poderia ter sido mais emblemático e tocante. Através de eventos como esse, a memória de Stuart Angel permanecerá viva em nossos corações, contada de geração em geração, para que chegue aos ouvidos daqueles que estão por nascer. Stuart Angel, presente!”

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Da esquerda para a direita - 8 - Com Vilmar Torres, Antonio Francisco, pai de Marielle, Narcisa T.; 9 - Antonio Francisco, Bemvindo Sequeira e eu; 10 - O pai de Marielle discursa: até hoje nenhuma solução para o crime; 11 - Com Yone Kegler; 12 - Carlos Fayal comoveu com suas palavras de resistência; 13 - Lygia Jobim, que enfim pôde corrigir o atestado de óbito do pai: "assassinado (Foto: Reprodução)

Músico consagrado, Wagner Tiso comemora aniversário amanhã do jeito que escolheu passar a vida: no palco. Ele fará show no Clube Manouche ao lado de seus grandes amigos Márcio Malard, Zé Renato, Tunai, Dudu Lima Trio e outras surpresas.

O show e a celebração no Jardim Botânico marcam também o início das gravações do documentário de Wagner, por ocasião dos 60 anos de carreira, em 2019.

Com João Francisco Werneck

reprodução - 8 - Com Vilmar Torres, Antonio Francisco, pai de Marielle, Narcisa T.; 9 - Antonio Francisco, Bemvindo Sequeira e eu; 10 - O pai de Marielle discursa: até hoje nenhuma solução para o crime; 11 - Com Yone Kegler; 12 - Carlos Fayal comoveu com suas palavras de resistência; 13 - Lygia Jobim, que enfim pôde corrigir o atestado de óbito do pai: "assassinado
Reprodução - 8 - Com Vilmar Torres, Antonio Francisco, pai de Marielle, Narcisa T.; 9 - Antonio Francisco, Bemvindo Sequeira e eu; 10 - O pai de Marielle discursa: até hoje nenhuma solução para o crime; 11 - Com Yone Kegler; 12 - Carlos Fayal comoveu com suas palavras de resistência; 13 - Lygia Jobim, que enfim pôde corrigir o atestado de óbito do pai: "assassinado
Reprodução - Da esquerda para a direita - 1 - Sebastião Bráz entrega o retrato de meu irmão, quando da clandestinidade; 2 e 3 - Stuart Angel, depois e antes de seu disfarce; 4 - Com o antigo companheiro de ideais de meu irmão, Chico Andrade; 5 - Com a atriz Betina Vianny; 6 - Com muitos amigos, meu marido, o pai de Marielle e Bráz; 7- Com Agostinho Guerreiro e Carlos Fayal;
Reprodução - Da esquerda para a direita - 8 - Com Vilmar Torres, Antonio Francisco, pai de Marielle, Narcisa T.; 9 - Antonio Francisco, Bemvindo Sequeira e eu; 10 - O pai de Marielle discursa: até hoje nenhuma solução para o crime; 11 - Com Yone Kegler; 12 - Carlos Fayal comoveu com suas palavras de resistência; 13 - Lygia Jobim, que enfim pôde corrigir o atestado de óbito do pai: "assassinado