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Entrevista - Volney Pitombo, cirurgião plástico: "A estética acompanha a evolução do homem desde o tempo das cavernas"

Marcos Tristão -
Cirurgião Plastico Volney Pitombo
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As cirurgias plásticas no Brasil estão cada vez mais em alta. Motivo de orgulho nacional, a notável evolução médica na especialidade, nos últimos tempos, é consequência não apenas da excelência de nossos profissionais, como também por sua abordagem quase que artística nesse processo. Entre tantos nomes, há um expoente, um cirurgião plástico dotado de carisma, talento e, acima de tudo, saber. Este é o Dr. Volney Pitombo, o entrevistado desta semana pelo repórter da coluna JOÃO FRANCISCO WERNECK.

O dr. Pitombo acaba de voltar do Congresso Europeu de Cirurgia Plástica, onde foi um dos palestrantes mais celebrados por seus colegas. O evento, considerado um dos mais importantes no mundo, foi no Chipre, com centenas de cirurgiões plásticos de todo planeta, que se espremeram nas cadeiras das primeiras fileiras para ouvir os ensinamentos desse brasileiro, verdadeiro artista, responsável por mais de oito mil “novos narizes” e diversas outras cirurgias ao longo de sua carreira. Entre esses trabalhos, é impossível não destacar alguns que ficaram mais conhecidos, como os narizes de Murilo Benício, Bruna Marquezine e Débora Bloch. Nas mulheres que pontificam no noticiário social, marcou época a cirurgia de “reconstrução” do corpo inteiro da consultora de eventos Tânia Caldas, após uma cirurgia bariátrica que a fez perder algumas dezenas de quilos. Tânia se tornou uma nova mulher, recuperando a decantada beleza de sua juventude.

Volney Pitombo nos recebeu em seu consultório, em Botafogo, por onde passam algumas das maiores artistas brasileiras (e dos artistas também), muitos famosos e socialites. E o que essas pessoas têm em comum? Nenhuma, jamais, ousou voltar para reclamar. Pitombo não se permite errar e por isso sempre acerta. Não é sem razão que sua fama o precede. Nessa conversa, ele fala das particularidades de seu trabalho, e faz uma imersão em seu passado, relembrando histórias e detalhes que fazem dele, hoje, um dos maiores cirurgiões plásticos no mundo.

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Cirurgião Plastico Volney Pitombo (Foto: Marcos Tristão)

Fale da sua escolha pela medicina. O que o levou a isso?

Isso aconteceu muito cedo na minha vida. Eu tinha um tio que era médico, e que me levava desde garoto, com uns oito anos, para dar plantão com ele em Emergência. Eu achava aquilo muito envolvente, quer dizer, poder cuidar das pessoas. Essa é a vocação do médico, não é?! É o poder de ajudar um semelhante, fazê-lo mais feliz, aliviar uma dor… É quase uma missão divina. E isso me empolgou muito. Passei a me dedicar muito para me tornar médico, e me preparei para isso ainda na adolescência. Nessa longa trajetória para exercer a medicina, eu me envolvia cada vez com esse aspecto humano, que caracteriza a profissão do médico. E ali, na faculdade, como eu tenho uma influência, e também uma inclinação muito grande para a parte artística, eu achava que a cirurgia plástica era a que mais dava sentido à minha vida. Essa combinação foi o que me orientou para a cirurgia plástica.

Existe um aspecto artístico na cirurgia plástica?

Toda medicina é uma arte. A maneira de praticar a medicina é a capacidade de associar o cuidado humano com a arte. Eu acredito que nenhum médico pode cumprir sua vocação se não estiver atento a esse detalhe.

Qual foi o grande desafio em sua carreira profissional?

Sim, a profissão é muito desafiadora. Houve momentos em que eu me entristeci, quando trabalhava em Pronto Socorro, onde o sofrimento humano é muito tocante. Quando se está fazendo um trabalho profissional, é preciso reprimir um pouco as suas emoções, porque é comum o médico se solidarizar com a dor do paciente. Muitas vezes a gente acha que não pode ajudar muito, mas o trabalho é engrandecedor, porque ele sempre passa alguma coisa boa. No fundo, há um alívio, porque o que o médico quer é evitar sofrimento, esse é o objetivo principal.

Algum caso em particular, no Pronto Socorro?

Lidei com muitos pacientes na Emergência, e nessa hora o cirurgião plástico é essencial, porque ele faz um trabalho de reparação, reconstrução. São pessoas altamente fragilizadas. Uma das pacientes que mais marcaram o meu início foi uma jovem, com vinte e poucos anos, que apareceu com queimaduras de um acidente aéreo. A queimadura é o tipo de doença em que a pessoa parece que está bem, mas, na verdade, ela está se deteriorando por dentro. Essa moça estava no CTI, e precisou de cinco ou seis cirurgias. E foi muito frustrante, porque a queimadura, naquele nível, destruiu seu organismo. E a medicina tem seus limites. São esses limites que deixam o médico muito angustiado. Não é possível ser um semideus. Essa incapacidade me marcou muito, foi muito dramático.

O que há para contar sobre o Congresso Europeu de Cirurgia Plástica, que houve em outubro, em Limassol, no Chipre?

O Chipre sediou um congresso muito renomado, que acontece de quatro em quatro anos, e reúne os maiores expoentes e especialistas mundiais. O Chipre é um museu vivo, que reflete a beleza, a beleza grega. Inclusive, conta-se que Afrodite nasceu naquela ilha, na espuma de uma das praias. Então é lugar com uma história linda. Eu fiz quatro conferências nesse evento. Em uma delas, falei sobre os pacientes hispânicos e, de certa forma, o brasileiro é um povo hispânico. Então, o interesse deles, dos médicos europeus e norte-americanos, era discutir pacientes hispânicos, que possuem suas próprias características de pele, anatomia etc. Falei também sobre o lifting e as técnicas que usamos por aqui. Falei sobre minhas cirurgias em nariz. E no meio desse congresso ainda dei um curso sobre cirurgia plástica. E é curioso, porque o nosso trabalho é reconhecido e respeitado no mundo todo, e isso graças ao dr Pitanguy, que divulgou esse nosso talento para o mundo inteiro. Foi muito rico esse encontro durante cinco dias.

Quais foram os destaques desse Congresso?

O reconhecimento brasileiro, em primeiro lugar, e o crescimento do mercado europeu em cirurgias estéticas, que é diferente das reparadoras.

Por que o Brasil lidera o ranking de cirurgias plásticas no mundo?

Lidera porque as mulheres, que são a grande maioria nos consultórios, apesar de um crescimento no número dos homens, são muito vaidosas. O fato é que o nosso povo é muito vaidoso. Nós nos cuidamos de maneira muito saudável. A norma predominante é exatamente uma consciência da sua autoimagem. Há uma constante preocupação em estar bem. E eu vejo isso de forma positiva. Trata-se de uma busca por estar bem. A cirurgia plástica é apenas um dos meios para atingir isso. O nosso povo é muito refinado, e o refinamento da cirurgia plástica brasileira é admirado no mundo inteiro. Isso passa uma satisfação muito grande.

Você acha que essa liderança tem relação com o fato de sermos um país tropical?

Eu acredito que sim. Nós temos o maior clube social do mundo: a praia. Ali todo mundo quer ver, e ser visto. Então as pessoas se preparam para isso. Além de que, é claro, o nosso vestuário é muito leve, inclusive no inverno. Se você está o tempo todo vestido, como no inverno do hemisfério norte, você pouco se observa. Outro ponto que eu verifiquei que justifica o crescimento das cirurgias plásticas no mundo e no Brasil é a selfie. As pessoas querem sair bem nas selfies, e esse cuidado as leva para os consultórios. Sempre que as pessoas se observam muito, elas se cobram em um determinado ponto. Isso é um fenômeno contemporâneo, não é?!

Há um crescimento do número de cirurgias plásticas feitas em homens? Por que?

As pessoas dizem o que homem não é vaidoso. Isso é mentira. O homem é vaidoso. Só que o homem se preocupa com expressões de beleza que o associem ao poder, virilidade, vitalidade, força. Já as mulheres são mais sofisticadas. Os homens chegam aqui e minimizam seus problemas. Chegam aqui com uma barriga enorme e reclamam que “tem um pneuzinho aqui, preciso tirar essa barriguinha ali”. Esse comportamento masculino é próprio da nossa cultura. Mas o que explica o crescimento? Isso acontece por dois motivos: a divulgação dos resultados, que estão cada vez melhores, e reduzem a reticência masculina com relação à estética, e a outra é a naturalidade das cirurgias, que estão cada vez menos invasivas.

Existe o nariz perfeito?

Existe. O nariz perfeito é o nariz feito para o rosto da paciente. A beleza é harmonia. Se houver desarmonia, ela não é desejável. O nariz perfeito precisa respeitar a própria anatomia e a construção da face de cada um. O nariz da Adriana Lima, por exemplo, é perfeito, mas não se encaixa harmoniosamente em qualquer rosto.

É preocupante uma sociedade excessivamente preocupada com a estética?

Sim, sem dúvidas. Tudo o que é demais são sobras. Eu acho que a estética é uma coisa natural, nós nascemos com a capacidade de admirar o que é belo. Crianças recém-nascidas reagem à estética. E nós levamos isso para a vida adulta, porque é instintivo. A estética acompanha a evolução do homem, e desde os tempos da caverna. Os homens na Idade da Pedra pintavam a ponta de suas flechas, apenas porque o objeto ficaria mais bonito, esteticamente agradável. Mas tudo o que vem em excesso não é bom. A busca pela boa forma, em excesso, pode virar doença, patologia. É preciso tomar cuidado para não ir aos extremos da perfeição.

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ENTRE OS 250 mil forçados a abandonar suas casas, devido aos 16 incêndios que continuam a se espalhar na luxuosa área de Woolsey Canyon, na Califórnia, está a famosa Kim Kardashian, que teve uma hora para evacuar sua casa. As irmãs, Kourtney e Khloé Kardashian também fizeram o mesmo. Seu padrasto, agora madrasta, a transgenero Caitlyn Jenner, perdeu a casa, mas conseguiu sair ilesa do fogo.