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Idade cronológica, fisiológica ou mental?

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Podemos utilizar os mesmos critérios de idade que tradicionalmente usamos há alguns anos? Esta simples pergunta tem embutida uma serie de questões, desde a quem deve-se considerar idoso e oferecer benefícios a até mesmo questões de ordem prática em relação a propostas de tratamento médico.

Vamos lá.

Há em torno de pouco mais de 30 anos atrás um paciente com 60 ou mais anos de idade que tivesse indicação de, por exemplo, colocar uma ponte de safena e não tivesse qualquer outra doença além desta, teria sua cirurgia contraindicada simplesmente por causa da sua faixa etária, considerada idoso de risco não aceitável.

Já atualmente pacientes com 80 ou mais anos vão à mesma cirurgia sem o menor problema e provavelmente com outras doenças concomitantes, existem inclusive casos de transplante cardíaco que o doador está nesta faixa etária - estamos falando do doador e não do receptor.

O conceito de idade tem mudado muito nos últimos anos. Quando eu tinha 20 anos, uma pessoa de 60 era um velho para mim, hoje vejo cada dia mais pacientes com 94/95 anos e mais, que vão ao consultório sozinhos, que administram suas vidas de maneira independente. Quando um paciente me fala aos 90 que acha que está ficando velho, eu adoro, ou quando me anunciam um novo namoro...

Recentemente, fui auxiliar uma paciente em idade avançada levantar-se da mesa de exame e ela me disse: "por favor, doutor, não me ajude, faço tudo sozinha e não posso depender de ninguém". Outro de 96, quando lhe disse "vou ajudá-lo a levantar-se", não deu tempo de acabar a frase: deu um pulo da cama tão vigorosamente que me assustei.

Acompanho muitos pacientes durante anos e mostro para muitos deles como eles melhoram sua performance física ao longo dos anos. Claramente, isto depende de como cada pessoa se comporta e trata seu corpo e sua mente. Aqueles que fazem atividade física regular e que mantém seu cérebro em constante atividade, fazendo contas mentalmente, fazendo palavras cruzadas, por exemplo, costumam ter uma “juventude” prolongada.

Percebo também que aqueles com espírito mais jovem aparentam idade inferior à sua cronológica.

O passar dos anos não é obrigatoriamente uma sina de piora progressiva, muitas das coisas que as pessoas justificam como sendo da idade, na verdade, fazem parte do declínio de quem não faz nada para impedi-lo.

Não serão fórmulas milagrosas ou exemplos extremos que farão as pessoas viverem não mais, mas mais tempo com qualidade de vida.

Um exemplo clássico é o declínio muscular. A partir dos 40 anos, começamos a perder tônus muscular. E como podemos reverter isto? Exercícios físicos regulares. Caso não façamos nada, o que irá acontecer com o passar dos anos? Virá a perda de massa muscular e, novamente, somente o consumo adequado de proteínas e o exercício físico podem reverter ou minimizar este processo. Finalmente, se nada feito, os músculos serão substituídos com o tempo por gordura, aí passam a ser difíceis a locomoção e as atividades do dia a dia.

O idoso que tem dificuldades para levantar-se da cadeira ou mesmo ter equilíbrio na caminhada, muita das vezes, é porque não tem músculo. Aí vêm as quedas, um grande perigo para aqueles com mais idade.

Todos vamos envelhecer, mas dependendo do espírito e do comportamento que temos em relação ao nosso corpo e mente, a idade chegará benevolente ou maldosa conosco, mas não adianta culpar sua data de nascimento ou mesmo aceitar como uma sina. É assim mesmo.

Viva, não deixe de ter sonhos, trate bem seu físico e sua mente comendo adequadamente e realizando atividades que estimulem sua cabeça e seus músculos.

A vida não e feita de números, e sim de vida.

Prof. Dr. Carlos Scherr / Cardiologia / e-mail: [email protected] / facebook: Consultório Prof. Dr. Carlos Scherr / site: www.carlosscherr.com.br