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O grande criador do samba paulista

Reprodução -
Tio Gê - O Samba Paulista de Geraldo Filme, álbum duplo
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Tio Gê – O Samba Paulista de Geraldo Filme, álbum duplo lançado pelo selo SESC-SP, traz cantoras e atores interpretando sambas do grande compositor Geraldo Filme de Souza, o Tio Gê (1927 – 1995). Para além de seu talento para criar sambas que estão na memória dos que tiveram a ventura de conhecê-lo, Geraldo Filme tinha visão cidadã do povo negro de São Paulo.

Macaque in the trees
Tio Gê - O Samba Paulista de Geraldo Filme, álbum duplo (Foto: Reprodução)

Tio Gê foi um negro sujeito aos preconceitos e à repressão de uma época em que as elites desdenhavam do samba, tratando-o como usurpador dos gêneros europeus a que tanto admiravam – mas Geraldo Filme era maior do que eles.

A crítica social despontava em versos como, por exemplo, os de “Garoto de Pobre”: “(...) Garoto de pobre/ Só pode estudar em escola de samba/ Ou ficar pelas ruas, jogado ao léu/ Implorando a bondade dos homens/ Aguardando a justiça do céu (...)”; ou estes de “Que Gente É Essa”: “(...) Que gente é essa de pé no chão/ Que tem no canto sua forma de expressão (...)”.

Boêmio, Tio Gê andava pelo extinto Largo da Banana, na Barra Funda, considerado o berço do samba paulista. Envolvido em rodas de tiririca (jogo de pernadas ao som de batucadas em caixas de engraxate), de samba de bumbo, choro, de samba rural, ele trazia consigo o dom de valorizar as manifestações artísticas do povo de sua cidade.

Tio Gê fez história e manteve viva a sua originalidade de criador do samba paulistano. Entretanto, é uma pena que nem todos o conheçam: mesmo dentre os mais velhos, alguns não sabem quem foi Geraldo Filme.

Mas vamos ao projeto concebido e dirigido artisticamente por Fernando Cardoso. Os dois CDs contêm 20 músicas de Tio Gê cantadas apenas por cantoras negras, enquanto o escritor Léo Lama elaborou os textos ditos por atores igualmente negros. Através delas e deles, Geraldo Filme de Souza ganhou nova vida... é como se renascesse! Vixe!

Como é bom ouvir sambas pouco conhecidos de Tio Gê. Pois foi graças ao (en)canto de minhas colegas cantoras, somadas às vozes poéticas dos atores – todas e todos orgulhosamente negros –, que pude melhor conhecê-los e entender Geraldo Filme por inteiro.

Alaíde Costa, Amanda Maria, Áurea Martins, o grupo Clarianas (Naruna Costa, Martinha Soares e Naloana Lima), Cleide Queiroz, Ellen Oléria, Eliana Pittman, Fabiana Cozza, Graça Braga, Graça Cunha, Lady Zu, Leci Brandão, Luciah Helena, Maria Alcina, Paula Lima, Rosa Marya Colin, Sandra de Sá, Teresa Cristina, Virgínia Rosa e Xênia França cantam dando mais de si do que nunca.

Entremeado por textos sobre a vida de Tio Gê, lidos por Aílton Graça, João Acaiabe e Sidney Santiago Kuanza, o tributo ganha forma.

Com produção musical de Ogair Júnior, os arranjos de Robertinho Carvalho, Dino Barioni e do próprio Ogair são uma primorosa extensão da arte do mestre sambista. É como se cada instrumentista proporcionasse um caloroso abraço ao compositor.

As músicas e letras de Geraldo Filme traduzem com apaixonada sinceridade os amores e as dores das gentes paulistas.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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Tio Gê