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Um músico diferençado

Reprodução -
Capa do CD de Alexandre Carvalho
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Apresento-lhes “Rio Joy” (independente), CD do guitarrista, compositor e arranjador Alexandre Carvalho. Jazzista respeitado no universo da música instrumental, em seu segundo disco o jazz está presente em cada uma das três composições autorais dele, bem como está vivo nas outras cinco faixas do álbum.

Macaque in the trees
Capa do CD de Alexandre Carvalho (Foto: Reprodução)

Um parêntese: a música negra norte-americana está para o jazz como a música negra africana está para a música brasileira. O banto e o angoma impregnam o som ancestral brasileiro, enquanto a guitarra e o blues disseminam a música negra da região do rio Mississipi

Tendo na negritude a mesma gênese – um lamentoso e belo contraponto à violência escravagistas –, dela nasceu, cresceu e ganhou o mundo a música que expõe a ignomínia da escravidão, diáspora análoga ao holocausto... Meu Deus! Fecho parêntese.

Sinto no som de Alexandre Carvalho a força que mescla o samba ao jazz, criando uma atmosfera de congraçamento da música instrumental brasileira com o jazz americano. Algumas audições do álbum bastaram para me fazer crer numa simbiose dos gêneros ancestrais das musicas que fazem de Brasil e EUA países com as melhores músicas do mundo.

Além das três composições de Carvalho (“Rio Joy”, que empresta o nome ao CD, “Nica’s Mood” e “Waltz Nova”) já citadas anteriormente, a seleção das outras cinco músicas vem de encontro à minha percepção de congraçamento: “Samba Jazz” (JT Meirelles), “La Calle 92” (Astor Piazzzolla), “The Dolphin” (Luiz Eça), “Duke Ellington’s Song of Love” (Charles Mingus) e “Armadilha” (Henrique Alvim).

Para tocarem com Alexandre Carvalho, lá estão o sax de Fernando Trocado, o baixo de Jefferson Lescowich e a bateria de Vitor Vieira. Assim, ao ouvirem o CD (o que recomendo vivamente), sintam que nos arranjos, todos de Carvalho, não há lugar para estrelismos. Sob o comando da emoção, solos e duos têm luz e força.

“Rio Joy” é um CD no qual o samba e o jazz soam determinantes, dignos dos gêneros que representam. Sendo ainda melhores quando conjuram forças e quando, formidáveis, cada um está em sua praia.

Outra coisa, eu não conheço pessoalmente o Alexandre Carvalho, mas ele me passa a impressão de ser uma pessoa segura, um sujeito com autoestima alta, preparado para conviver com a música e com as pessoas.

E eu posso estar enganado, e não seria o meu primeiro tiro n’água, mas ao contrário do que seria razoável esperar (ou seja, guardar para si o fulgor do trabalho que traz seu nome na capa), Carvalho fez arranjos nos quais divide o protagonismo com o sax de Fernando Trocado, dando-lhe generosos compassos e tornando o CD mais plural.

A Carvalho cabe tirar sons concisos da guitarra e criar grooves e improvisos vitoriosos e da mais alta categoria. E também, e bota bem nisso, solar, tocar em duo com o sax e o baixo – sempre com a batera dando-lhes suingue – e fazer música de boa qualidade.

Como já disse, não conheço Alexandre Carvalho, mas assevero que o cara é instrumentista e arranjador diferençado.

*vocalista do MPB4