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Ricardo Tacuchian, um erudito

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A dica de hoje é o CD Tacuchian e a Viola (A Casa Discos), reunindo toda a obra para viola do regente e compositor Ricardo Tacuchian. Nascido no Rio de Janeiro em 18 de novembro de 1939, ele comemora seus 80 anos.

O maestro tem no Duo Burajiru (“Brasil”, em japonês), integrado pelo violista Fernando Thebaldi (mestre pelos conservatórios holandeses de Haia, Rotterdã e Brabants) e pela pianista Yuka Shimizu (nascida na província de Saitama e formada pela Faculdade de Música Kunitachi, de Tóquio), o responsável pela empreitada. O trabalho conta ainda com a participação especial do clarinetista Cristiano Alves,
professor de clarineta na Escola de Música da UFRJ.

“Toccata Para Viola e Piano” é um tema composto em 1985 que tem nos allegros momentos de luz da viola, cuja sonoridade emana de um ritmo pulsante. Bela abertura.

“Xilogravura” foi criado por encomenda do violista Sávio Santoro, tema esse que foi escrito no Sistema-T, em 2004. Não sei você, leitor, mas eu não fazia ideia do que seria esse tal sistema... ignorância que só durou até Ricardo Tacuchian escrever ensinando o que ele é: “Uma ferramenta de controle de notas musicais usadas em determinadas passagens da peça. É baseado num conjunto de nove notas (ao invés das sete notas do Sistema Tonal Clássico ou das doze notas do Sistema Dodecafônico)”.

“Trio das Águas”, de 2012, valendo-se também do Sistema-T, tem a clarineta de Cristiano Alves com o Burajiru. O tema se divide em três movimentos, “Do Mar”, “Dos Rios” e “Da Chuva”. No primeiro, clarineta e piano soam em dissonâncias que, com poucas alterações, se repetem por alguns compassos. O piano inicia o segundo movimento. A clarineta e a viola vêm a seguir. Dialogando, seguem em frente. A delicadeza é a tônica. Meu Deus...! E vem “Da Chuva”. O tema abre com desenhos vigorosos do piano – um acorde dissonante dele com a viola soa enérgico. Enquanto a viola e a clarineta solam, o piano repete um desenho de poucas notas. Já ao final, os três revelam a beleza que imperou não só ali, como também nos dois primeiros movimentos.

“Tomilho”, de 2015, vem a seguir, também fazendo uso do Sistema-T. Nesse tema composto especialmente para viola, ela desponta com seu som encorpado.

Repetindo desenhos com poucas notas de diferença entre elas, a viola segue até um pianíssimo. O protagonismo é todo dela. Um glissando precede momentos de puro virtuosismo. Voltam a melodia e o desenho, agora tocado com as notas presas da viola. A dinâmica é exata. E o final tem gosto de quero mais.
E o “quero mais” vem com “Cinco Miniaturas Para Viola e Piano”, composto em 2018 – pela data, vê-se que Ricardo Tacuchian é uma fonte de energia para produzir. Composto para Thebaldi e Shimizu, o tema fecha a tampa do CD de forma louvável. O trabalho do Duo Burajiru tocando Ricardo Tacuchian valoriza a música
brasileira.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

PS. Sonho: amadores das músicas erudita e popular, uni-vos para ouvir e sentir... todo
gênero de boa música!