ASSINE
search button

O que Nana Caymmi tem de melhor

Divulgação -
Compartilhar

Cada novo CD de Nana causa enorme expectativa nos futuros ouvintes. O melhor dela é sua voz e a emoção de seu cantar. Boas divisões rítmicas estão entre seus predicados. Sua afinação empolga, tal o tamanho da impressionante perfeição. Selecionar repertório de acordo com sua personalidade marcante é a sua praia. Ter um produtor capaz e constante é outro de seus acertos. Conhecer arranjadores que privilegiem a sonoridade instrumental mais adequada ao seu timbre de voz é mais uma qualidade sua.

Outra de suas melhores virtudes é evitar o banal, buscando o que fuja do “já ouvi algo parecido”. Desde sempre Nana possui tais atributos e deles faz uso a partir de sólidos objetivos musicais. Simples assim.

Macaque in the trees
(Foto: Divulgação)

Nana é puro coração, puro sentimento. Para gravar seu mais recente álbum, Nana Caymmi canta Tito Madi (Biscoito Fino), ela reuniu as suas melhores características, convocou seu produtor de fé, José Milton, e, dentre alguns outros poucos e geniais arranjadores, escolheu duas feras: Dori Caymmi e Cristóvão Bastos – dois especialistas quando se trata de emoldurar a voz de Nana com a ternura impressa nos sambas-canções e “sofrências” do saudoso compositor e cantor Tito Madi.

Desde meados dos anos 1950 até início dos anos 1960, com voz aveludada, Madi comovia os ouvintes radiofônicos – ora suavizando, ora ampliando dores de amores correspondidos e despedidas doloridas. Sabe-se que em 1976 Claudette Soares homenageou Tito Madi, gravando um LP só com suas músicas. Sabe-se também que outro grande intérprete, o saudoso Emílio Santiago, morreu sem conseguir concluir o tributo ao cantor e compositor paulistano.

Foi então que Nana assumiu a responsabilidade de seguir em frente, ao mesmo tempo realizando um antigo desejo seu e dando sequência ao sonho de seu querido amigo – tão prematuramente interrompido.

Das onze composições do CD, dez são de Madi (uma em parceria com George Henry) e uma é de Ribamar, Victor Freire e Esdras Pereira da Silva.

“Chove Lá Fora” (TM) tem arranjo e violão de Dori Caymmi. Com arregimentação enxuta – Itamar Assiere (piano), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (batera) e Yura Ranevsky (cello) –, a beleza da voz de Nana se apresenta numa das mais íntegras interpretações do clássico. Meu Deus!

“Carinho e Amor” (TM) tem arranjo e piano de Cristóvão Bastos. Contando com João Lyra (violão), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (batera), Zé Leal (ganzá e tamborim) e Dirceu Leite (clarinete), a suavidade da música só faz brilhar com a voz de Nana.

“Sonho e Saudade”, “Graças a Deus Você Voltou” e “Gauchinha Bem Querer” expõem a paixão que Tito Madi despertava com sua alma popular. Para cantá-las, Nana Caymmi se vale de firmeza no ataque às notas e de uma respiração que lhe permite alongá-las sem prejuízo à afinação.

Nana Caymmi canta Tito Madi tem encantos só expostos a quem os ouve com amor. Com voz privilegiada, Nana expõe o seu encanto mais terno, suave... ouvi-la cantar é um privilégio.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4