CULT, POP & ROCK
Papai Noel, leia esta coluna
Publicado em 24/12/2025 às 10:17
Alterado em 24/12/2025 às 10:38
O ator John Cusack no filme Alta Fidelidade
Foto: reprodução
No século passado, em anos já longínquos, nesta época de festas de final de ano, das trocas de presentes que, quase que invariavelmente, repousavam nos pés das árvores de Natal esperando pelos seus donos, envelopados em papéis coloridos, os discos de vinil, graças ao seu formato característico, ainda que escondidos entre caixas e sacolas, já deixavam bem explícito o seu conteúdo. O mesmo acontecia quando amigos e parentes chegavam para as festas do dia 24 tentando disfarçar que tipo de presente estavam trazendo, mas que todos sabiam serem álbuns musicais. A única dúvida que pairava sobre mim, aflito e curioso, que banda ou artista, nacional ou estrangeiro, estava chegando para presentear alguém.
Era um momento que eu aguardava ansiosamente quando o final de ano começava a dar as caras. Os discos sempre foram os presentes que eu mais gostava de dar e, claro, de receber, e isso continuou até mais ou menos o final dos anos de 1980, quando os vinis foram sendo trocados pelos CDs, que começaram a dominar o mercado fonográfico e, mesmo sem o mesmo impacto, pelo menos para mim, continuaram sendo uma boa opção de presente.
Desde a metade da segunda década de 2000, os CDs perderam espaço com a chegada agressiva e avassaladora dos iPods e da famigerada mídia musical digital impulsionada pelos streamings. Todo aquele impacto visual dos álbuns e suas capas foi abandonado pela imposição mercadológica dos gigantes Apple, Youtube e Spotify, que, além de quase sepultarem a magia dos discos de vinil e dos CDs, passaram a oferecer música com uma qualidade do som muito inferior.
Porém, nos últimos anos, os discos de vinil, ainda sem a mesma força do passado, principalmente no final dos anos de 1960 até início dos de 1990, voltaram a conquistar uma fatia interessante do mercado e, para surpresa de muitos, os CDs voltaram a ser vistos pelas gravadoras como uma boa opção para artistas e consumidores.
Aproveito, então, essa ocasião, esse momento natalino, para colocar meu sapato na janela esperando que o Papai Noel leia esta coluna e deixe nele algumas dessas opções de presentes.
KISS. Álbuns Solos (1978): por volta do início da segunda metade dos anos de 1970, quando o KISS se consolidou como uma banda de rock de imensa força no mercado mundial, os atritos internos, motivados por egos inflamados entre seus membros e luta por espaço, incomodaram empresários e a gravadora. A solução emergencial encontrada foi o lançamento de álbuns solos dos músicos da banda, dando a eles total liberdade de criação e produção. Assim, Gene Simmons, Paul Stanley, Ace Frehley e Peter Criss, pelo menos durante alguns anos, acalmaram-se e puderam se apresentar junto à crítica e público de forma individual. Dos 04 álbuns, o meu preferido é o do guitarrista Ace Frehley, que faleceu em outubro.

Caixa com os álbuns solos dos membros do KISS Foto: reprodução
Nick Drake – Fruit tree (2007): a gravadora e a família de Nick Drake resolveram presentear seus fãs com essa caixa sensacional contendo os 03 álbuns da curta carreira do cantor e violonista inglês de folk music, que nos deixou em 1974. Toda a incrível poesia e a musicalidade de Drake estão resumidas em “Five leaves left” (1969), “Bryter layter” (1971) e “Pink moon” (1972), que estão distribuídas nos 04 lados dos 02 discos de vinil.

Caixa com os 3 álbuns em formato vinil de Nick Drake Foto: reprodução
The Who – Quadrophenia (1973): não satisfeito com o sucesso estrondoso do álbum “Tommy”, lançado em 1969, o The Who presenteou os seus fãs 04 anos depois com essa outra ópera rock espetacular. Obra-prima também nascida da cabeça genial de Pete Townshend e executada e produzida magistralmente pelo guitarrista e os outros incríveis membros da banda inglesa: o vocalista Roger Daltrey, o baixista John Entwistle e o monumental Keith Moon na bateria. A emocionante canção “Love reign O'er me” é para ouvir ajoelhado.

A obra prima Quadriphenia, do The Who, lançado em 1973 Foto: reprodução
Jeff Buckley – Grace (1994): o primeiro álbum do cantor americano recebeu uma recepção tão avassaladora por parte de público e da crítica que muitos previram que ele logo se tornaria o artista musical mais importante da década nos EUA. Uma tragédia, porém, o impediu de vivenciar o sonho de se tornar tão grande ou maior que o seu pai, o músico folk Tim Buckley. Um afluente do rio Mississipi o levou para a morte em 1997, quando Jeff nadava calmamente em suas águas. Na época, o músico gravava o seu segundo álbum, que só mais tarde foi lançado, aos pedaços, inacabado, no compilado “Sketches for my sweetheart the drunk”. E se você deseja conhecer um pouco mais sobre a vida desse artista gigantesco, acaba de ser lançado o documentário “It's never over, Jeff Buckley”, em exibição na HBO Max.

A bela capa de Grace, único e incrível álbum da curta carreira de Jeff Buckley Foto: reprodução
Carole King – Tapestry (1971): não sei do que mais gosto nesse álbum clássico da cantora e pianista americana: das 12 canções maravilhosas ou dessa capa incrível. A tapeçaria de Carole abriu a década de 1970 desfilando todo o repertório romântico, poético e musical de uma das artistas mais importantes do pop americano, que se expandiu, durante décadas, desde o seu lançamento, por todos os cantos do planeta. O que falar de um disco que jogou nas paradas, de uma só vez, “It 's too late”, “So far away” e “You've got a friend”?

Carole King e o seu gato na capa do clássico Tapestry, lançado em 1971 Foto: reprodução