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Rio, sem água e sem empregos

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O Brasil comemorou a criação de 644 mil vagas com carteira assinada em 2019 pelo Caged, o melhor resultado desde 2013. Em relação aos 529 mil empregos formais de 2018, houve aumento de 21,6%. Animador. Mas a soma dos dois anos seguidos não recupera as 1,321 milhão de vagas fechadas em 2016, o 2º ano da recessão do 2º governo Dilma. Muito menos os 1,542 milhão de vagas perdidas em 2015.

Como a população em idade de trabalhar cresce, e não foram geradas vagas, a fila do desemprego diminuiu. Há ainda um ‘estoque’ de 12 milhões de pessoas esperando passar o trem do emprego nas estações. No estado do Rio de Janeiro, 3º do país em população com 17,3 milhões de habitantes, a situação melhorou um pouquinho, mas não há o que comemorar. A criação de 16.829 vagas em todo o estado foi o 3º menor aumento do ano (+0,51%), à frente só de Acre e Alagoas. No ranking total da criação de empregos, o Rio de Janeiro ficou num modesto 10º lugar.

Estado com 46,1 milhões de habitantes, segundo as projeções do IBGE, São Paulo liderou a criação de empregos em 2019, com 184 mil vagas com carteira assinada (e nos empregos informais, que geram renda). Minas Gerais, com 21,2 milhões, gerou 97,7 mil vagas com carteira. A surpresa veio de Santa Catarina. O menor estado sulista, com 7,2 milhões de habitantes, gerou 71,4 mil vagas, superando as 48,5 mil vagas do Paraná (que tem 11,479 milhões de habitantes, à frente dos 11,401 milhões do RS, que gerou 20,4 mil vagas).

O Rio de Janeiro foi superado pelas 24,5 mil vagas criadas na Bahia, com população de 14,9 milhões de habitantes. O vizinho Espírito Santo, com apenas 4 milhões de habitantes, ofereceu 19.537 vagas (bem mais que o RJ). A fronteira agrícola do Centro-Oeste, que já tem fábricas que processam as safras locais, teve forte geração de empregos no Mato Grosso (maior produtor do país), que criou 23 mil vagas para pouco mais de 3,5 milhões de habitantes. Goiás, com 7 milhões de habitantes, teve a criação de 21,5 mil empregos.

O município do Distrito Federal, que tem Brasília como uma cidade basicamente administrativa (e de serviços), criou 16.241 empregos. Alçada em 1960 como a nova capital, Brasília teve pouco menos vagas que as 16.829 do estado do Rio de Janeiro (resultado da fusão, em 1975, da antiga capital federal, o estado da Guanabara, surgido após a mudança para Brasília, com o antigo estado do Rio de Janeiro).

A situação segue dramática para quem mora e trabalha na região metropolitana do Grande Rio, que abrange pouco mais de 13 milhões de habitantes, espalhados por 22 municípios. O Caged registra a movimentação nas sedes das empresas, nos municípios onde são homologadas as admissões e demissões de empregados. A capacidade de atração de empregos pela capital, Rio de Janeiro, continua sendo determinante na região metropolitana.

O Grande Rio nunca foi forte em indústria. Fábricas com pequena escala de produção fecharam de vez quando da abertura da economia (com redução de tarifas de importação) no governo Collor [a abertura comercial do governo Bolsonaro será um novo desafio]. São Paulo percebeu logo o fenômeno (que afastou as fábricas para outros estados e o interior) e tratou de atrair as atividades de serviços (de maior peso no PIB e as que mais empregam). O golpe mortal foi a transferência do centro financeiro nos anos 90.

Pois no ano passado a cidade do Rio de Janeiro, com 6,8 milhões de habitantes, teve perda de 6.640 empregos com carteira assinada. No bolsão dos 13 municípios da Baixada Fluminense (zona crítica onde foram fechadas dezenas de indústrias, antes e após a fusão) estão concentrados todos os impactos da crise social do estado do Rio de Janeiro. É a maior concentração de desemprego, miséria e toda a sorte de mazelas, pela incapacidade do setor público (nas três esferas de poder) atender as carências da população.

Nova Iguaçu, que era o 2º maior município à época da fusão e depois teve áreas transformadas em novos municípios, como Belford Roxo e Queimados, ambos em 1990, atualmente com 821 mil habitantes, atrás de Duque de Caxias (919 mil habitantes) e São Gonçalo (1,1 milhão), fechou 2.830 empregos com carteira no ano passado, Belford Roxo, perdeu 680 vagas. Niterói fechou 137 postos. No total, a região metropolitana perdeu 10.600 postos com carteira.

Luz no fim do túnel

Não dá para se desesperar com a falta de emprego no RJ. A despeito da perda de 10.600 postos no entorno da capital, houve a geração final de 16.829 vagas. É preciso ver onde estão surgindo as oportunidades. A notícia é duplamente positiva: vem da retomada dos negócios com a exploração de petróleo e gás na costa do Estado do Rio, que beneficia os municípios costeiros, utilizados nas atividades de apoio off-shore.

Mesmo com o envelhecimento dos campos de produção da Bacia de Campos, o Estado do RJ segue ampliando sua participação na produção nacional de petróleo no pré-sal, tanto na parte mais funda da Bacia de Campos, como na Bacia de Santos. Apesar da sua denominação, as descobertas atuais ainda se situam na projeção territorial do RJ e seus municípios. O RJ detinha em dezembro 78,81% da produção nacional de petróleo e gás equivalente, e o Espírito Santo ainda ganhava de São Paulo no photochart: 10,44%, contra 10,28%, segundo dados da ANP.

O município campeão na geração de empregos voltou a ser Macaé, com 3.046 vagas em 2019, mas São João da Barra, onde Eike Batista lançou o Porto do Açu, comprova ter surgido ali um dos maiores polos industriais do país: no ano passado foram criadas 3.015 vagas com carteira. Campos dos Goytacazes abriu 2.225 vagas. Maricá, novo polo de apoio, gerou 1.924 vagas, e Rio das Ostras, vizinho a Macaé, 1.811 empregos. Somando Angra do Reis, onde estaleiros produzem para a área de E&P de O&G, e Itaboraí, que gerou 1.366 vagas com a retomada parcial do Comperj, as cidades diretamente ligadas ao mundo do petróleo criaram mais de 17 mil vagas no ano passado. Para se conseguir emprego, é preciso mudar de cidade e região. No RJ e no Brasil.

O problema recente da água contaminada da Cedae é só a ponta do iceberg. Nesses 13 municípios que abriam mais de 10 milhões não há redes de coleta de esgoto para todas as casas (amigo da coluna, morador da Urca, na capital, brincou comigo essa semana dizendo que só iria pagar a taxa do esgoto e não da água da Cedae). Pois a população da Baixada e de boa parte da capital há anos paga as duas taxas, sem receber serviço adequado da Cedae, que nunca construiu as redes de tratamento de esgoto nos municípios locais. O resultado visível, há anos, era a poluição da baía de Guanabara, cloaca que absorvia as valas negras da região. Agora, como previsto, os próprios mananciais que abastecem a Estação de Tratamento de Água do Guandu foram contaminados pelos esgotos. A Baixada segue sendo um poço de carência de saneamento, coleta de lixo, saúde, educação, transporte, emprego e segurança.

Em tempo, a contaminação da água por esgotos que geram a geosmina, que altera o gosto, a limpidez e a sanidade da água, surgiu pela primeira vez em 2004. Só agora, 16 anos depois, a Cedae, instalou sistemas de purificação com carvão ativado, há muito utilizadas pelas congêneres estaduais.

Na China, para combater o coronavirus, centenas de máquinas, caminhões e milhares de homens deram início à construção de hospital específico para tratar a doença, que as autoridades esperam colocar em operação em 10 dias.

Na África, o avanço da China sobre reservas minerais estratégicas, que incluem o petróleo e gás, se apoia em amplos financiamentos e na entrega de hospitais, 100% aptos a funcionar, em pouco mais de seis meses.

No Brasil, obras que terminassem em um ano já seriam aplaudidas de pé.

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