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Petrobras: nada será como antes

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Nesta quarta-feira, 6 de novembro, o Brasil realiza o maior leilão de petróleo deste 3º milênio. A oferta de diversos blocos de exploração da fatia da Cessão Onerosa na Bacia de Santos a petroleiras de todo o mundo, após demora de dois anos para acerto entre a União e a Petrobras do valor do potencial que a União cedera à Petrobras como parte da integralização do aumento de capital da estatal em 2010, pode render um mínimo de R$ 106,6 bilhões em bônus de outorga, arrecadação que vai aliviar as contas da União, estados e municípios.

Além dos R$ 34 bilhões que receberá da União como diferença em relação a 2010, a estatal vem juntando dinheiro de todo o lado para concentrar seus lances em dois campos: Búzios e Atapu, os de maior potencial, entre os gigantescos campos de petróleo do pré-sal da Bacia de Santos. Quando foi indicado para assumir a Petrobras, no final do ano passado e o plano de venda de quatro refinarias (as duas do Sul e duas do Nordeste – BA e PE) já estava definido desde a gestão Pedro Parente, Roberto Castelo Branco me disse, em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, que o foco de sua gestão seria concentrar os investimentos no pré-sal, que hoje responde por mais de 60% da produção de petróleo e gás da estatal.

A razão básica é de que a fronteira do pré-sal é a mais rica da indústria do petróleo no mundo. A escala de produção é tal no pré-sal e a curva do aprendizado na exploração em águas profundas foi tão intensa nas últimas quatro décadas, que hoje o custo de extração de um barril petróleo no pré-sal está abaixo de US$ 5. E considerando o custo pulverizado das demais áreas de exploração, que respondem, em terra e no mar, por menos de 40% da produção, o custo médio de produção da estatal cai para US$ 10. Há áreas em que os custos passam de US$ 25 a US$ 30 por barril. Que vale US$ 63.

Por isso, além de sair de atividades periféricas, como biocombustíveis e biodiesel (a Petrobras vendeu sexta-feira metade da Belém Energia para a portuguesa Galp, que detinha a outra metade da fábrica de exploração de óleo de palma, no Pará), a estatal pôs à venda 15 blocos maduros de petróleo na bacia terrestre de Sergipe-Alagoas. Antes vendera campos maduros da Bacia de Campos, e mantém a venda de 8 refinarias, 50% da capacidade de refino.

Os nacionalistas que foram criados sob o signo “O Petróleo é nosso” que levou à criação da Petrobras em 1953, mesmo quando não havia petróleo (a crise mundial de setembro de 1973 nos pegou de calça curta, produzindo apenas 15% das necessidades e a descoberta da Bacia de Campos só se deu em agosto de 1974, vindo o petróleo a jorrar no fim de 1979, quando outra escalada do petróleo nos deixou mais vulnerável ainda, gerando a crise da dívida externa) continuam indignados “com o desmonte da Petrobras”.

Mas a realidade é que a riqueza do pré-sal, descoberta em 2006, não poderia ser explorada in totum por uma Petrobras ultra endividada e às voltas com plano ambicioso e insustentável de investimento. Os delírios de que o barril do petróleo estaria valendo entre US$ 200 e US$ 400 exatamente no período do atual governo (a Empresa de Pesquisa Energética manteve essa previsão em palestra feita em dezembro de 2008, mesmo após a crise financeira mundial deflagrada com a quebra do Lehman Brothers, atingido na derrocada do mercado de hipotecas nos Estados Unidos ter derrubado o barril de US$ 147 para US$ 35) levaram à suspensão dos leilões no pré-sal.

Mesmo com a Petrobras já atolada por projetos que só poderiam ser viáveis com o barril acima de US$ 200 e o dólar abaixo de R$ 2, para amarrar apoio dos governadores à candidatura Dilma, em 2010, o governo Lula prometeu repartir os royalties do petróleo com todos os estados e municípios (e não apenas nas regiões produtoras, que não recolhem ICMS do petróleo e gás, (privilégio para os estados consumidores, que em 1988, quando o deputado José Serra, do PSDB-SP, amarrou o capítulo tributário amplamente favorável a São Paulo, não sonhava em ter a riqueza do pré-sal) e para reforçar a educação. A esperada parceria com a China também não se consumou.

A roda da história girou. O país atravessou mais de uma década sem grandes leilões no pré-sal, cuja riqueza seque sub explorada. A educação, vai mal obrigada e São Paulo hoje reclama estar perdendo receitas de royalties, quando o principal prejudicado em 31 anos da Constituição de 1988 foi o Estado do Rio de Janeiro. Afinal, os royalties estão longe de compensar o ICMS perdido e os danos ambientais da exploração.

Os números da escalada da produção do pré-sal são impressionantes, segundo a própria Petrobras. Em 2010, a área produziu 41 mil barris/dia. Em 2014, a produção já alcançara a casa dos 500 mil barris diários equivalentes de petróleo e gás natural. Em 2016, a produção dobrou para 1 milhão de barris/dia. No ano passado chegou a 1,5 milhão de barris/dia. Atualmente o pré-sal já produz quase 1,9 milhão de barris/dia.

O mais impressionante é a economia de escala no pré-sal. Em 1984 a companhia extraiu 500 mil barris de 4.108 poços de menor potencial e mais esparsos da Bacia de Campos, águas rasas e dos campos em terra. Em 2018, a estatal extraiu 1,5 milhão de barris/dia de petróleo e gás de apenas 77 poços na área do pré-sal. Em 2010, a estatal levava 310 dias para construir um poço marítimo da exploração à produção; a agora o tempo encolheu para 127 dias.

Em 1984 foi descoberto o 1º campo gigante em águas profundas do país, Albacora. Mais tarde surgiram Marlim, Roncador, Barracuda e Caratinga. Outros campos de grande porte foram descobertos na parte norte dessa bacia, já no estado do Espírito Santo, como Jubarte e Cachalote, na área conhecida como "Parque das Baleias". Mas o salto do pré-sal é impressionante.

Em recente apresentação a investidores a Petrobras lembrou ter demorado 26 anos para produzir 1 bilhão de barris de petróleo a partir da produção em terra e águas rasas, e 15 anos para atingir o mesmo volume em águas profundas. A especialização em águas profundas que levou à descoberta do pré-sal (o Campo de Lula, ex-Tupy, o mais produtivo no momento vence 2.126 metros de lâmina d’água e mais 4.917 metros de perfuração até encontrar o óleo e o gás armazenados no pré-sal). No pré-sal, chegou a 1 bilhão de barris em oito anos.

Campos de petróleo como Búzios e Atapu têm colunas de petróleo com até 800 metros de profundidade, maior que a altura do Corcovado, com a estátua do Cristo Redentor. Com dimensão maior que a da Baía de Guanabara. É um promissor mar de petróleo. Que os cuidados na exploração e redução de custos não deixem de lados precauções com a segurança e a proteção ao meio ambiente.