Quem você prefere: Brigitte Macron ou Brigitte Bardot? Escolheu? Se você respondeu “la Bardot” – como era conhecida a francesa mais arrebatadora dos anos 60 – sua preferência equivocou-se por não levar em conta as marcas implacáveis do tempo. Aos quase 85 anos (ela é de 28 de setembro de 1934) e sex symbol da memorável década dos Beatles, da lambreta, da bossa nova e de Búzios, a francesa Brigitte Bardot é bem mais idosa do que outra Brigitte, “la Macron”, a primeira-dama da França (66 anos). Ambas são pessoas interessantes e incomuns. Brigitte Bardot tornou-se ativista pela causa animal. Há 40 anos tem levantado a bandeira em favor do respeito pela vida e bem-estar dos animais. Aliás, Bardot vem criticando Emmanuel Macron, o marido da outra Brigitte, por ser um apoiador de atiradores em aves. Não se pode dizer, afinal, qual Brigitte é mais bonita, até porque a beleza pode estar escondida por trás de rugas da idade.
Há seres humanos cuja casca da idade não reflete ganho em sabedoria nem, ao menos, mais continência. Caçoam da incontinência urinária dos idosos mas sofrem de incontinência mental e verborragia pública. Para a primeira, um mero dispositivo geriátrico conserta a inconveniência, inevitável com a idade. Já contra o segundo tipo de descontrole, nada a fazer. Dizem que D. Pedro I foi audacioso e incontido pelo grito de independência que soltou às margens do Ipiranga. Foi no 7 de setembro de 1822. Faz, hoje, quase 200 anos. A partir desse grito, um despautério para a classe dominante da época, é que todos nos tornamos a nação de brasileiras e brasileiros que hoje somos, com bastante orgulho e não menos assombro. O arroubo de um príncipe converteu uma colônia numa nação com vontade própria. Em pleno 2019, continuamos sendo conduzidos por gritos, explosões verbais e outros arroubos. Nada demais, isso tudo é muito natural, como diria outro chegado a rompantes, o grande Raul Seixas.
A conclusão é que não existe, propriamente, o bonito ou o feio. Existem os sentimentos, que devem, ou não, ser guardados sem exteriorizações, até o momento exato em que seu compartilhamento social mais soma do que subtrai. Se o ministro de uma economia que anda feia e largada, capenga e descabelada, exploradora de sua própria gente, recolonizada, se esse ministro não tem coisa mais útil com que preencher o tempo de sua fala num evento público, é natural que despeje sobre a plateia uma brincadeira sobre quem é feio ou bonito, sobre quem é inteligente ou burro, sobre quem presta ou não presta, sobre quem é comunista ou não é. Esses são os tempos que vivemos, o de preencher vazios mentais com meteorismos verbais. E nem se diga que o resultado não seja palatável a um público sedento por reafirmações de nossa bravura pátria.
Como disse, D. Pedro, o Primeiro, também era chegado a extremos, inclusive os de belos e perigosos regaços. Não há por que patrulhar o arroubo verbal, mas sua consequência fática e histórica. Se o arroubo de Pedro nos produziu uma bela briga pela independência, é claro que valeu a pena a explosão dele às margens do riacho. Bem entendido, as palavras de Pedro eram para valer, o que fez dele um personagem central na nossa história, alguém que gerações sucessivas respeitam. (Esse mesmo Pedro, guerreiro como era, retornou a Portugal para liberar a terrinha de um irmão absolutista que não respeitava a Constituição). A conclusão é que a palavra incontida, na boca de um governante, só faz sentido se for séria, não apenas uma brincadeira. O Brasil não está, e nunca esteve, para brincadeiras. Já brincamos e improvisamos demais. Dom Pedro jamais pediu desculpas por seu “independência ou morte”. Dom Pedro, diríamos, fez bonito. Hoje, fazemos feio.
* presidiu a Academia Internacional de Direito e Economia. Autor de vários livros, inclusive o best seller Mito do governo grátis