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Com a palavra, o presidente

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Não é a primeira vez que se fere o assunto, provavelmente nem será a última. Fala-se do modelo de comunicação que o presidente Bolsonaro vem adotando, às vezes incisivo, em outras preferindo a ironia ou com escassa paciência com a impertinência das perguntas. Mas sempre polêmico, como confirmam os desdobramentos imediatos que suas declarações ganham na opinião pública. Observadores mais atentos têm optado por admitir que ele adota linguagem que pretende ser simpática ao seu eleitorado; o que, segundo pesquisas, estaria esbarrando a casa dos 33%, primeiro passo para lançar-se ao projeto da reeleição. Pode ser. Como também pode ser que o tratamento conferido a assuntos mais sérios acabe por ampliar espaço para seus adversários.


Tal como Trump, que tem sua admiração, o presidente parece nem levar em conta se o discurso é do agrado da maioria, porque o mais importante é acreditar na conversa do velho e famoso irlandês, Oscar Wilde: a única coisa pior do que falarem de você é não falarem de você; o que, numa versão tupiniquim, seria: falem mal, mas falem de mim.


O presidente tem se divertido com temas os mais variados, sem que se saiba quando fala sério ou se joga para a plateia. Ora investe-se do papel de organizador de tráfego e trânsito, para concluir que é dispensável a fiscalização eletrônica nas rodovias de um país em que mais se abusa da velocidade e mais exalta a imprudência. Também não vê razão de escolas destinadas a habilitar motoristas, sem que especialistas e os próprios órgãos governamentais se pronunciem sobre matérias que tratam da vida de profissionais e usuários. Não fica um dia sem ocupar a mídia com assuntos de discutida prioridade, ou corriqueiros ou polêmicos, familiares ou ideológicos. Parece preferir a compulsão de estar onipresente no cotidiano do brasileiro comum. 

Seja como for, com ou sem estilo, há uma grande massa consciente da sociedade esperando que, não se satisfaça apenas com a palavra de seus ministros, mas ele próprio eleja como prioridade do governo e de seu discurso temas que vieram das promessas de campanha, entre as quais duas são relevantes e falam diretamente aos interesses nacionais: a geração de empregos e uma política realmente eficaz para combater a violência urbana, o que seguramente não se obterá apenas pela via da liberação de armas. São questões que revelariam maior apreço aos valores democráticos e republicanos.


Passados os primeiros sete meses desse novo governo, se há algumas dúvidas sobre o futuro imediato do Brasil, uma delas é exatamente o que almeja o presidente com o modelo que adotou e vem ampliando diariamente para falar ao povo. O que realmente ele pretende? Estaria cumprindo tática de sua assessoria de marketing? Ou apressa-se para compensar uma carreira política em que, por quase trinta anos no Congresso, raramente era alvo de holofotes da mídia? Ou seria mesmo um jeito de surpreendentes improvisações para tratar de coisas que a população precisa saber? Nem faltam entre os que pretendem ver e entender no capitão e deputado que chegou à presidência o desejo consciente de adotar o jeitão do colega Trump, este também apreciador das polêmicas, mesmo longe do agrado geral. Pode ser um pouco de cada coisa, cujas consequências o tempo se encarregará de medir e avaliar.