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Partidos em fase crítica

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Recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral reprovou relatórios de contas de vários partidos, não apenas os pequenos, sempre desorganizados, mas feriu igualmente alguns com destacada importância na vida política do país. Demonstrações suspeitas, insuficiente comprovação de despesas e esse violentado fundo de recursos para campanhas eleitorais. Não há novidade nisso, até porque raros são os dirigentes que temem a mão da Justiça.

O que contribui para despertar atenção é que as repreendas vêm se juntar a razões outras que estão a recomendar aos partidos o espírito de contrição e o reconhecimento de erros e tropeços em sua história mais recente. Ou as frustrações, como as que vieram com as eleições de outubro passado, quando eles sucumbiram, total ou parcialmente, diante do eleitorado. Fenômeno claramente demostrado na ascensão meteórica do até então modesto PSL, ao qual bastou apenas uma campanha eivada de radicalismos para ganhar a presidência da República e significativa expressão parlamentar.

A quem a culpa, se mérito não havia a ser creditar àquele principiante? Na verdade, antes de tudo e de todos, as siglas tradicionais, abandonando os programas que haviam prometido, toleraram ou coabitaram com a corrupção que campeou pelos governos. Assim, os grandes têm parte ainda, mesmo que indiretamente, nas primeiras dificuldades do PSL, para cuja vitória contribuíram. Esse é o novato inexperiente, chamado a dar sustentação a um governo que leva às costas graves responsabilidades, como reformar tudo que tem pela frente; e, depois, frente à história política do país, explicar se terá valido a pena saltar da esquerda lulista para a direita bolsonarista.

Contas partidárias 

Falou-se nos desencontros das contas partidárias. Fala-se hoje e se falará por mais algum tempo sobre a carga que pesa nos ombos do partido do presidente, uma espécie de internato onde se matricularam novatos, bem intencionados ou não. O que não é tudo, porque as primeiras semanas de experiência com o governo sinalizam algo que já não devia frequentar a pauta política do país: a crescente radicalização nos meios parlamentares, o que ameaça fazer retornar ao debate um certo modelo de renitências capaz de alimentar dificuldades para o êxito de reformas que Brasil reclama como essenciais. Reformas. Não apenas a Previdência, mas também a política, a fiscal, a bancária, ao lado de um novo pacto federativo. Intolerâncias radicalizadas nesse campo são o caminho certo para grandes dificuldades.

Se os radicais tomarem grandes espaços e chegarem a adotar receitas obstrucionistas para dificultar a discussão e tramitação de reformas, mesmo sabendo serem necessárias, o ambiente político certamente poderia se ressentir da ausência de vozes capazes de se oporem aos extremos; um ou alguns partidos de centro, com suficiente vigor para conter excessos e propor alternativas isentas de paixões exageradas. À primeira lembrança, ocorre citar os recém-derrotados PSDB e MDB, que já incorporaram ao seu modelo alguns aspectos que os credenciariam a esse papel. A eles, ainda como recorrência natural, se ligaria o DEM; mas este ganhou expressão num governo declaradamente direitista, o que o discrimina para tarefas de intermediação.

Restaria aos velhos tucanos e emedebistas o encargo do centro, se puderem se reorganizar, fazer as pazes com o eleitorado, abandonar vícios calejados e sarar feridas deixada pelo passado. Não é fácil. Mas o que custa tentar?