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Governar não é fácil

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O presidente Jair Messias Bolsonaro, que na vida militar apenas ascendeu ao posto de capitão, portanto sem ter participado de grandes discussões sobre a conjuntura nacional e a logística do Exército, que são próprias dos generais de brigada, de divisão ou de Exército, assim como na Câmara foi um deputado discreto, sem participar de grandes comissões ou com projetos marcantes apresentados e aprovados, acaba de reconhecer: não estava preparado para ser presidente, emendando que “governar não é fácil”.

É melhor a humildade que a soberba. Fernando Collor, que assumiu um perfil imperial no cargo, onde fez o confisco da poupança, em 1990, que só agora está sendo devolvido aos seus donos os herdeiros (sim, muita gente morreu sem ver a cor do dinheiro poupado durante uma vida) também reconheceu, fora do poder, que não estava preparado para assumir a Presidência da República em 1990. Seu adversário da época, Luís Inácio Lula da Silva, também disse, já presidente, reeleito, em 2006, que não estava à altura do cargo em 1989.

Os mais velhos devem lembrar que Lula tirou Leonel Brizola, do PDT, três vezes governador (uma do Rio Grande do Sul e duas do Rio de Janeiro) por pouco mais de 300 mil votos na reta final do segundo turno em 1989. Brizola, sabedor da inexperiência administrativa de Lula e captando a rejeição do eleitorado às forças mais à esquerda, sugeriu que Lula renunciasse em favor de um candidato capaz de cooptar o eleitor de centro, como o ex-governador Mário Covas, do PSDB-SP, o 4º colocado na rodada inicial das primeiras eleições diretas do país, após a redemocratização.

Com certa soberba, Fernando Henrique Cardoso, que venceu Lula em 1994 e 1998 no 1º turno, jactou-se, no começo do 1º mandato que “governar o país era muito fácil”. Se arrependeu amargamente da frase, uma bazófia semelhante ao seu grande vexame de ter posado de prefeito eleito de São Paulo, para reportagem de capa de uma revista antes do pleito. Perdeu e o primeiro gesto do histriônico Jânio Quadros foi passar um spray inseticida na cadeira que ocuparia por quatro anos. FHC despertou logo a ira de velhos caciques políticos, como o ex-presidente José Sarney e ACM, teve de fazer imensas concessões para reduzir o mandato de cinco para quatro anos, em troca da emenda da reeleição e deu com os burros n´água no 2º mandato, levando à ascensão de Lula e do PT.

A reação ao PT foi o grande motor da eleição de Bolsonaro, cujo índice de popularidade cai pela indiferença dos anti petistas que o sufragaram com nariz torcido, apostando na velha prática “dos males o menor”. Bolsonaro ainda terá longos 1.360 dias para aprender a governar ou amaldiçoar a sua sina. Se fizer como Figueiredo, que ficou amofinado com pouco mais de um ano de mandato e depois amargurado e sem comando após o atentado do RioCentro, pior para o país.

É melhor que aprenda que governo não é agir de modo imperial, mas sim negociar e fazer articulação política. Isso é política, e vem desde as tribos, embora tenha sido aperfeiçoada pelos gregos e romanos na cultura ocidental. Se desejar que seus projetos de governo tenham mais sucesso que suas emendas parlamentares, deve ficar mais humilde e negociar. O craque do time ministerial não pode entrar em campo a qualquer momento. Só nas grandes ocasiões. Pelé e Zico raramente atuaram como capitães do time. Eram outros que se expunham. O filósofo do futebol, na época bem mais famoso que o então tarólogo e astrólogo Olavo de Carvalho, Neném Prancha, dizia que “pênalti é tão importante que devia ser batido pelo presidente do clube. De terno e gravata. Pois é a função de Bolsonaro nas reformas, a começar pela previdência.

Jogaram Paulo Guedes na cova dos leões, ou melhor, dos “tigrões”. Paulo Rabello de Castro já escreveu ontem aqui sobre o episódio das ofensas que levou Guedes a devolver “o tchutchuca é a mãe, a avó, a PQP” à provocação do deputado Zeca Dirceu, do PT. Lembro da indignação de minha avó paterna, Alice, quando o meu tio, Deputado Menezes Côrtes, que morreu em queda de avião indo para Brasília, em novembro de 1962, reeleito pela UDN , mas ainda no 1º mandato no qual era o líder na Câmara, era fustigado por adversários do PTB ou do PSD.

Na época, até para xingar havia cerimônia. Não me esqueço que em um determinado aparte concedido um deputado começava assim. “O nobre colega me permite o aparte?” “Pois não, nobre colega”. “Pois eu queria dizer, em relação à sua posição, que vossa senhoria é um FDP”. Minha avó subia pelas tamancas. Paulo Guedes que reforce as suas defesas parlamentares, Por enquanto é só o aquecimento. Quando o jogo começar, se o presidente Bolsonaro não entrar em campo - acertando o passo em vez de bisar Janio Quadros, como ironizou o genial Miguel Paiva esta semana -, não negociar com os partidos e as principais lideranças, serão chutes na canela, carrinhos por trás, cusparadas e cotoveladas. Te cuida Paulo Guedes.