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Cem dias com ele

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A infeliz “Ordem do dia” sobre o 31 de março, mais do querer tentar mudar a História sobre o golpe militar de 1º de abril de 1964, alcançou um intento secreto: usar o passado para desviar as atenções sobre o presente – que é o atingimento de 100 dias de governo Jair Bolsonaro - e o futuro – que é o destino do Brasil nesta quadra de quatro anos.

Em vez de os políticos, os analistas e a imprensa estarem debruçados sobre a análise do que fez até agora o governo eleito com 55% dos votos válidos no 2º turno, discute-se o passado e briguinhas no Congresso que não levam a nada, muito menos quando as escaramuças escorregam pelas redes sociais e atiçam o fogo cruzado e o fogo amigo.

O mercado financeiro, que “comprou” a futuro (em agosto-setembro de 2018) a candidatura Bolsonaro, confiando que o “posto Ipiranga“ entregaria combustível da melhor qualidade até o fim do primeiro semestre de 2019, andou tendo sustos esta semana. Muitos estão se sentindo como se a entrega da gasolina comprada adiantada no “Posto Ipiranga” estivesse sendo feita por um dos diversos postos de bandeira branca (ou pirata) da Baixada Fluminense, que vendem combustíveis adulterados e são sistematicamente fechados pela ANP.

A decepção na Bolsa de Valores foi grande. Há duas semanas, Jair Bolsonaro comemorou numa terça-feira, nos Estados Unidos, que o índice Bovespa tinha passado dos 100 mil pontos. No mesmo dia à tarde, recuou e desceu a ladeira. Março fechou com 95.414 pontos, uma alta de 1,09% na sexta-feira, mas com queda de 0,18% no mês. Uma decepção. Que nem os bons resultados dos leilões de portos, aeroportos e a ferrovia Norte-Sul apagaram.

Economistas como André Lara Resende falam que o mercado financeiro está fazendo apostas como se a economia estivesse rodando na faixa de 4%. Mas o PIB brasileira anda rateando na faixa de 1%. O desemprego voltou a crescer. As medidas modernizadoras ultraliberais na economia e retrógradas nos costumes andam erráticas. Crescendo mesmo, só os juros e os lucros dos bancos. Como sempre.

André Lara Resende, mais uma vez, observa que uma das causas da estagnação da economia brasileira estaria na cobrança de juros reais astronômicos. Bingo. Bingo também (aqui com uma pitada de esperança) nas primeiras avaliações do novo presidente do Banco Central. Roberto Campos Neto considera que os juros bancários no Brasil estão altíssimos. Fora do lugar.

Indecentes digo eu. Vocês sabem qual o juro cobrado pela Crefisa (patrocinadora do Palmeiras) que tem uma loura que bate à porta de um endividado oferecendo crédito? Se segurem na cadeira: 917,55% ao ano, conforme a pesquisa do Banco Central de 11 a 15 de março, no crédito pessoal não consignado! Isso não te lembra os velhos ‘anúncios’ das Organizações Tabajaras, tipo “Seus problemas acabaram”. Nas anedotas, as louras costumam levar homens à ruína. É o caso...

Mas os problemas do governo Bolsonaro e do país estão apenas começando. Por ora, é um desentrosamento geral. A ala militar dança coesa; a ala civil, é uma barata voa. A começar pelo MEC, cujo propósito do ministro alienígena Vélez Rodriguez é desmontar o pouco que funciona regularmente para desmontar a Educação no Brasil. Querer apagar Paulo Freire, Anísio Teixeira e tanto educadores serve a que propósitos?

O governo Bolsonaro parece querer adotar o slogan da bandeira da Paraíba: Nego. O ministro do Meio Ambiente nega Chico Mendes, o da Educação nega a escola e os educadores; a da Família nega a realidade das novas famílias; o da Casa Civil nega a articulação política, que deveria ser seu métier, já que é deputado. Não cabe ao ministro da Economia, que é franco por natureza e, às vezes rude, fazer a negociação política, pois é quem tem a chave do cofre. Depois de Bolsonaro negar a história.

São desconcertantes para a diplomacia do Barão do Rio Branco as demonstrações de servilismo aos Estados Unidos de Trump e à Israel de Nethanianu.

Por tudo isso, não espanta que a popularidade presidencial tenha “caído” e se revelado das mais baixas em início de governo. Os 34% que acham bom e ótimo o governo são realmente fãs do presidente. Jair Bolsonaro não pode se iludir. Os 55% das urnas não eram dele. Boa parte, na reta final entre ele e o candidato do PT, Fernando Haddad, era de votos anti-PT.

Da mesma forma que na era Lula quando os votos em Luiz Inácio Lula da Silva transcendiam a votação do PT (que sempre caía nas eleições não proporcionais, como as municipais). O fenômeno durou e elegeu o ‘poste’ Dilma, em 2910 e, garantiu sua reeleição, em 2014, mas sofreu fadiga de material e rejeição extrema.

Bolsonaro que se cuide e trate de governar e fazer articulação política, em vez de desagregação pelas redes sociais. Ainda restam 1.360 dias de governo, se desejar levar o seu mandato até 31 de dezembro de 2022.